[Resenha] James Patterson e Maxine Paetro - 4 de Julho

Acusada pelo culpado, vítima do psicopata.

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Sinopse: Lindsay Boxer é uma policial exemplar, chefe do Departamento de Homicídios da Polícia de São Francisco. Ao fim de um cansativo dia de trabalho, Lindsay se encontra com Claire Washburn e Cindy Thomas num bar; juntas compõem o Clube das Mulheres contra o Crime, grupo que tenta solucionar os casos ocorridos na cidade. Após alguns drinques, a tenente recebe uma ligação do inspetor Warren Jacobi, que acaba de localizar um veículo suspeito, visto na cena de um crime. Em poucos minutos Lindsay está no carro de Jacobi, cruzando a cidade na cola de um Mercedes preto. Depois de uma longa perseguição, a abordagem policial acaba fugindo do controle. Os dois adolescentes que estavam no carro reagem, descarregando suas armas contra a dupla de policiais. A tenente atira em legítima defesa, mas o resultado é uma menina morta e um garoto tetraplégico. Lindsay é acusada, entre outras coisas, de má conduta profissional e se vê num lugar que nunca imaginaria ocupar: o banco dos réus. A jovem advogada Yuki Castellano conseguirá provar a inocência da tenente? Enquanto aguarda o julgamento, Lindsay decide passar uma temporada em Half Moon Bay, mas a pacata cidade vem sendo palco de crimes brutais e a polícia parece não fazer nada. Mesmo de licença e fora de sua jurisdição, a tenente resolve investigar os assassinatos, com a ajuda de Claire e Cindy. Para sua surpresa, ela encontra ligações entre aquelas mortes e um caso ocorrido 10 anos antes, que ainda é uma mancha em sua carreira.

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O Investigador sacou a faca e levantou a cabeça dele por uma mecha dos cabelos grisalhos. Como se estivesse cortando um melão, abriu um talho na garganta do homem.

Como um bom aficionado por séries de TV, as do gênero Policial não me passaram desapercebidas, apesar de não fazerem parte de minhas preferências.  Ler uma obra do mesmo cunho sempre foi um receio, porém aceitei o desafio ao embarcar na experiência que é essa escrita conjunta cedido por nossa parceira, a Editora Arqueiro. Tudo que me atrai em Law & Order sendo trabalhado de maneira a nos deixar com os olhos grudados nas páginas.

Minha cabeça estava a mil quando Jacobi encostou nosso carro em frente ao Lorenzo, um pulgueiro que cobrava por hora apesar de ter a palavra hotel pintada na porta. Estávamos no Tenderloin District de São Francisco, uma área da cidade tão sinistra que nem o sol tinha coragem de atravessar a rua.

Os românticos de plantão podem não apreciar tanto a objetividade do texto; mesmo com as relações interpessoais serem desenvolvidas, essas não chegam a ser o foco principal. A trama rápida destaca-se exatamente por sua agilidade nos acontecimentos, sem quaisquer delongas, cativando o leitor por estímulos que o levam a tornar a continuar com a história, tamanha a curiosidade de saber o que irá ocorrer em seguida. Os capítulos curtos - a maioria dura uma ou duas laudas - motivam essa ininterrupção, que se revela fácil e instigante.

Um rosto escuro entrou em foco, emoldurado por um enorme halo branco.
- Fada Açucarada do Quebra-Nozes? [...]
- Já me chamaram de coisas piores. [...]

Usando de uma prática cada vez mais comum no meio literário, o livro faz parte de uma série de volumes independentes, logo não há dificuldade alguma em apreciar qualquer um deles sem ter lido os publicados anteriormente. James e Maxine foram felizes em aproveitar essa liberdade para deixar referências anáforas às obras antecessoras; a um passado desconhecido para tais leitores - como eu! - que acaba sugerindo a leitura dos outros a fim de conhecer o que aquela partícula da narrativa realmente significa. Uma técnica que não chega a confundir o leitor, mas o induz a querer mais e mais do que o autor pode oferecer.

- Não foi bem assim, Jacobi. [...]
- Não tem desculpa.
- Agimos certo, parceiro. Fizemos o que o coração mandou.
- Coração? Da próxima vez, menos coração e mais cérebro.

Essa tensão constantes dos filmes e séries policiais é presente, como se afirmasse a todo momento o motivo de cada coisa estar em seu devido lugar. A troca de pontos de vista entre a protagonista e o antagonista dimensiona o enredo, que além de apresentar dois plots deliciosamente esmiuçados, não se priva a introduzir somente um lado da verdade. Adentrar novamente no consciente deturpado de um(a) psicopata remete-me a "Ecos da Morte", onde há esse mecanismo de alternância. Faz qualquer um permanecer de olhos bem atentos a estranhezas gerais no seu campo de visão.

Mas depois vinha a manhã seguinte e Joe ia embora para Washington, sem eu saber quando o veria de novo ou se me sentiria tão bem novamente.
Dizem que o amor nos encontra quando estamos prontos para ele.
Eu estava pronta?

Por vezes, os autores insistem em criar uma afeição entre nós e a protagonista, dando ênfase em seu interior de medos, incertezas e carências. Não é frequente, contudo é um dos poucos defeitos que a obra possui. A comum diagramação do Grupo Sextante não oferece uma página exclusiva para o início de cada capítulo, eles terminam e logo abaixo começa o sucessor. Talvez aparente ser uma "sujeira" editorial desnecessária, contudo trata-se de uma adaptação de quem lê; já que não interfere no andamento do enredo e motiva a continuação da leitura. Se é um corte de gastos que influencia no barateamento do preço dos lançamentos, eu aprovo.

Em seguida, o Guardião usou o cinto como um chicote para esfolar as nádegas [...], deixando marcas escuras na pele fina e branca.
- Então, gostou? - perguntou, ofegando sobre o homem que agonizava.

Não são todos os personagens que foram bem desenvolvidos, porém cada um tem uma participação necessária, desde rolar na lama a oferecer prazer sexual. Através de um conteúdo imersor que cumpre o dever de entreter,  prender e viciar, "4 de Julho" consagra-se como uma das minhas leituras mais interessantes e surpreendentes desse ano.  A diversão de desconfiar de todos que podem ser os assassinos é irresistível, assim como torcer pela policial nas injustiças e contratempos tão verossímiles que enfrenta. A história veemente nos espanta positivamente com seu estilo direto, perspicaz e inesperado. Quero mais o quanto antes.

Juro que ouvi Yuki Castellano sussurrar ao meu ouvido: Tente relaxar. Procure ficar na sua.
Relaxar? Ficar na minha? Talvez numa próxima vida.
Pisei no acelerador e ganhei as ruas.

Título: 4 de Julho.

Autores: James Patterson e Maxine Paetro.

Editora: Arqueiro.

Número de Páginas: 207.
Tradução: Marcelo Mendes.