sexta-feira, 4 de outubro de 2013

[Resenha] David Walliams - Vovó Vigarista

"Toda brincadeira tem um fundo de verdade."
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- Não, não, não. Lamento, mas isso não vai funcionar nunca! [...]
- Ah, mas eu já pensei em tudo [...] A senhora vai precisar embarcar em um trem para Londres nesse mesmo dia e fingir que é só uma doce velhinha...
- Eu sou uma doce velhinha! [...]
- Você me entendeu [...]
No evento da 2ª Turnê Intrínseca pelo Rio, fomos presenteados com informações dos mais variados e diversos lançamentos futuros da editora e um deles era "Vovó Vigarista", o precursor de várias obras que serão publicadas do autor David Walliams. Logo me afeiçoei pela maneira admirada como os jovens leitores falavam do autor e de seus textos através desse vídeo, sob aquela inocência e sinceridade própria da idade e resolvi marcá-lo como uma leitura futura e intermediária de outras mais densas. O momento atual foi propício o suficiente.
[...]  – Está suando como um porco.
Bem tinha visto pouquíssimos porcos na vida e nenhum deles estava suando. Na verdade, se você foi perguntar, todas as pessoas que entendem de porcos lhe dirão que eles não têm glândulas sudoríparas, portanto não podem suar.
Nossa, como este livro é educativo!
Se você acha que toda vovozinha é igual, precisa conhecer a avó de Ben. Ela poderia se passar por uma senhorinha qualquer: é velha, usa um casaquinho lilás e faz palavras-cruzadas. Toda sexta-feira Ben dorme na casa dela, e isso para ele é o fim. No jantar sempre tem repolho, a TV nunca funciona e a avó o faz ir para a cama às oito da noite. E no dia seguinte nem tem aula! Como qualquer outro menino, Ben acha tudo isso chato demais. Ou pelo menos achava, até descobrir que a coisa toda não passa de um disfarce: vovó, na verdade, é uma vigarista internacional, a ladra de joias mais procurada do mundo. Agora, juntos, eles vão planejar o maior roubo de todos os tempos.
A Torre antigamente era uma prisão e conta com uma lista de ex-presidiários ilustres (incluindo a então-futura rainha Elizabeth I, o aventureiro Sir Walter Raleigh, o terrorista Guy Fawkes, o líder nazista Rudolf Hess e os cantores Jedward*).

*Nota de rodapé: Este último é invenção minha, mas é que eu adoraria ver os Jedward trancados para sempre na Torre de Londres por crimes contra a música.
Antes de mais nada, deve ser levado em conta o público-alvo de Walliams para, então, analisar de forma básica sua proposta infantil. Afirmo que sua narratividade é bem adequada, ela consegue fisgar o leitor com a personalidade de seu protagonista tão próxima da ideia da criança fictícia que todos nós temos, sem medo de exagerar nos clichês ou soar previsível.  Acompanhei resenhas cujos críticos não vestiam suas próprias infâncias a fim de encarar o projeto, maldizendo tópicos sob uma perspectiva que não condiz com a idade desejada para lê-lo. Estamos falando de crianças que, embora estejam cada vez mais precoces e menos ingênuas, não possuem quaisquer expectativas literárias e desejam essencialmente se divertir e o livro cumpre essa função.
*Receita de BOLO DE REPOLHO da vovó: [...]
Aguarde um mês para o bolo ficar solado. Fatie e sirva (o balde para vomitar é opcional).
Citar Freud no subtítulo foi quase acidental; acabei lembrando de uma versão dessa frase enquanto rascunhava a resenha. Como havia dizendo, para quem a história fora escrita, ela não passa de uma grande e legível brincadeira. Entretanto, está cada vez mais comum inserir um tema mais maduro e importante nesse gênero, o que acho de extrema necessidade no contexto urbano-social em que vivemos. Os pais de Ben por exemplo, apesar de engraçados, retratam uma caricata visão adulta de muitos responsáveis que preterem os filhos pequenos com frequência a tarefas não mais indispensáveis que a educação dos mesmos. Da mesma forma, a falta de contato proposital com a idosa charlatã reflete no problema enraizado, principalmente em nosso país, do modo como as pessoas se relacionam com os senhores e senhoras da dita melhor idade. Sutilezas que, no final das contas, valem a pena.
- A senhora sabe de quanto tempo em quanto tempo as câmeras de segurança gravam as imagens? – perguntou ele.
- Ah – disse a vovó. – Você ficaria surpreso com as coisas que eu sei.
Pintura de Lilla Cabot Perrya (1848-1933).
Logo, não há muito o que falar de uma obra como essa, por sua simplicidade, comicidade e eficiência no que se dispõe a apresentar. Meu único ponto a ressaltar é o clímax, onde uma grande base da trama é fragmentada. Assumo que entendi os sinais deixados por David ao decorrer da leitura para isso, quando a descoberta de Ben sobre sua avó alterna passos entre uma realidade crível e um conto antes de dormir, contudo frustrei-me com tal revelação. A diagramação da editora é chamativa e excelente, contando com páginas resistentes, detalhes que saltam aos olhos estando ou não envernizados e tipografia segura. O desenhista Tony Ross complementa e acentua as sensações e reações através de sensíveis ilustrações durante a estória.
 – A tevê naquela casa não funciona, a vovó só quer saber de fazer palavras-cruzadas comigo e além de tudo ela fede a repolho!
- Temos que ser justos com o menino; ela fede mesmo a repolho – concordou a mãe, passando um lápis de boca de última hora.
Recomendo Vovó Vigarista aos que almejam uma rápida leitura, desprovida de complicações, que encarei como um intervalo e que qualquer um pode ver como um passatempo descompromissado. Embora não releve-se no pódio de sua categoria literária, é a recreação em forma de piada com moral da história que não precisa ficar de lado. Aconselho-a de preferência às crianças, elas irão aproveitar bem mais do que eu e estão pouco se importando para as baboseiras que disse até aqui. Só mais uma e deixo-os em paz: comam seus legumes.
- [...] Nessa vida, temos mesmo é que seguir nossos sonhos. Senão só estaremos perdendo tempo.
Título: Vovó Vigarista.
Autor: David Walliams.
Editora: Intrínseca (parceria).
Número de Páginas: 240.
Tradução: Edmundo Barretos.

