quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

[Resenha] Richelle Mead - O Beijo das Sombras

Vampiros como nunca se viu - e de um jeito bom de se dizer.
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“Nós nunca encontramos com um Strigoi,” eu respondi rigidamente.
“Obviamente,” ele disse com um risinho. “Eu já percebi isso, vendo como você continuava viva.” 
Comecei 2014 em uma tentativa promissora de ler A Menina Que Roubava Livros antes da estreia do filme homônimo, mas principalmente por querer atestar os elogios que tantos conhecidos e amigos tecem acerca da história. Falhei em não conseguir levar a leitura adiante ou mesmo ser cativado por ela - e se tentarei novamente no futuro, é outra história -, então lembrei-me de que o próximo livro debatido no Clube do Livro que frequento seria "O Beijo das Sombras". Como já queria experienciar a escrita da autora há algum tempo, não hesitei em trocar a Alemanha nazista pela Academia St. Vladimir.
Lissa sempre frequentou à missa regularmente. Eu não. Eu tinha um acordo estável com Deus. Concordara em acreditar na existência dele – mal acreditar -, contanto que ele me deixasse dormir até mais tarde aos domingos.
A Academia São Vladimir não é uma escola como outra qualquer; é um esconderijo onde vampiros aprendem a controlar seus poderes e dampiros são treinados para protegê-los. Rose Hathaway é uma dampira - metade vampira, metade humana - que treina para ser a Guardiã de sua melhor amiga Lissa, uma princesa Moroi - uma raça mortal de vampiros que co-existe pacificamente com os humanos e só bebem sangue de doadores, além de possuírem habilidades mágicas relacionadas aos elementos. Do lado oposto da sociedade vampírica existem os Strigoi, sugadores de sangue imortais e cruéis que atacam para matar, se alimentando principalmente de Morois. Há dois anos fugindo, Rose e Lissa agora se veem capturadas quando descobrem que, na verdade, serão levadas de volta à Academia - justamente o lugar onde mais estão em perigo.
Forçar uma criança de cinco anos a soletrar Valisia Dragomir e Rosemarie Hathaway era mais do que cruel, Lissa e eu éramos amigas desde o jardim de infância, quando nossa professora nos colocou em duplas para os exercícios de escrita. E nós teríamos – ou melhor, eu teria – respondido apropriadamente. Eu atirei meu livro na professora e a chamei de fascista bastarda. Eu não sabia o que aquelas palavras significavam, mas eu sabia como acertar um alvo em movimento.
A escrita de Richelle é deliciosamente veloz e simples, livre de vícios que sugiram algum objetivo audacioso ou algo além do que está escrito, surpreendendo-me por várias vezes. Não me via dando o devido crédito à história de vampiros - tema um tanto saturado no mercado editorial - de diversas espécies, o que foi de suma importância para meu deslumbramento. A narração é leve e precisa, levando-me a mergulhar no que foi proposto sem muitas pausas, pois as páginas passavam sem dificuldade com o ritmo ágil, o tom divertido e a sagacidade do clima que a realidade de Academia de Vampiros tem. Uma obra como essa, além de melhorar qualquer imagem mal trabalhada que mantive sobre tais seres na literatura, partiu meu ceticismo sobre si mesma em tantos pedaços quantos alguém poderia contar.
Minha mãe dampira era escocesa – ruiva, com um sotaque ridículo – e me falaram que meu pai Moroi era turco. Essa combinação genética havia me dado uma pele da mesma cor do interior de uma amêndoa, junto com, o que eu gostava de pensar que eram, as características de uma princesa semi-exótica do deserto: grandes olhos escuros e cabelos de um castanho tão escuro que normalmente parecia ser preto. Eu não teria me importado de ter herdado o cabelo ruivo, mas a gente usa o que tem.
A hesitação em transferir inúmeras possibilidades promissoras para um tipo de ensino médio poderia ser um tiro mal dado no escuro, se não contássemos com os personagens que possuímos. Com menos clichês e mais credibilidade no que diz respeito a dilemas sociais, emocionais e os previsíveis que já são a cola de quase todo bom texto para jovens, a grande maioria de figuras conta com participações estratégicas e bem executadas vistas como um todo. A imagem de Lissa é um retrato da essência do livro de que nem tudo é aquilo que parecer ser, quando essa poderia passar por uma donzela indefesa e é, na verdade, uma camada de vias mentalmente perturbadas e poderosas. Rose é outro um primor, a protagonista que você deseja acompanhar do início ao fim por seu caráter corajoso, imprevisível e pouco conservador. É o tipo inconvencional de heroína que não tenta agradar ou cativar o leitor, contudo seu humor irônico e a aversão natural às regras fazem todo o trabalho.
