♪ Cante-me uma canção de uma jovem que se foi
Diga, poderia essa jovem ser eu? ♪
Diga, poderia essa jovem ser eu? ♪
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Fugindo da massiva onda de comentários sobre A Culpa das Estrelas, procrastinei ao máximo possível sua leitura, até que a fiz pouco depois da adaptação ser lançada nos cinemas. Quando fiquei sabendo de Se Eu Ficar, imaginei que não seria diferente, o livro tem qualidades muito semelhantes àquele, inclusive um aguardado filme homônimo. Porém, ao invés de esperar pela leitura, aproveitei a parceria com a Novo Conceito e experienciei a realidade catastrófica de Gayle Forman guiado pela curiosidade - e que grata surpresa.
Hoje de manhã, saí com a minha família para um passeio de carro. E agora estou aqui, mais sozinha do que nunca.
Depois do acidente, Mia ainda consegue ouvir a música. Ela vê seu corpo ser retirado dos destroços do carro de seus pais – mas não sente nada. Tudo o que ela pode fazer é assistir ao esforço dos médicos e enfermeiras para salvar sua vida, enquanto seus amigos e parentes aguardam na sala de espera... E o seu amor luta para ficar perto dela. Pelas próximas 24 horas, Mia precisa compreender o que aconteceu antes e depois da tragédia. E no fundo, também sabe que precisa fazer a escolha mais difícil de todas.
Não estou certa de que este é o mundo ao qual pertenço. Não tenho certeza se quero acordar.
A escrita de Forman é o contraponto de leveza à temática da história. Fluida, funcionou extremamente bem com o uso sequencial dos flashbacks, com os quais podemos conhecer quem de fato é Mia e todos a sua volta. Apesar de narrar sentimentalismos inerentes ao trajeto do enredo, a autora não se perde e mesmo nesses momentos não há tédio. Ela deixa claro de modo rápido de onde quer partir - as promessas da sinopse se cumprem nas primeiras páginas - e em qual lugar deseja chegar com o que escreve, desenvolvendo exemplarmente os personagens sem perder a determinação semântica. O emocional se faz presente na medida certa, me impressionando no quanto esse livro foi bem escrito.
[...] na terceira série, me deparei com o violoncelo durante as aulas de música e ele me pareceu mais humano. Parecia que, ao tocá-lo, ele lhe contaria segredos, então não hesitei.
Dessa forma, os flashbacks são quase um personagem a ser destacado. Gayle os utilizou para basear absolutamente tudo que desejou contar sem divagar, descrever demais, tampouco esconder o verdadeiro motivo de seu uso frequente. É uma escrita sincera, que se desfruta com o vai-e-vem do passado e presente, constantemente discutindo o futuro. Creio que, à proposta de um young adult/sick-lit, a construção afetiva de, em questão de segundos, ser a última pessoa viva de sua família foi eficiente e abre portas a um interesse posterior do leitor por tragédias mais complexas.
Precisava estar em algum outro lugar onde as pessoas não estariam tristes, onde a preocupação fosse a vida, não a morte.
Mia é mais uma protagonista bem equilibrada entre os lados ficcional e humano necessários ao contexto proposto. Apesar de muitas de suas reações soarem situacionalmente coerentes, não me parece tanto alguém que o leitor possa (re)conhecer em sua rotina. Não senti conexão nesse sentido. E digo "soarem", porque vejo um julgamento de credibilidade à ela cabível apenas a alguém que sofreu nas mesmas condições. Afinal, não perdi toda minha família em acidente de carro de uma hora para outra e caí em coma, negociando com a vida - logo, como poderia analisar sua coesão detalhadamente? Em minhas limitadas habilidades como resenhista, sinto em não saber a resposta.
Tenho dezessete anos. As coisas não deveriam ter acontecido dessa forma. Não é isso que deveria ter acontecido com a minha vida.
Embora esse estado possa ser empregado em praticamente qualquer livro atual - eu não sobrevivi aos Jogos Vorazes, mas pude criticar Katniss -, há algo estranho na realidade palpável de Forman que me impede de tal: a possibilidade constante da perda de quem você ama. Ela desconstrói, pelo menos momentamente, qualquer ideia de segurança que o ledor sonhe em estar. Não posso julgar Mia inteiramente porque eu consegui me pensar em seu lugar. Assim, não encontro produtividade em detalhar suas outras características, coadjuvantes e relacionamento amoroso, visto que é a desgraça que a move e ao livro como um todo.
Então, me inscrevi, juntei cartas de recomendação e enviei uma gravação. Não contei nada disso para Adam. Disse a mim mesma que não havia o menor motivo para alardes, já que a chance de conseguir uma audição era minúscula. Mas, mesmo assim, reconheci que aquilo era uma mentira. Uma pequena parte de mim sentia que o simples fato de me inscrever fosse um tipo de traição. Juilliard era em Nova York. E Adam estava aqui.
Não obstante, alguns problemas de revisão são perceptíveis, tanto em estruturas frasais específicas, quanto uma falta de padrão na tradução de termos, como nomes de livros - uns adaptados, outros não. Espero que a pressa em lançar e promover obras no embalo de suas aparições nas telonas não implique usualmente em uma correção não-tão compromissada com a excelência. A diagramação da Novo Conceito raramente falha na qualidade, porém não vou entrar no dilema das capas. Há bastante respiração entre o texto e o fim das páginas e a tipografia auxilia a vontade de continuar o texto.
— Só acho que os funerais são como a própria morte. Você pode ter os seus desejos e planos, mas, no final das contas, nada está sob o seu controle.
— Nada disso [...] Não se você compartilhar os seus desejos com as pessoas certas.
Através de uma leitura fluente, uma protagonista ramificada de um jeito crível e uma prosa que pede interrupções pelas tristezas sobrepostas, Se Eu Ficar se consagrou funcional, bem escrito e deliciosamente capaz de ser lido. Se antes eu me preocupava com a necessidade duvidosa de uma continuação, agora penso que é um pensamento ainda mais válido. Gosto especialmente de como terminou e não sei dizer se lerei as obras seguintes. Se Mia pode escolher entre ir e ficar, acredito que nós também tenhamos alternativas nesse aspecto. E se você optou por ficar até aqui: leia.
Quero dizer [...] que, às vezes, não temos escolha.
Título: Se Eu Ficar.
Autor: Gayle Forman.
Editora: Novo Conceito.
Número de Páginas: 224.
Tradução: Amanda Moura.
Muito bem escrita sua resenha Caíque! Terminei ontem esse livro e ainda estou indecidida quanto a minhas considerações, acho que apesar de ter gostado não o fiz de forma tão enfática como você.... Tive dificuldade em me identificar com a questão da música, e de realmente entender como Mia se sentia em relação a isso. Mas gostei de ver sua visão do livro
ResponderExcluirCamila
Oi, Camila!
ResponderExcluirFico mais que feliz que tenha gostado da resenha. Compreendo o que quis dizer sobre a questão da música, mas, de alguma forma,consegui pegar o que a autora queria construir com essa parte também - certas vezes, bem menos que o esperado. Ainda assim, acho que se ela explicasse mais a relação de Mia com a dita cuja, poderia se tornar enfadonho ou perder o caminho de criar uma identidade à protagonista. Ao meu ver, ela pode falar disso no limite de ficar, bem, chato. Enfim, espero que volte sempre que puder com seus pareces por aqui. Obrigado por comentar, um abraço (: