sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Sobre gritos, Paulo Guerra e resenhar poemas

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Surpresa. Essa é a palavra que resume o que senti quando o autor Paulo Guerra me propôs uma leitura crítica de seu livro de poemas, "Grito". Além de não ter o costume de ler tal gênero, nunca me passou pela cabeça sequer resenhá-lo de alguma forma. Se a prosa já tem, dentre tantas dificuldades, a questão do que é subjetivo, o que dizer de um poema, um texto que antes mesmo de ter palavras, possui sentimentos? Só pude pensar que the struggle is real.
É muito simples / senhoras & senhores: / Quando olho para fora / perco-me de vista / Quando dirijo meu olhar / para dentro / encontro mil flores multicoloridas / Perfumadas [...]
Porém, por inúmeros motivos e casualidades, aceitei a proposta e recebi um exemplar do livro. Então o abri e constatei o que já imaginava: nunca poderia resenhá-lo. Ainda assim, em um texto para além dessas métricas, me sinto confortável e, principalmente, apto para falar da obra.
Tudo o que é concebido / Para aumentar a percepção humana / Deve ser considerado / Poesia / Tudo que é concebido / Através das expressões artísticas / Deve ser considerado / Místico [...]
Logo, tenho o compromisso de expor que, nesse meu amadorismo da categoria textual, não alcancei os significados da maioria dos escritos. Eles não conversavam comigo, não representavam algo que eu pudesse juntar, o que talvez seja devido à minha perspectiva metódica de resenhista literário. Poemas, ao contrário dos livros comuns do mercado, são desprendidos de paradigmas e podem se verter para tantas possibilidades de entendimento que nem todo mundo pode compreender. Saber o que o(a) poeta quis dizer ao escrevê-lo? Jamais, ora essa - quem sabe essa seja a graça da coisa toda. O poema me parece um mistério a ser desvendado, não em descrições de algum aventureiro em uma caverna secreta ou uma conspiração a ser desmantelada. Paulo Guerra fez isso bem em seu "Grito".

[...] Acusam-nos de loucos! / & sabemos que o somos / porque amamos em demasia.
Em alguns momentos, entretanto, os poemas me passaram uma verdade, uma mensagem que pude discernir de determinado modo - destaco entre os parágrafos trechos deles. Eles, especificamente, me deram a sensação de que tenho quando leio um poema inédito: a noção de estar bisbilhotando a intimidade de alguém. São textos, no geral, que exprimem uma intimidade tão gritante e, ao mesmo tempo, tão sutil, que é como se eu lesse o diário de alguém. Pode ser uma coisa só minha, contudo é algo que o "Grito" me fez suscitar e do qual não me arrependo.
[...] Eis o privilégio do Poeta / Criar / para si memo / através da vontade livre / o que silêncio que fala [...]
A diagramação é belíssima, apesar das páginas brancas - embora compreensível pelo número de páginas -, e a capa já me chamava a atenção pelo computador. A tipografia está apropriada, tal qual a ornamentação coerente do volume. Sugiro uma leitura não apenas aos apreciadores do gênero, mas aos leitores que gostam de um bom desafio: eu aceitei o do Paulo, falta você aceitar o meu. Qualquer dúvida, grite.

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