sexta-feira, 16 de agosto de 2013

[Resenha] James Patterson e Gabrielle Charbonnet - Bruxos e Bruxas

A breve vida da esperança de um livro bom.
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- Mas vamos voltar [...] sem passar pelas ruas principais.
- Ah, não, isso não! [...] É uma armadilha mortal!

- Mas é o único jeito! [...]

- Aham, pode voltar para a parte da “armadilha mortal”?
As duas experiências totalmente divergentes que obtive com a leitura de obras de Patterson concluíram-se de maneira satisfatória e prazerosa. “Bruxos e Bruxas”, a aposta da Editora Novo Conceito, nossa parceira que patrocinou esta resenha, onde James parecia se aventurar por mais um inédito campo literário – ele já escreveu obras policiais, românticas e infanto-juvenis – revelou-se uma ingrata decepção. Ingrata pelo fato de que torci, e como torci, para ser uma boa leitura. Mas o meu compromisso com a verdade crítica é maior do que minha admiração pelo autor e seus colegas de trabalho.





Então notei Wisty sentada no colchão, mexendo os lábios em silêncio.
- Você está falando sozinha de novo? [...]
- E por que não? Estamos num hospício.
É como entrar em um pesadelo. Do nada, você é retirado de sua casa, preso e acusado de bruxaria. Parece século 17, mas é o governo da Nova Ordem, e está acontecendo agora! Sob a ideologia da Nova Ordem, O Único Que É O Único mantém seu poder à força, sem música, sem internet, nem livros, arte ou beleza. E ter menos de 18 anos já é motivo suficiente para que você seja suspeito de conspiração. Os irmãos Allgood estão encarcerados nesse pesadelo e, para escapar desse mundo de opressão e medo, terão que contar um com o outro e aprender a usar a magia.
- Olá, prisioneiros – [...] disse naquela voz anasalada e falsa que poderia fazer uma imagem de Jesus virar os olhos de tanto nojo.
A premissa é ótima, o desempenho, nem tanto. A história da peleja de Whit e Wisty é contada de determinada maneira que seus piores desafios ainda serão vistos como uma grande piada. Não gosto de comparações, mas escrevo amadoramente desde os 11 anos e naquela idade era esse o tipo de narrativa que eu usava. A escrita é imatura, eufórica, insossa, incomodando qualquer um que nela se aventure e não notar como tudo é tão bobinho. Sim, “bobinho”, pois não há expressão melhor para resumir a obra a não ser essa. A falta de um objetivo claro no enredo é evidenciada pelo bombardeio de acontecimentos que pouco leva o leitor a algum lugar, soando forçados e mostrando o quão mais falsos ainda os protagonistas podem soar. 
Por que é que o tempo voa quando estamos nos divertindo, mas quando você está ao volante despencando escadaria abaixo em um furgão cheio de crianças histéricas, ele praticamente para? As leis da física são tão injustas.
Os capítulos sob o ponto de vista de Whit são um pouco menos deploráveis de se ler do que os de sua irmã. O dilema com a ex-namorada fora o menos irritável em seus parágrafos, pois o sumo ancorava-se no famoso irmão brincalhão que não tem noção de sua boa aparência e de como chama a atenção. Apesar disso, Wisteria – inteligentemente chamada de Wisty – é o foco do texto e dos problemas. Sendo a irmã caçula, coube a ela sofrer com linhas e mais linhas de manuseios deploráveis de personalidade, comentários e reflexões tão naturais quanto uma nota de três reais e uma vergonhosa obsessão por parte dos autores em torná-la interessante. 
Desde que fomos sequestrados, não brigamos mais. A vida, como o ditado mais sábio diz, é curta demais. Além disso, ficou tão claro para mim agora: o Whit era um irmão e tanto. Eu só queria que não tivéssemos que ter ficado presos em um cafofo da Nova Ordem para eu me dar conta disso.
A agilidade da leitura é explicada pelos capítulos curtos que duram no máximo três laudas e é meu ponto órfão de predileção da leitura. O leque de personagens é extenso, mas nenhum é merecedor de nota graças à falta de aprofundamento e detalhes maiores, justificados pelo enfoco natural do primeiro livro de uma série em apresentar a realidade proposta e o(s) protagonista(s) em si. Os antagonistas e o Único Que Pode Ser o Antagonista Principal – trocadilho infeliz, não pude resistir – são tão caricatos que poderia haver passagens em que torturam crianças sobre um colchão de pregos e eu estaria rindo culpado, sentindo-me um sádico. Desde frases prontas dos vilões de desenhos animados ao grande Único cujo caráter misterioso é outra tentativa frustrada pela trama, uma história promissora vai perdendo sua magia.
- Então você consegue encontrar o caminho de volta por aqui usando linha? [...]
- É [...] Eu até consigo perceber quando há um portal por perto, mas é melhor prevenir. E migalhas de pão são inúteis.
Gabrielle Charbonnet
A diagramação da Novo Conceito, em contrapartida, é o primor pelo qual aguardamos ao pegar o exemplar em mãos. Entretanto, o aveludado externo, a boa marcação na divisão dos capítulos entre os irmãos, a tipografia forte e os galardões ao universo praticamente nonsense criado por James e Gabrielle não compensam o livro mal administrado. A realidade tresloucada não nos permite viajar com o proposto, além das dúvidas sem resposta que surgem em paralelo à linha de pensamento e dos personagens mal trabalhados e caracterizados. A tradução tampouco ajudou, optando mais de uma por termos e colocações demasiadamente informais e do cotidiano brasileiro, desvalorizando o já prejudicado texto original.
[...] As coisas importantes da vida são preto no branco ou talvez um pouco cinza?
“Bruxos e Bruxas” foi para mim uma decepção, sim. Soube que já existem fã-clubes, críticas reluzentes de tantas estrelas atribuídas, porém só me resta delas discordar e aguardar os que comigo acordam. James Patterson pode transmitir total credibilidade àquilo em que coloca seu nome, mas nesse caso; enredo, escrita e personagens estão em abstinência total desse quesito. Em meio a tanta vergonha alheia, as bruxas do século 17 já o teriam classificado como “politicamente incorreto”, sem exageros.
Sua Unicidade faz um gesto para a multidão ficar quieta e eles calam a boca até mesmo antes de ele erguer totalmente a mão. Quantas vezes na história humana um cara como esse tomou o controle de uma sociedade inteira? Vocês sabem a resposta, meus amigos: vezes demais.
Título: Bruxos e Bruxas.
Autor: James Patterson e Gabrielle Charbonnet.
Editora: Novo Conceito.
Número de Páginas: 288.
Tradução: Ana Paula Corradini.

6 comentários:

  1. Oi Caíque,
    Dos poucos livros do Patterson que li, gostei de 2 e outro +-. Mas, desde o início, não tive o menor interesse por este, tanto que nem cheguei a solicitá-lo para a NC, mas eles mandaram de todo jeito heeh Dei pra um amigo ler e fazer a resenha.
    Parece ser bem infantil mesmo. Digo, nem infanto-juvenil, mas para crianças mesmo.
    Pena as tantas falhas no desenvolvimento. É de se esperar que um autor mundialmente famoso e querido por tanta gente tivesse escrito algo melhor, mas acho que todo mundo tem os seus deslizes hehe
    Lembro de ter entrado no goodreads pra dar uma olhada no livro e era decepção geral.
    Beijos!
    www.book-addict.com

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  2. Oooi Caíque =)
    Bom, pelo visto eu gostei um pouco mais do livro do que você, hahahaha. Não virei nenhuma fã, mas leria as continuações (mais por curiosidade que por vontade totaaaal assim, rs). James Patterson pra mim foi uma frustração nesse sentido, mas não vou deixar de dar uma próxima chance porque, claro, isso foi alguma coisa mucho loca que aconteceu pra ele escrever isso ~ ou botar seu nome no livro da Gabrielle ~.
    Uma pena a decepção que todos nós tivemos, mas fazer o que né? Você pelo menos teve Extraordinário agora pra esquecer isso <3 *-*
    Beijos, Nanda

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  3. É, acho que sim. Taí um caso raro onde, mesmo o livro não sendo bom, não sinto a menor vontade de saber o que irá acontecer futuramente :\ Tenho um problema com livros escritos a mais de uma mão, fico sem saber quem fez o quê e, no caso de B&B, a quem eu culpo? xD "Extraordinário" foi mesmo uma "cura", por mais irônica que isso soe comparado à realidade do livro. Obrigado por comentar, pessoa, um bjão (:

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  4. Duda! Do James - olha a intimidade rs -, li "4 de Julho", meu primeiro livro policial do qual gostei bastante e o nostálgico "Escola: os piores anos da minha vida", que é lindo demais e todo ser humano deveria ler. Sério que eles te mandaram B&B mesmo sem pedir? Cadê a Nova Ordem pra fiscalizar essas coisas? hahahaha. Mas falando sério, são falhas demais como você falou e não consigo entender como um autor renomado como ele participou de algo assim. E como comentei com a Nanda aí em cima, em livros escritos a mais de uma mão, fico sem saber a quem culpar quando tem essa derrapada na leitura. Bom, sabendo desse caso do Goodreads, fico mais tranquilo ao saber que não são tão poucos assim os decepcionados. Obrigado por vir aqui, um beijão e volte sempre, porque amo seus comentários (:

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  5. Olá, nunca li nada do escritor, mas já ouvi muitas coisas positivas sobre o livro. Estou curiosa...
    Abraços, Isabela!

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