6 comentários:

  1. A primeira impressão que tive ao ver o livro pela primeira vez na livraria foi que devia ser uma história divertidíssima. A capa, por si só, já é simpática, né...

    Acho que você colocou algo muito importante aí: a questão de considerar o público ao qual o livro é direcionado. É o ponto de partida para uma leitura (e posterior resenha) justa e mais proveitosa. Sei que o autor faz bastante sucesso com a galerinha mais nova e não deve ser para menos. Não li o livro, mas tenho curiosidade, embora hoje em dia não seja aquela coisa de "preciso ler". Já li resenhas meio negativas do livro, mas acredito que grande parte deve ter sido por "esquecer" que o livro é para crianças...

    Um beijo... Livro Lab

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  2. Ooooi! *-*
    Esse livro com certeza chamou minha atenção na Turnê Instrínseca também, rs. Mas não a ponto de comprá-lo nem nada. Bom, fico feliz que tenha sido uma leitura que valeu a pena, e sempre sempre e sempre vou admirar sua sensibilidade na hora de resenhar! Levando em consideração o público-alvo, Caíque, por favor, se junte ao grupo dos jornalistas! Hahahahaha.
    Sério, ficou maravilhosa, como sempre :) Me deu até vontade de dar de presente do dia das crianças pra minha irmã, que tá começando a gostar de ler, ahsoiehaseoihase. Vou procurar o preço depois e ver se ainda da tempo de pedir pela internet *-*
    Beeeijos, Nanda
    Julgue pela Capa

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  3. Fico feliz que tenha concordado comigo, Aline. Para um público tão específico como esse, é preciso adotar outra postura de leitura ao meu ver. Muito do aproveitamento consiste exatamente nisso. Espero que possa experienciá-lo em breve e voltar para me dizer o que achou. Obrigado por deixar sua opinião aqui, um beijo e volte sempre :)

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  4. Você é uma querida me dizendo essas coisas! Agradeço de verdade, são comentários singelos e sinceros como o seu que me motivam a continuar nessa empreitada de ser blogueiro literário. Aposto que sua irmã irá aproveitar, talvez seja ainda mais crítica se puxou a você ;P Obrigado por sempre estar disponível para deixar sua opinião aqui, grande beijo!

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  5. Esse livro é muito legal! Eu gostei bastante, a Intrínseca também caprichou bastante nessa edição: a capa, os desenhos, enfim...é um livro passatempo pra quem deseja uma leitura rápida. O legal é que mesmo sendo leitura rápida, você quer saber o que vai acontecer "ali", se vai dar certo "aqui", se o plano vai funcionar "lá", etc, ect. Acho que deu pra entender, haha. Parabéns pela resenha Caíque!

    Abraços,

    Meu blog: http://blogliterariopalavrasaovento.blogspot.com.br/

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  6. Adorei sua maneira de evitar spoilers, Samuel hahahahaha
    É deveras um passatempo muito bacana, fico feliz de também ter conseguido essa experiência. Obrigado por deixar sua opinião aqui, volte sempre e um abraço!

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