Era irônico que dampiros despertassem tamanho fascínio aqui, porque as delgadas garotas Moroi se pareciam muito as modelos de passarela super-magras tão famosas no mundo humano. A maioria dos humanos nunca poderá alcançar esse “ideal” de magreza, como as garotas Moroi nunca poderão se parecer comigo. Todo mundo queria o que não podia ter.
Assim como minhas expectativas quanto ao texto em geral, não esperava uma profundidade inenarrável em um sobrenatural young adult, entretanto os tópicos discutidos com relação a perdas familiares, depressão juvenil e a idealização da imagem de pessoas públicas soaram verossímeis, logo nada que Mead propôs escapuliu de seu controle - o que dispôs a apresentar, fê-lo corretamente. A mitologia criada é outro ponto sem igual, não me imaginaria comprando a ideia de raças vampiras com relações e características tão particulares entre si, sendo exatamente o que ocorreu. No começo tudo pode parecer exagerado e inventivo, contudo a autora traça o caminho do entendimento de maneira que repercuta naturalmente, sem brechas para longos estranhamentos.
"As maiores e mais poderosas revoluções frequentemente começam em silêncio, escondidas nas sombras." - Ele olhou nos meus olhos. - "Lembre-se disso."
Se houve uma especialidade da qual gostei na escrita de Richelle foi a sensação de estar próximo ao final com tantos nós a serem dados e tudo se conectar de um só jeito ainda com espaço para suscitar surpresas e ganchos à continuação. Apesar disso, não tive impressão de correria nas últimas páginas - situação corriqueira entre leitores - e o mistério bem amarrado acabou ganhando suas devidas explicações. Como li a versão digital da obra, não possuo observações sobre o exemplar impresso, porém atento para o estilo de capa da série - esta é a primeira história de um total de seis, todos já publicados no Brasil - que exibe o rosto dos personagens. Particularmente, prefiro que capas de livros não mostrem o rosto de ninguém - exceto nas que promovem alguma outra mídia, como as de filmes -, todavia não me incomodam quando elas o fazem, não chegam a me ditar o jeito que devo ou não devo imaginar os personagens.
Eu não podia ser a namorada do Mason porque quando eu imaginava alguém me segurando e sussurrando coisas sujas no meu ouvindo, ele tinha um sotaque russo.
O timing é outro ponto forte, porquanto as informações são dispostas de modo a não sobrecarregar quem lê, fatos quase impercebíveis revelam significâncias ousadas no futuro e a trama inteligente prende o ledor por suas incógnitas. A forma como os relacionamentos amorosos são retratados também evitaram que eu rolasse os olhos por várias vezes como costuma acontecer nos trechos que trazem esse tema nos livros da categoria, com a positiva falta de descrições admiradas por parte de Rose. Sua atração física por determinado personagem evidenciava uma explosão de hormônios da adolescência, nada insosso e até bem empregado na narrativa. Em contrapartida, sua obsessão - e digo "sua" pela ausência de pontos de vista de outros Guardiões e dampiros em geral - em proteger a melhor amiga, embora faça parte da própria natureza criada por Mead a tais criaturas, incomoda e ultrapassa os limites da autopreservação; qualidade esta pouco vista no gênero e por algumas vezes, compreendida erroneamente como egoísmo.
- Eu não acho que seja justo a escola me manter afastada das minhas necessidades... religiosas. [...]
- Eu não estava informada de que você tivesse necessidades religiosas.
- Eu encontrei Jesus quando estava fora da escola.
- Sua mãe não é atéia? [...]
- E o meu pai é provavelmente muçulmano. 
Vampiros mortais que precisam de proteção e usam de magia, filhos de vampiros e humanos que precisam protegê-los para perpetuar sua espécie e um inimigo comum que já é praticamente o que estamos acostumados. Eu sei, também pensei o que a maioria dos que lerem isso estarão pensando, mas com engenhosidade, Richelle Mead encontrou um novo meio bem sucedido de se falar sobre o mito dos sanguessugas e de modo destemido o fez, onde mesmo os mais arraigados aos caixões no quarto e às longas capas negras podem dar um voto de confiança. Rápida e divertida, a leitura consegue instigar e prender por seus enigmas, logo evite grandes expectativas e arrisque pelo entretenimento, pela roupagem diferente. Afinal, cada vez mais, somos abraçados por versões, remakes, remodelagens e afins em inúmeras mídias, que se bem feito pergunto-me: por que não?
"[...] Impeça-a antes que eles descubram, antes que eles descubram e a levem embora também. Tire-a daqui. Salve-a de si mesma!"
Título: O Beijo das Sombras.
Autor: Richelle Mead.
Editora: Nova Fronteira.
Número de Páginas: 320.
Tradução: Inês Cardoso.

