domingo, 9 de março de 2014

[Resenha] Jessica Spotswood - Enfeitiçadas

♪ Vou abrir esse livro e soprar a poeira
Para fora dessas páginas de desejo e luxúria
Vou procurar o feitiço perfeito para você ♪
___________________________________________________________________________________________
                                                                                                                                                                          Witches Brew - Katy B

Bruxaria é sempre um assunto que me fascina nos meios de entretenimento, desde a infância com Hocus Pocus e The Witches à adolescência em Hogwarts e na juventude e além com O Círculo Secreto e American Horror Story. Com título sugestivo e um trabalho visual de tirar o fôlego ao vivo, Enfeitiçadas tornou-se leitura desejada a partir do momento em que a Editora Arqueiro divulgou seu lançamento e, posteriormente, cedeu o exemplar para esta resenha. Com razoável expectativa, adentrei à realidade mágica, criativa e bem delineada de Jessica Spotswood.

Antes do alvorecer do século XX, um trio de irmãs bruxas chegará à idade adulta. Uma delas terá o dom da magia mental e será a mais poderosa a nascer em muitos séculos: ela terá poder suficiente para mudar o rumo da história, para suscitar o ressurgimento do poder de sua espécie ou um segundo Terror. Quando Cate descobre essa profecia no diário de sua falecida mãe, entende que precisa repensar seus planos com relação às suas irmãs e si mesma. Qual será a melhor opção: servir à Irmandade, longe dos olhos vigilantes dos Irmãos, caçadores de garotas como elas, aceitar uma proposta de casamento que lhe garanta proteção e segurança ou abandonar tudo e viver um grande amor proibido?
Penduro minha capa, confusa. Se eu fosse reparar em um homem, deveria ser em Paul. Mas seu coração bate mais forte quando está perto dele?
Realmente me surpreendi com a ambientação do livro. Sabia pouquíssimo sobre a história e isso me auxiliou a desenvolver uma noção de espaço dentro da narrativa e discernir alguns pontos estruturais enfraquecidos - o ritmo, sem dúvida, é um deles. Apesar de melhorar a instigação do leitor ao se aproximar do fim, a história é lenta, indecisa e precisei de força de vontade para prosseguir no começo e meio. O enredo demora a mostrar a que veio, deixando aperitivos ao longo de capítulos que podem parecer intermináveis onde, ao invés de suscitar um interesse gradativo, acabam por frustrar quem esperava por uma movimentação qualquer.

Por experiências anteriores, é de conhecimento comum que o primeiro livro de uma série, como esse de qual falo, possui uma carga introdutória quase sempre extensa, o que não necessariamente precisa ser feito sem motivar o leitor a continuar. Jessica tem uma escrita romântica e simples, entretanto, abordando o que poderia ser seu calcanhar de Aquiles, tal qual o amor proibido da protagonista, como parte essencial e não principal de sua obra. Isso conta muitos pontos comigo.
- E você é ainda mais divertida do que eu me lembrava.
Sou mesmo? Não me sinto muito divertida. Talvez ele tenha atribuído a mudança ao fato de eu ter crescido, de ter me tornado uma moça. Talvez seja assim que todas as garotas se sentem; sufocadas e mudas.
Cate é verossímil e um papel central que aprendemos a gostar, ainda que muitas de suas ações adotem noções duvidosas. Alguns de seus dilemas poderiam ser solucionados com uma segunda opinião, e foi difícil perceber quais de tais erros a autora inseriu com o objetivo de credibilidade o que contava e quais não. Considerando o gênero literário, vejo como um bom trabalho a carga emocional e psicológica que lhe foi empregada, sentindo-se responsável pelo pedido da finada mãe para que cuidasse de suas irmãs, solitária pelo fardo de protegê-las sem qualquer tipo de auxílio, iludindo o amigo cujo amor não podia corresponder sem magoá-lo e recusar a felicidade em prol do dever com sua família. Independente das falhas gerais, dadas as circunstâncias, Catherine é uma bola de neve nada artificial.

