quarta-feira, 19 de junho de 2013

[Resenha] Rick Riordan - Os Diários do Semideus

E quem poderá lhe suceder?
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Talvez você esteja cansado de ler resenhas neste blog ou outrem dos livros de Rick Riordan, mas não vou me desculpar, pois é sempre um prazer. Dessa vez, a Editora Intrínseca me forneceu um exemplar de "Os Diários do Semideus", obra de acompanhamento da série Os Heróis do Olimpo. O mesmo aconteceu com outras sagas do autor, como Percy Jackson e os Olimpianos com "Os Arquivos do Semideus" e As Crônicas dos Kane com seu "Guia de Sobrevivência".  No presente caso, trata-se de um pocket com histórias curtas, ilustrações inéditas, passatempos, diagramas, entrevistas com os personagens e um último adendo que estava louco para ler, sobre o qual falarei mais adiante.
Os tópicos da análise que contenham um asterisco (*) possuem spoilers da saga Percy Jackson e Os Olimpianos e dois asteriscos (**), de Os Heróis do Olimpo. Atenha-se a isso.
Nas laterais do caminhão havia as seguintes palavras: HÉRNIAS DE EXPRESSÃO.
Espere... Desculpe, sou disléxico. Estreitei os olhos e decidi que, provavelmente, as palavras eram: HERMES EXPRESS.
1. Carta do Acampamento Meio-Sangue.
As notáveis cartas redigidas pelo Escriba Sênior do Acampamento Meio-Sangue - vulgo "tio Rick" - são sempre um deleite para nós, fãs. Iluminam nossos olhos ao ver um escritor que literalmente veste a camisa daquilo que escreve, acreditando em seu material como nós, que trajamos camisas laranja e roxa com orgulho. E encontrar ao final a assinatura do próprio, em um trabalho tão autêntico de impressão me encheu de esperanças de um dia ainda vê-lo autografar uma de suas obras frente a frente.
Como um homem de meia-idade sem qualquer poder especial poderia pensar em ter qualquer influência sobre um mundo de deuses e monstros?
*2. O Diário de Luke Castellan
Surpreendente em várias maneiras. Acompanhar a união de Luke e Thalia, antes de tantas e ainda mais circunstâncias que se sucederam ao longo do tempo, era um desejo antigo. Esperava conseguir ali um resquício daquilo que Luke viria a se tornar; a chama inicial do que se revelaria uma grande fogueira de ódio ao Olimpo. E foi o que achei em medidas cautelosas, graças a um personagem promissor que incita um rancor repetitivo pelos deuses, presente mais do que em qualquer outra narrativa dos semideuses. Eis aí o sinal por mais singelo que seja, de que Castellan poderia aderir a um lado que lhe oferecesse alguma "justiça" pelas inconsequências greco-divinas de sua vida. Li Percy Jackson há bastante tempo e não me recordo amplamente das tramas, porém a personalidade de Thalia com certeza evoluiu após o incidente do Velocino. Lembro-me de que, por mais que não fosse o foco da narrativa, ela se destacava, fato que não se reafirma no conto. Apreciei bastante o curto enredo, que corrobora a habilidade de Riordan ao criar personagens interessantes independente da quantidade de páginas disponíveis e ambientar tensões no mínimo tempo hábil. De todas, minha short-story predileta.
- [...] isso soou quase sarcástico. Você sabe muito bem que os deuses não podem andar por aí explodindo cabeças e destruindo cidades mortais à procura de seus objetos perdidos. Se isso possível, Nova Iorque seria destruída toda vez que Afrodite perdesse sua escova de cabelo, e acredite, isso acontece muito. [...]
3. Percy Jackson e o Cajado de Hermes
Divergindo na permanências de tons do texto anterior, o conto é leve, muitíssimo bem-humorado e até mesmo romântico. Tampouco seu antecessor não possua tais pontos, porém O Cajado de Hermes prossegue de tal maneira por todo o tempo e a leitura flui bem menos dramática e tensa, resgatando os valores dos monstros caricatos e ainda assim, bem embasados. Decorre sem delongas entre o final de O Último Olimpiano e o começo de O Herói Perdido, trazendo de volta personagens que amo a cada frase por eles ditas: Martha e George, as serpentes do caduceu do deus dos ladrões. São tiradas com um timing perfeito entre todos os participantes da pequena história e simplesmente notar que o timing está perfeito em um material escrito como esse é a prova do trabalho mais que eficiente de Rick. Curiosidade: se eu fosse desafiado a encontrar um parente dos Weasleys no universo olimpiano, estaria nesse conto. É ler para conhecê-lo.