9 comentários:

  1. Mais uma pessoa apaixonada por Vampire Academy. Eu li a série inteira em uma semana e meia de tão louca que fiquei. E eu achava que não ia gostar, rs.
    Concordo com o que você disse. Os personagens são muito bem construídos, apesar de não gostar da Lissa, e os assuntos abordados são bem desenvolvidos e sérios.


    Beijos,
    Carissa
    www.carissavieira.com

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  2. Olá, Carissa!
    Bom, não sei se "apaixonado" é o termo correto, mas admito que entretive-me bastante com a leitura. Eu realmente a subjulguei e me surpreendi a notar pontos tão diferentes dos quais reparei em outras resenhas do mesmo blogosfera à fora. Obrigado pelo comentário, espero vê-la mais vezes por aqui ;)

    Um beijo!

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  3. Hey, Evellyn! *ba dum tss*
    Como está?

    Nossa, fico grandemente feliz por você ter apreciado a resenha e que a mesma tenha refletido em sua vontade de terminar logo o livro. Depois de Twilight, muita gente criou mesmo essa aversão às novas histórias vampíricas e acho que VA está a disposição de quem deseja mudar essa situação com seu tom leve, inteligente e engraçado.



    Te vejo no Clube no sábado, então. Um beijo e obrigado por comentar por aqui!

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  4. Olá Caique, boa tarde ^^
    Adorei sua resenha! Confesso que não estava muito animada em ler o livro desse mês do clube (mais uma série, sem contar que o tema vampiros não me agrada muito :S), mas agora fiquei curiosa *-* E com muuuita vontade de ler!! Vou procurar a série para ler depois ^-^
    Obrigada pela dica de leitura (e agora já vou ao clube sabendo mais sobre a história *-*)
    Beijinhos e boas leituras.
    Isabelle - http://attraverso-le-pagine.blogspot.com.br/

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  5. Oi Caíque! *-*
    Fico feliz deeemais por você ter lido o livro e conhecido a diva Richelle Mead! Sua resenha me deixou com ainda mais saudade de ler a série e, apesar da lista de livros de parceria, acho que vou pegar o próximo pra devorar, HAHAHA. Não tenho mais o que falar das suas resenhas, são sempre ótimas, com uma linguagem incrível e eu fico perdida passando e passando os parágrafos e lendo as citações <3 (Que fica melhor ainda sendo de AV). Espero que continue na série e curta ainda mais os outros livros da Mead s33.
    E, por fora do assunto, parabéns por ter passado, DE NOVO! Agora somos coleguinhas, HAUHAUHAUHA *-*
    Beeeijo, Nanda
    www.julguepelacapa.blogspot.com

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  6. Poxa, eu que fiquei feliz de conseguir conhecer a escrita de Richelle e planejo, sem dúvidas, prosseguir com a série. Afinal, acho que comprei o vol. 2 há um tempão no Submarino por engano... Parece que ele terá uma utilidade, agora xD Obrigadão por todos os elogios, principalmente sobre a facul, a ficha mal caiu, rsrsrs. Btw, o livro tem citações ótimas e só não selecionei mais por falta de espaço e pelo conteúdo de spoilers que tinham. Um beijão e valeu por comentar sempre por aqui ;-)

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  7. Olá, Isabelle ;D
    Tudo bem?


    Fico mega feliz de ter apreciado a resenha! Como você pode ver, eu tinha curiosidade, porém não muita vontade de lê-lo e acabei me saindo melhor do que imaginava - você deve mesmo dar uma chance, qualquer hora dessas ;)
    Eu que agradeço por deixar sua opinião mais uma vez aqui.


    Nos vemos no clube, um beijo!

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  8. Eu adorei esse livro, a história é muito boa e a escrita da autora faz com que a leitura flua facilmente. Aliás, eu preciso ler o segundo livro logo, haha. Mas pelo que eu vi do trailer do filme, não acho que vá ser muito fiel ao livro. Elas parecem muito patricinhas, algo que no livro não é bem assim.

    xx Carol

    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/ (ex Hangover at 16)

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  9. Oi, Carol

    Quando terminei de lê-lo, a vontade de pegar o segundo foi bem grande (tenho-o por uma compra enganada no Submarino, rsrs), mas me contive.

    Olha, fiquei bem animado com o filme e acho que apenas pelo trailer, ele capta todo o clima sagaz, perigoso e fluido que Richelle criou. Mas isso é apenas uma percepção pelo trailer, a gente só sabe de verdade depois de assistir, não é mesmo?

    Btw, achei bem legal a nova roupagem do blog de vocês, ainda mais a nova identidade. Boa sorte nessa nova fase e contem com o LLM no que estiver ao meu alcance!

    Um beijo :)

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