"Se nós queimarmos, você queimará conosco."
Do brasão em forma de tordo às rosas brancas, a principal temática de A Esperança - Parte 1 foi a importância dos símbolos. Katniss incorpora o papel do "Tordo", uma força poderosa contra a tirania da Capital e do Presidente Snow. O ditador até mesmo menciona a necessidade de destruir os símbolos, por darem significados e poder àquilo que representam.
Vemos hoje em dia a adoção de símbolos da cultura pop em ocasiões tumultuosas. Em 24 de novembro, uma decisão judicial não indiciou Darren Wilson, cujo disparo matou Michael Brown em 9 de agosto, um jovem negro desarmado. Uma frase familiar a todos nós surgiu, então, pintada (foto acima) na arcada da Igreja de São Luís, na cidade de Ferguson — onde todo o incidente aconteceu.
Katniss grita o slogan para Snow e os espectadores da Capital no terceiro filme, uma ameaça e declaração de força. Os manifestantes de Ferguson desejavam, supostamente, divulgar a ferida aberta na comunidade e da chama acesa por lá. Dependendo da interpretação, a frase pode ser lida tal qual uma ameaça, em que violência será combatida com violência (a família Brown pediu que ninguém se envolvesse nisso), ou uma idealização de coletividade. "Nós queimarmos" claramente indica que os protestos e a dor não se restringe ao caso de Michael, mas de toda a comunidade.
Usuários do Tumblr têm usado o site para criar paralelos entre os filmes da franquia e as manifestações em Ferguson - alguns equiparando a situação da cidade no Missouri à nação fictícia de Panem. Olhar para as imagens criadas nessas semelhanças, no que diz respeito aos motins dos distritos no cinema, são difíceis de ignorar.
A simbologia dos Jogos Vorazes trilhou seu próprio caminho até outros movimentos políticos. Na Tailândia, hoje sob um hostil governo militar, forças anti-ditatoriais — em específico a Liga Liberal dos Estudantes da Universidade Thammasat pela Democracia — adotaram a saudação de três dedos do Tordo como um símbolo do movimento. Os militares entendem a ameaça do ato tão seriamente que prenderam oito estudantes fazendo a saudação e adiaram as exibições do longa mais recente.
Símbolos em filmes e livros são fenômenos um tanto hodiernos. Em 2008, o grupo hacker Anonymous elegeu a máscara de Guy Fawkes à sua imagem oficial. A arte foi popularizada pelos quadrinhos convertidos no filme V de Vingança. Contudo, a apropriação de tais ícones e linguagens como um todo não são exatamente uma novidade. Antes de tudo, as histórias e mitologias bíblicas os adotavam para se comunicar e unificar alianças - pense em Davi e Golias.
O ditado "a vida que imita arte, que imita a vida" nos vem à mente. O lançamento assustadoramente cronometrado de A Esperança - Parte 1 proporciona uma rara oportunidade de reflexão. Símbolos da cultura pop fornecem uma linguagem em comum às pessoas, para que se expressem e sejam facilmente adaptadas em prol de sua causa. Independentemente de influenciar no espectro político, tampouco nas questões acima, símbolos importam.
O presente texto é uma tradução livre da postagem ‘If we burn, you burn with us': When symbols move from the screen to the streets, de Mike McCormack ao site Hypable. Todas as informações expostas são de responsabilidade do conteúdo original. As fontes usadas por Mike foram o Tumblr (link e link), The Daily Mail e Business Week. Caso queira reproduzir, credite nossa adaptação.
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