segunda-feira, 16 de junho de 2014

[Resenha] John Dixon - Fênix: A Ilha

"Preferi sempre a loucura das paixões à sabedoria da indiferença".
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É isso mesmo [...] O mundo é uma grande piada, e você é a frase de efeito...
Quem me conhece, sabe da minha paixão por seriados. Mesmo em tempos tempestuosos de rotinas apertadas, separo alguns minutos para assistir minhas séries. Fênix: A Ilha, curiosamente, deu origem à uma produção que não acompanhei, a já cancelada Intelligence. Com uma temática trivial e excelentes críticas internacionais, coloquei-me à risca de lê-lo sem pretensões apenas para me deparar com um enredo bastante prudente e pouquíssimo excitante.
- [...] A vida é uma série de escolhas. As pessoas fingem que essas escolhas são simples, cento versus errado, bom versus mau, cara ou coroa, você escolhe, mas, no mundo real, enfrentamos dilemas. Não há respostas simples. Nada é preto ou branco, tudo é cinza.
Sem telefone. Sem sms. Sem e-mail. Sem TV. Sem internet. Sem saída. Bem-vindo à Ilha Fênix. Na teoria, ela é um campo de treinamento para adolescentes problemáticos. Porém, os segredos da ilha e sua floresta são tão vastos quanto mortais. Carl Freeman sempre defendeu os excluídos e sempre enfrentou, com boa vontade, os valentões. Mas o que acontece quando você é o excluído e o poder está com aqueles que são perversos?
Um deles havia lhe dado um chute, o que o pegou de suspresa. Gritos e flexões eram uma coisa... mas chutes? Isso era contra lei!
Ou, pelo menos, era nos Estados Unidos.
Aqui era a Ilha Fênix.
Toda a esfera criativa que envolve uma ilha, seus mistérios e as situações possíveis dentro dela é uma das banalidades mais bem sucedidas do entretenimento em geral. No livro em questão, essa atmosfera claustrofóbica foi meu ponto preferido da leitura, de tão bem trabalhada que é. Dixon cria um ambiente verossímil e faz com que as ações e os erros de seus personagens soem plausíveis tanto quanto. A narração em terceira pessoa externaliza todas as cenas positivamente e funcionou muito bem para variar os pontos de vistas - por mais que, inicialmente, essa troca seja bem desnecessária e vá ganhando notabilidade do meio para o fim da história.
Num momento como esse, a preocupação era tão perigosa quanto a esperança. Outra lição que havia aprendido no boxe: se você quer ganhar, não pode se deixar cegar nem pelo medo nem pela esperança. Tem de ver as coisas como elas realmente são e fazer as escolhas e ajustes certos.
Carl é um protagonista interessante, com seu dilema moral de não se importar com outros, mas ter o desejo incontrolável de protegê-las de quaisquer injustiça. Ainda assim, combinando com o livro em si, ele é, apenas, ok. O tom da obra fica no meio-termo, sem fracassar na falta de qualidade, contudo sem alavancar uma experiência estimulante de leitura - e tanto o principal, quanto os outros personagens vão pelo mesmo caminho. Tudo é ok.
- [...] Ainda assim, você tem esse potencial dentro de si. Mesmo seus atos criminosos demonstram certa nobreza, como se você seguisse um código moral mais alto que o do resto da humanidade. Mas não se engane: são crimes.
A profundidade do enredo me surpreendia por diversas vezes, pontuando os ensinamentos de luta de Carl e seus reflexos nas decisões que havia de tomar e no que ele próprio expressava em personalidade. Entretanto, ao invés de investir pesadamente nisso e levar o texto a um âmbito mais psicológico ou artificializar e aplicar o tempo textual excedente em momentos que deixassem o livro mais arrebatador e/ou instigante, a impressão que tive foi da opção do autor em ficar em cima do muro. Nem lá, nem cá; no meio. 
- Se o Doutor [...] tivesse nascido em Londres ou Detroit, sem dúvida teria chegado às fileiras dos mais respeitados médicos e cientistas e se estabelecido de forma mais convencional. Infelizmente para ele, e mais ainda para a sinfonia de vítimas, nasceu num lugar que valorizava o poder acima da ciência. Às vezes, a única diferença entre um vencedor do Prêmio Nobel e um criminoso de guerra é a geografia.
Embora a narrativa tenha sido bem fechada, desconfio da necessidade de se prolongar tanto a história, afinal, alguns momentos prescindíveis poderiam ser encurtados ou eliminados sem qualquer perda qualitativa - o grande espaçamento das páginas também colaborou para o sentimento de extensão do enredo. A diagramação do exemplar cedido por nossa parceira Novo Conceito, ainda assim, está resistente, bem trabalhada e a arte no começo de início de cada novo capítulo foi um nuance saudável aos olhos. A ação recorrente não tirou a linearidade da obra, as cenas são equilibradas e coerentes com os variados propósitos que Dixon parece ter. A indiferença que tive acerca da história atingiu o material desta resenha, afinal, não há muito o que falar ou debater sem ser redundante.
- Para as pessoas comuns, possuir coisas bonitas fornece o único senso de poder que vão conhecer em toda a sua vida. A propriedade é venenosa [...] Nunca acumule coisas apenas para tê-las e nunca confunda posses com poder.
Não deixo de recomendar a leitura, pois além da boa escrita, do final exemplarmente delineado e da total dispensabilidade de uma continuação - raridade nos YAs de hoje em dia -, é uma leitura saudável e despretensiosa aos que desejam entreter-se com um texto fácil repleto de ação, jovialidade, tensão e impasses quando o assunto é a própria sobrevivência. Mas é ok.
Podem me bater por trás e me espancar enquanto estou inconsciente e me trancar nesta jaula, mas não podem determinar quem eu sou.
Título: Fênix: A Ilha.
Autor: John Dixon.
Editora: Novo Conceito.
Número de Páginas: 336.
Tradução: Camila Fernandes.

4 comentários:

  1. Oi Caíque!
    Poxa, que pena que o livro não é tudo isso que você esperava. Eu tenho vontade de ler ainda, mas como não tive e nem tenho grandes expectativas, acho que será bom pra mim. Além do mais, adoro um YA, rs.
    Pelo menos não é DECEPCIONANTE né, é OK! Melhor assim, eu acho, dá pra guardar algumas boas lembranças, rs.
    Ótima resenha, como sempre! Ainda estou tentando me arrumar pra tentar voltar a fazer minhas resenhas, ai ai... Que preguiça!

    Beijos, Nanda
    www.julguepelacapa.blogspot.com

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  2. Oi, Nanda!
    É, foi aquela história do gostar, mas não amar. Acho que você vai curtir, sim, é um bom livro - só de não decepcionar, como você bem mencionou, poxa...
    Obrigado por sempre comentar aqui :-) Saudades das suas resenhas \o\

    Bjos.

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  3. gente alguém fala o nome da bruxa ?

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  4. Olá, Carol!
    Fico feliz que tenha gostado da resenha e espero que volte para debatermos opiniões sobre ele quando experienciar a leitura. Um abraço e obrigado por comentar!

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