[Resenha] J. K. Rowling - Harry Potter e o Enigma do Príncipe

Antes de mais nada, quero que vocês tenham algumas coisas em mente enquanto leem essa resenha: a) esse foi o primeiro livro de ficção fantasiosa que li na minha vida; b) não quero me prender à história (que todos já devem conhecer), mas sim às impressões que o livro causou a um amante dos livros baseados em fatos reais; e c) peço que todos aqueles que já leram esse livro continuem a ler o post até o fim. Obrigado e mãos à obra.

Esse ano, eu estabeleci como meta questionar cinco amigos sobre livros que tenham sido especiais para cada um deles e ler esses livros. A primeira indicação veio da Karina (que vai comentar nesse post): Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Imaginem a minha cara quando descobri que teria de me aventurar em um terreno que não me é familiar: o da ficção fantasiosa, das bruxas, dos feitiços, dos elfos e das demais criaturas mágicas. De qualquer forma, promessa é dívida, e eu me dediquei a ler o livro.

J. K. Rowling.

Embora eu não tivesse lido nenhum dos cinco livros anteriores, eu havia visto os cinco filmes. Isso me deu uma base teórica suficiente para compreender quase todas as referências da sexta obra, embora alguns fatos fossem completamente desconhecidos por mim - até porque dizem que os produtores cortaram muita coisa nos filmes. Só recomendo que vocês não imitem o maluco do dono deste blog e comecem a ler desde o primeiro livro.

Bom, o que todo mundo sabe: Harry Potter e o Enigma do Príncipe conta a história do sexto ano de Harry em Hogwarts, ano no qual ele passa a ser conhecido, por influência das palavras dos jornais mágicos e de uma profecia que recentemente se tornara muito famosa, como "O Eleito". No que tange às aulas, não há nada que eu queira destacar; talvez alguns achem importantíssimo citar o livro de poções que cai nas mãos de Harry ou a aparição do exótico professor Slughorn, mas creio eu que o grande mérito do livro mora em um outro ponto: o novo prisma sob o qual é analisado Lord Voldemort, o famoso e temido bruxo das trevas.

J. K. Rowling faz uma espécie de jogada psicológica e transporta seus leitores ávidos ao passado, à infância e à adolescência de Tom Riddle, o garoto que cresceria para se tornar o mais terrível bruxo das trevas de todos os tempos. A autora mostra um jovem órfão, tímido, mas que já mostrava traços de fixação pela crueldade e pelo poder. Harry e Dumbledore visitam as memórias de pessoas que conviveram com Tom Riddle em seus primeiros anos de vida, conhecendo pouco a pouco a mente ardilosa do bruxo e unindo as peças do quebra-cabeça da vida do rapaz. Abaixo, um trecho da conversa entre Alvo Dumbledore e a encarregada pelo orfanato no qual Tom Riddle passou sua infância.

- Ele assusta as outras crianças.

- Você acha que ele está perturbado? - perguntou Dumbledore.

- Eu acho que ele deva estar - disse Sra. Cole, sendo ligeiramente carrancuda - Mas é muito difícil pegá-lo no ato. Houve incidentes... Coisas sórdidas...

Dumbledore não a pressionou, embora Harry pudesse jurar que ele estava interessado. Ela ainda bebeu outro gole de Gim e as bochechas dela ficaram ainda mais róseas.
- O coelho de Billy Stubbs... Bem, o Tom disse que ele não fez isto e eu não vejo como ele pôde fazer, mas mesmo assim, o coelho não se pendurou nas vigas, se pendurou?

Não que você deva sentir pena de Lord Voldemort após uma viagem por sua vida - ao menos não me parece que foi esse o objetivo do autora. Mas Harry Potter e o Enigma do Príncipe é, sem dúvida, dedicado quase que exclusivamente a mostrar o lento fluir da maldade pelas veias de Tom Riddle, a confusão de circunstâncias enfrentadas pelo garoto, os primeiros sinais de um futuro assustadoramente promissor. Em outras palavras, é um livro dedicado a humanizar Voldemort.

Tom Riddle, no filme,
aos 16 anos.

E é justamente por esse viés "psicológico" que o livro me atraiu. Confesso abertamente que a batalha em Hogwarts, ao fim da obra, não me chamou a atenção, embora eu tenha me impressionado bastante com o círculo de fogo criado por Dumbledore alguns capítulos antes. Eu também costumava idealizar os Comensais da Morte, os "protetores" de Voldemort, como uma série de guerreiros fortes e indestrutíveis: o livro me provou o contrário. Alguns Comensais morrem com demasiada facilidade durante a batalha no castelo, o que me decepcionou bastante. Também achei que a briga entre Rony e Hermione foi desnecessariamente longa, mas isso é minha opinião.

E não posso deixar de admirar o modo como a autora finalizou o livro: eu realmente quero ler o sétimo volume para descobrir quem roubou a Horcruxe verdadeira de Voldemort, assim como também me interessa o futuro de Hogwarts. No final das contas, embora peque em alguns aspectos - a meu ver -, julgo Harry Potter e o Enigma do Príncipe uma ótima experiência para quem não tem familiaridade com a ficção fantasiosa - desde que tenha a base teórica suficiente para compreender as referências do livro. Ah, e também quero destacar que a linguagem do livro, que presumi ser boba e infantil, me surpreendeu um pouco. Palmas à J. K. Rowling por perceber que seus leitores mudam com o passar dos anos e precisam de construções e palavras um pouco mais... maduras.

Título: Harry Potter e o Enigma do Príncipe.

Autor: J. K. Rowling.

Editora: Rocco

Número de Páginas: 510.

Minha avaliação: 4 de 5.