Suas irmãs acabaram me cativando de alguma maneira ou me levando a detestá-las através de sua visão. Raros foram os personagens que tiveram a chance de serem mais desenvolvidos e não há problema nisso porque, mais uma vez, há de se lembrar que é o livro debutante de uma série. Sendo uma sociedade do século 18, com poucos detalhes e demonstrações da mentalidade vigente, somos capazes de visualizá-los em nossa mente, graças à experiência com longa-metragens, seriados e afins que ocorrem por essa época. 
- [...] não tenho mais tempo de ler.- Essa foi a coisa mais triste que ouvi hoje [...] Ler é a fuga perfeita para qualquer coisa que a aflija.
A forma como a responsabilidade familiar foi escrita é ideal para principiar leitores que desejam ler dramas mais íntimos, reais e emocionalmente complexos. O retrato da busca das mulheres por liberdade, sua compreensão por sexo frágil, a opressão religiosa e a reação à bruxaria em analogia às diferenças de hoje que são vistas com o mesmo repúdio valorizam e amadurecem a contexto - não só por sua lidimidade, mas por consolidar a jornada da heroína. Um desafio, ainda assim, onde 65% a 70% do texto soa a um inexorável tédio, tanto que no final das contas o maior fator compelindo-me a concluir o livro era, puramente, as figuras das irmãs Cahill. Senti-me obrigado pela curiosidade de saber o que iria lhes acontecer e, ao terminar, fui recompensado de certas maneiras. 

Meu exemplar chegou danificado na ponta da contracapa, no alto da lombada, com um amassado e alguns finos descolados no fim da capa - desconheço se tal é ou não o trato dos Correios-, porém fora isso, todo o trabalho físico é bem satisfatório. A frente, como já comentei anteriormente, é de uma fotografia estonteante acompanhada do título em um dourado brilhante e delicado ao mesmo tempo. A tipografia é de tamanho médio e não desfavorece a leitura, contando com um design incrível de detalhes no início de cada capítulo. 
Eu sei o que os Irmãos diriam: a magia não é um dom do Senhor, é coisa do demônio. Mulheres capazes de fazer magia ou são loucas ou perversas. Estão destinadas a um hospício, na melhor das hipóteses, ou a um navio-prisão - se não a um túmulo precoce.
A obra de Spotswood está distante de se caracterizar como uma leitura fácil ou ininterruptamente divertida – longe disso -, porém seu enredo cativante e suas irmãs quase co-protagonistas acabam abraçando o ledor quando ele menos espera. No final das contas, é um entretenimento, um passatempo saudável e você pode ter uma opinião bem mais positiva que a minha ou concordar comigo e preservar seu tempo de um livro que mal engata onde vale a pena. Contudo estamos tão acostumados a ver ficção histórica como um pano de fundo para romances, softporn e similares que eu diria que é hora de dar uma chance às bruxas. 

Título: Enfeitiçadas.
Autor: Jessica Spotswood.
Editora: Arqueiro.
Número de Páginas: 272.
Tradução: Ana Ban.

2 comentários:

  1. Olá, Barbara!

    A capa é mesmo incrível, ao vivo ainda mais, não há como negar. Você acabou resumindo bem minha opinião principal sobre ele, parabéns, rsrs. Ainda assim, recomendo a leitura, porque é bacana ter uma opinião própria sobre qualquer livro, independente do que falem.

    Obrigado pelo comentário, um beijo!

    ResponderExcluir
  2. Nós todos deveríamos ter o trabalho dos sonhos de ler e ser pago para isso, aí acabaram-se os problemas XD

    ResponderExcluir

A sua opinião é mais do que bem-vinda aqui no blog. O único pedido é que você seja cortês ao expressá-la, evitando o uso de termos ofensivos e preconceituosos. Assim, todos poderemos manter uma discussão saudável e bastante proveitosa. Obrigado!