- Durante séculos eu fui o terror da Itália! Roubei muitas vacas [...] As mães assustavam seus filhos usando meu nome. Elas diziam "Comporte-se, criança, ou Caco virá roubar suas vacas!"
- Aterrorizante [...]
4. Entrevista com George e Martha, as cobras de Hermes
Sim, mais deles! Esperava algo mais extenso; concluiu-se como um aperitivo de um papo que renderia hilárias resoluções. Entretanto falamos de cobras casadas que trabalham com Hermes - eu disse "com" e não "para"! - e, por mais que sejam divertidas, um diálogo maior poderia ser inviável ao considerarmos possibilidades e condições disso ocorrer realmente dentro na história original. Afinal, Hermes não pode fazer exercer uma função respeitável de Mensageiro dos Deuses ficando muito tempo sem seu cajado-caduceu-bloco-de-assinatura-GPS-telefone-autorização-de-estacionamento-iPod-Shuffle-laser-mortal-entre-outros. Quero bis.
- Ah... [...] E você não pode simplesmente... desligar?
- Caramba, não pensei nisso! [...] Vou só apertar esse botão e... Não [...] Não posso desligar. [...]
**5. Leo Valdez e a Busca por Buford
Nostálgico retorno à O Herói Perdido, onde Leo, Piper e Jason estavam mais juntos do que nunca e eu experimentava uma obra sem Percy e que gostava mais do que qualquer um da série anterior. Suave, cômica e sem abandonar aquela sensação de "Oh meus deuses, como eles podem sair dessa?", a narrativa entretêm e oferece um ponto de escape entre a densidão de O Diário de Luke Castellan e Filho da Magia, tal qual O Cajado de Hermes. É basicamente sua função, cumprida exemplarmente e que despertou aquela falta de ler mais passagens no Acampamento Meio-Sangue. A história é muitíssimo bem empregada, pois não teria espaço fora de um livro de acompanhamento e é ótimo para matar saudades, dar risadas e festejar no "Dionísio Style" (eu sei, ainda não acredito que escrevi isso em uma resenha).
[...] Quando as festas de fim de ano se aproximavam, ele se vestia de Papai Taco (sua invenção pessoal), deixando tacos de carne assada nas meias e nos sacos de dormir, derrubando bebida quente na camisa de todo mundo, ou criando letras pouco apropriadas para canções de Natal.
*6. Uma nota de Rick Riordan
Além de contar como a história de Percy Jackson foi criada e da importância de seu filho para que viéssemos a conhecê-lo, o autor afirma que ele deseja seguir seus passos na escrita. Um razoável início foi escrever um conto para "Os Diários do Semideus", onde Haley Riordan responde à perguntas como "o que aconteceu com os semideuses que lutaram ao lado de Cronos na Batalha de Manhattan?", "por que monstros podem 'farejar' heróis" e dúvidas acerca da Névoa. Ao aceitar o desafio, sob a camada da comparação óbvia entre a escrita do mesmo e de seu pai, Haley já merece os parabéns por tal coragem. E se der realmente certo, poderíamos contar com um sucessor à altura do legado das desventuras dos semideuses, independente da natureza, quando Rick aposentar a caneta? É algo a se refletir.
Era seu medo na infância: morrer e ser recusado no céu.
7. "Filho da Magia", por Haley Riordan
Haley Riordan.
A escrita de Haley é perceptivelmente mais densa, objetiva e sóbria que a de seu pai, o que talvez se deva pelo narrador principal da história ser um adulto, diferente do que Riordan faz. O enredo é autossuficiente e cria suas próprias expectativas, firmando desde o início um caminho claro e personagens fiéis ao universo de Rick quanto os criados pelo mesmo. Alguns diálogos são previsíveis e a antagonista referir-se a seus mitos na mitologia grega me incomodaram um pouco, no entanto nada que ofuscasse certos pontos brilhantes que foram abordados, tais quais:

