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Vim observando que as tempestades se arrastavam ao longo da costa, me acompanhando no caminho para a Flórida. A parte ruim da história é que provavelmente era a mesma tempestade que estava me perseguindo.
Às vezes elas faziam isso. E bom nunca era.
Na Bienal de 2011 - sim, ainda estamos nela -, encontrei uma promoção no stand da Editora Underworld onde três livros saíam por R$60. Não refleti muito, resolvi aproveitar e um dos volumes que adquiri foi "Vento Sinistro". Naquele mesmo dia, descobri que sua autora estaria autografando no mesmo lugar e ao conhecê-la e ver o quão simpática e calorosa era, minha vontade de experienciar sua escrita só aumentou. Eis que agora, quase dois anos depois, li e dessa vez, refleti acerca de sua obra. E Rachel me deixou de calças curtas para resenhar um livro com um elemento estranho e desconexo que é muito, muito difícil de explicar.
O fato de eu conseguir controlar o clima - usando a concentração adequada - não impede o clima de se revoltar e decidir me ferrar nos momentos mais inconvenientes.
Joanne Baldwin é uma Fiscal do Clima. Normalmente basta ela fazer um movimento com a mão para domar o mais violento dos climas. Mas agora Joanne está tentando derrotar outro tipo de tempestade: acusações de corrupção e morte. Então ela resolveu se valer de uma estratégia bastante humana para salvar a própria pele... Correr.
No meu ramo de trabalho nós não nos limitamos a entender a teoria do caos, nós realmente nos pautamos por ela. O caos acontece. O negócio é estar sempre pronto para encarar altas velocidades.
A questão é que não há tanto o que falar, o que é incomum, pois é bem mais fácil analisar algo que não gostamos do que o contrário. Em "Vento Sinistro", a trama é um mistério frequentado por "porquês", onde não sabemos de onde Joanne veio ou mesmo para onde vai. E apesar da premissa, o livro possui uma carga emocional avantajada, através de uma ferramenta que me irritou bastante. No meio da narrativa linear, Rachel aproveitava a protagonista ter se encontrado com os personagens X, Y e Z para explicar a história de como se conheceram ou o motivo de agirem assim um com outro ou a razão de serem amigos, inimigos, entre outros. Essa ruptura frequente tira o ritmo da história, que lembro a vocês, é uma fuga. Quão coerente isso deveria ser?
Ele esticou o braço para mim. Não, errado; ele esticou o braço na minha direção.
Ele estava buscando algum tipo de poder, tão inconscientemente quanto uma criança buscando a mãe.
A Mãe de Todos Nós recuou.
A cada parada, um drama descoberto; um conto da vida de Jo relatado com fins, talvez, de aproximar o leitor da principal. Um método até comum em um livro, porém usado sem quaisquer limites pela escritora. Ela está tentando demais e se empenhando de menos para compreender que há um déficit de equilíbrio em tal parte. O enredo da corrida de Joanne contra as "acusações de corrupção e morte" nem ao menos insinua um objetivo afável e todas as suas paradas pela estrada e os dilemas que lá encontra soam deveras forçados e mal planejados. É como um filme recém-lançado, filmado com todas as tecnologias e habilidades atuais disponíveis, mas que só pode estrear na Sessão da Tarde. Ele pode ser incrível e ainda assim é um filme de Sessão da Tarde.
- Ei, eu estou sempre mantendo contato. Não se esqueça dos telefonemas. E dos cartões de Natal.
- Os cartões [...] chegaram em fevereiro. [...]
Nos pit stops de Jo, pipocam personagens bastante reais, contudo nada cativantes. Nenhum deles conquista quem lê por sua naturalidade quase visceral e sua falta de importância na trama, e diferente do que deveria acontecer devido a isso, a protagonista não se destaca em meio a eles. Assim como os coadjuvantes, a Fiscal Baldwin não transmite carisma ou a confiabilidade ao ledor do personagem que tem condições de levar adiante um bom livro. Vemos a história passar sem nada fixar nossa atenção ou se fazer memorável, exceto pela curiosidade habitual de desvendar a conclusão - que iria se revelar bastante Sessão da Tarde.
