quarta-feira, 25 de junho de 2014

[Resenha] Irmãos Grimm - Once Upon A Time: Uma Antologia de Contos de Fada

"O paraíso é um conto de fadas para pessoas com medo do escuro."
___________________________________________________________________________________________
                                                                                                                                                                                       Stephen Hawking

Os mais assíduos no blog talvez já tenham reparado o selo em forma de maçã na coluna à direita. Ela se refere a um fã-clube/grupo no Facebook que criei para fãs da série Once Upon A Time, a qual acompanho. Em abril desse ano, fizemos o primeiro evento do seriado em terras brasileiras, com o apoio da Disney Brasil, da Livraria Travessa e também da Editora Planeta, que publica os livros oriundos da série por aqui. Ao enviar alguns livros para sorteio no encontro, aproveitei para solicitar um exemplar a fim de resenhá-lo e trazer de volta à minha rotina a atemporalidade dos contos de fadas originais dos Grimm.

Antigamente, quando os desejos ainda se cumpriam, havia um rei cujas filhas eram todas formosas.

Era uma vez. Três palavrinhas que, depois que demais de dois séculos, ainda conseguem transportar os leitores para cenários de mistérios, intrigas, traição, vida e morte, amor e abandono. Em seu esforço para preservar a cultura popular, sem querer os Irmãos Grimm criaram um marco atemporal e eterno da literatura ocidental. Com este livro de contos de fadas ilustrado você poderá reencontrar as histórias e os personagens que aprendeu a amar.
- Meu amor por ela é tão grande que, se todas as folhas das árvores fossem línguas, não seriam capazes de expressá-lo!
Seria bastante impreciso avaliar em termos de escrita e narratividade uma obra que está longe de ser considerada uma tradução das fábulas originais, histórias essas que além de possuírem inúmeras versões, projetam-se em controvérsias sobre de onde, de fato, vieram. Origens à parte, o estilo empregado é ótimo; uma leitura tranquila, rápida e simples como os contos de fadas sempre nos pareceram, com bem mais floreios nos enredos do que no texto em si. Erros de revisão crassos e problemas de coesão textual - especificamente em referências e reiterações lexicais -  aparecem logo no início do livro e não reparei em outros dali em diante, porém me decepcionou um pouco. Um belo trabalho estética e materialmente falando deve coincidir com a qualidade do conteúdo.
- Caçador [...], em que está mirando?
- A três quilômetros daqui [...] há uma mosca no galho de um carvalho. Pretendo acertar uma bala no olho esquerdo dela.
Entre rever personagens que sempre ouvimos falar e outros quase desconhecidos do imaginário popular, ter acesso a essas fábulas tão cruas, autênticas, livres da maior parte de acréscimos de terceiros é de alegrar qualquer leitor. Exatamente devido à transparência que têm, certas histórias podem trazer surpresas pelo teor mais visceral do que estamos acostumados, com direito a mutilações, decapitação, matricídio e crueldades tão contemporâneas quanto os noticiários das cidades. Mas acredite, isso só aumenta a diversão das curtas narrativas e em nada atrapalha ou se deixa atrapalhar por quaisquer visões que tenhamos de suas adaptações mais aprazíveis.
[...] E sua raiva era tanta que ele bateu com o pé direito no chão com tal força que a perna afundou até o joelho. Então ele agarrou o pé esquerdo com as duas mãos e, furioso, puxou-o até se rasgar ao meio. E esse foi seu fim.
As mensagens por detrás dos contos trazem as morais que, teoricamente, deveriam formar as crianças desde a infância, porém algumas têm um valor intimidador maior que didático. Por isso, recomendo uma leitura prévia antes de pôr seus filhos para dormir ao som dos Grimm. Apesar de inoxidáveis, as narrativas produzem um caráter educacional menos eficaz que várias alternativas feitas especificamente para isso hoje em dia. Os tempos são outros, as importâncias mudaram, mas o entretenimento, no mínimo, continua o mesmo.
- Se não fizer o que peço - o lobo ameaçou -, eu vou comer você.
Com medo, o moleiro obedeceu. Isso mostra de que são feitos os homens.
A edição da Planeta em capa dura revigora a nostalgia dos grandes clássicos que embalaram tantas infâncias, além de destacar o design incrível do volume. Com páginas resistentes, tipografia agradável, espaçamento duplo - embora haja desvios em prol da adequação de parágrafos por certas vezes - e ilustrações pontuadas nos momentos certos, é daqueles que fica bem na estante de qualquer maneira, principalmente lido. Aposto também que um número superior de gravuras não iria ser um problema para ninguém.
Henrique sofreu tanto quando seu mestre foi transformado em sapo que teve de colocar três bandagens de ferro no coração, para impedi-lo de explodir de angústia.
Um livro que sobeja a necessidade dos fãs de Once Upon A Time ou dos contos de fada, pois agrega valor na importância de não se deixar esquecer. As fábulas podem estar em baixa, os finais totalmente felizes não são tão escritos atualmente, contudo as lições que vários dos textos ressaltam são imprescindíveis para a formação de um ser humano. Ele(a) não precisa crer em lobos transgêneros, espelhos terapêuticos, príncipes imaculados, tampouco na indefensabilidade feminina; basta que sua imaginação, vez ou outra, se lembre do velho Era Uma Vez - esquecimento por maçã envenenada não é desculpa.
Estou lhe contando isso porque é uma pena que você não estivesse lá.
Título: Once Upon A Time: Uma Antologia de Contos de Fada.
Autor: Irmãos Grimm.
Editora: Planeta (parceria).
Número de Páginas: 272.
Tradução: Elisa Campos.
Ilustração: Kevin Tong.

2 comentários:

  1. Oi, Caíque!
    Eu vi um pouco da série e adorei muito!
    Minha mãe, por outro lado, está me infernizando pra eu comprar esse livro pra ela HAHAHAH mas gostei do que li aqui na sua postagem, e me incentivou a ir atrás pra dar logo o livro pra ela :P

    Beijos
    Leeh - Caverna Literária

    ResponderExcluir
  2. Oi, Isabelle!


    Lembro de que conversamos brevemente sobre sua edição da Zahar outro dia. Ele é mais diversificado, enquanto o de OUAT é mesmo visado nos Irmãos Grimm e suas obras. Logo, há contos mais desconhecidos e difíceis de encontrar, de verdade. Espero que consiga um exemplar logo para comparar melhor.


    Boa leitura e obrigado por comentar (:
    Abs.

    ResponderExcluir

A sua opinião é mais do que bem-vinda aqui no blog. O único pedido é que você seja cortês ao expressá-la, evitando o uso de termos ofensivos e preconceituosos. Assim, todos poderemos manter uma discussão saudável e bastante proveitosa. Obrigado!