Quer saber por que os dinossauros desapareceram? Olhe ao redor. Eles não tinham nenhum Fiscal.
A mitologia dos Fiscais foi o ponto mais interessante da obra, a qual me fixei principalmente para prosseguir na leitura. Desde sua hierarquia aos limites de poder, divisões e subdivisões, mitos e habilidades, percebe-se esse cuidado de Rachel ao criar uma base solidamente fundamentada na qual seu enredo pode se firmar. Se não fossem as frustrações e derrapadas já comentadas, esse conto que é esquisito e não há como explicar devidamente o porquê poderia ser um bom conto.
A Mãe Natureza é esquizofrênica e homicida e a única coisa que se interpõe entre você e a morte mais abjeta e dolorosa são duas centenas de pessoas espalhadas pelo mundo penduradas pelas unhas.
O autógrafo do meu exemplar. |
- [...] Não se preocupe. Não sou mais problema seu.
[...] - No Dia de São Nunca você vai deixar de ser problema meu.
"Vento Sinistro", assim como uma brisa, passa, mal se sente e nada deixa para que se lembre de seu decurso. Mesmo com um incrível trabalho gráfico e uma autora extremamente carinhosa com seus leitores, o enredo inspira incertezas, não conquista e independente do quão entranhada e amarrada sua mitologia esteja - o que é um ponto bem positivo -, li pensando em terminar. Com essa tempestade de tropeços, quase acertos e a impressão de senso nenhum, formou-se uma grossa película do famoso "é estranho e só dá para saber como, lendo". Boa sorte a quem tentar.
- A vida real [...] é sempre mais interessante. Você simplesmente nunca sabe o que vai acontecer.
Título: Vento Sinistro (The Weather Warden #1).
Autor: Rachel Caine.
Editora: Underworld.
Número de Páginas: 356
Tradução: Johann Heyss.
Oi Caíque!
ResponderExcluirPoxa, que pena que você não curtiu o livro =( Você parecia animado com ele... Má maré essa sua na escolha das leituras, hein? Primeiro Cristine, agora esse... Realmente uma pena! Eu também apostava nesse livro, ele parecia realmente muiiiiito bom, mas venhamos e convenhamos, sendo eu, basta uma capa bonita pra que achar que é bom, hahahaha (Tenho trabalhado na melhora disso!)
Espero que suas próximas leituras sejam melhores! Já falei... Leia Livraria 24 horas do Mr. Penumbra! Ou Bruxos e Bruxas! (Prefiro o primeiro rs).
Beijos, Nanda
Oi Caíque!
ResponderExcluirEssas rupturas na narrativa fazem com que o livro perca o ritmo mesmo, mas acho que se bem feitos dão um outro "ar" para o livro. Parece que esse não foi o caso, né? =/
Todos os livros da Underworld possuem diagramações e capas perfeitas, pena que o conteúdo não seja tão bem trabalhado assim.
Beijos,
Gabi Lima
http://livrofilmeecia.blogspot.com.br
Eu gostei muito do livro quando li, mas sua resenha despertou os sentimentos adormecidos sobre ele, indico a quem realmente goste de ler, assim como você, mas pra quem procura algo mais, não dá!
ResponderExcluirHangover at 16 - hangoverat16.blogspot.com
Realmente esperava mais do livro, Gabi. Acho que o autor, quando se propõe a romper o ritmo da narrativa em prol desses flashbacks, ele deve saber o que está fazendo e, acima de tudo, não exagerar só porque o pode xD
ResponderExcluirÉ, não curti mesmo, mas quando não chega a ser uma obra traumatizante - vide Bruxos e Bruxas -, aprecio pela experiência - é o que resta ;P
ResponderExcluirPoxa, que interessante, Déia! Que bom que a resenha auxiliou nesse despertar, afinal de contas, é sempre bacana ver os mais variados pontos de vista daquilo que apreciamos. Obrigado por comentar, um beijo!
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