7a. A noção de um humano ao entender não ser capaz de influenciar em nada em um mundo recém-descoberto de deuses, monstros e semideuses. Afinal, se você é um comum mortal, que diferença sua vida faz em meio ao caos olimpiano de cada dia? Um ponto bem dramático que Riordan não teria como abordar, talvez nem com tanta propriedade como feito por seu filho.

*7b. Os detalhes sobre o relacionamento após a Batalha de Manhattan entre os Olimpianos e os deuses menores e seus filhos que lá lutaram ao lado de Cronos. Bastante interessante, principalmente pelo foco contrário ao que os guerreiros do Acampamento Meio-Sangue têm daquele dia.

*7c. Já esperava que outros seres pudessem manipular a Névoa, porém nunca descobriria que determinados semideuses o podem, assim como desconhecia o(a) portador(a) da função de mantê-la distanciando o mundo mortal e o olimpiano.

*7d. Nunca necessitei de uma explicação sobre como os monstros conseguem varejar semideuses, entretanto a justificativa foi razoavelmente plausível e mostra que a ação antagonista da série Os Heróis do Olimpo está agindo há bem mais tempo do que imaginávamos.
Uma luz branca e indistinta a cercava como uma névoa, mas o que realmente chamou minha atenção foram as tetas. Cada uma era marcada com letras gregas, como tatuagens. [...] As inscrições [...] eram: Néctar, Leite, Água, Refrigerante, Refrigerante diet e Puxe aqui para gelo. Ou talvez eu tenha lido errado. Espero que sim.
A qualidade para um escritor de dezesseis anos é impressionante, sem dúvidas leria um de seus trabalhos - que espero que não demorem tanto para serem lançados. As discrepâncias entre seu trabalho e o de Riordan não interferem na leitura, longe disso; revelam novos lados da perspectiva de tal universo e um leque de possibilidades futuras através de estilos que diferem e, ao mesmo tempo, se complementam.
Revi mentalmente a lista do piquenique: toalha confortável? Confere. A pizza favorita de Annabeth com porção extra de azeitonas? Confere. Bala de chocolate da La Maison du Chocolat? Confere. Água com gás e limão bem gelada? Confere. Armas para o caso de um repentino apocalipse mitológico grego? Confere.
8. Ilustrações, passatempos e diagramação
As artes de Steve James, ilustrando os ambientes mencionados nas histórias curtas após a maioria delas é uma ideia que apoiaria tranquilamente para os demais volumes do escritor. Fornecem um toque especial à proposta da obra, fertilizando a imaginação do ledor e desvendando detalhes em que não pensaríamos. Já o trabalho gráfico de Antonio Caparo, em encartes com versões das figuras citadas no livro, faz-me adotar uma postura diferente de apreciação. É sem dúvida um trabalho belíssimo, porém não encontro possibilidades de inserir tais feições quando penso em Percy, Annabeth e cia. Ao contrário de ilustrações oficiais de outros livros de diversos autores - que utilizando sem problemas em minha imaginação durante a leitura -, não consigo usá-las dessa maneira. Os passatempos são descomplicados, contudo não de toda facilidade e não mantive minha atenção a eles por muito tempo. A diagramação da editora, aplicando capa-dura às edições de acompanhamento de Riordan, está deslumbrante, com tipografia forte e raros problemas na grafia. É um desses volumes que se destacam naturalmente na estante; quando chegou fiquei observando-o hipnotizado por um bom tempo.
- Vai ficar tudo bem [...] Heróis nunca morrem certo?
Claymore teve vontade de dizer que, na verdade, os heróis sempre morriam nos mitos gregos.
9. Conclusão
Sem hesitar, a melhor obra acompanhante de saga do escritor, principalmente pelo espaço que antes era ocupado por descrições de criaturas e afins, agora preenchido por conteúdo narrativo inédito e. claro, de ótima qualidade. Por mais que os traços monstruosos no escudo da Medusa na capa lhe façam correr em busca de abrigo toda vez que olhá-la, é um exemplar indispensável para nenhum semideus botar defeito.
- [...] Se você mesma é uma deusa, para quem está rezando?
Ela fez uma pausa breve, virou-se para ele e abriu os brilhantes olhos verdes. Depois, como se a resposta fosse óbvia, sorriu.
- Tenho esperança de que descubra.
Título: Os Diários do Semideus.
Autor: Rick Riordan.
Editora: Intrínseca (cortesia).
Número de Páginas: 288.
Tradução: Débora Isidoro.

3 comentários:

  1. Aguardando o resultado rsrs

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  2. Oiee ^^
    Quando li a série Percy Jackson, consegui ler Os arquivos do semideus, e adorei, são histórias pequenas e muito legais, claro que, não tão quanto os livros da série em si. Já com As crônicas de Kane, infelizmente empaquei no primeiro livro, não consegui levar a leitura adiante, e acabou ficando nisso. Os heróis do olimpo já é outra coisa, amei a série ♥ ainda mais que Percy Jackson, já que agora temos personagens novos (e bem legais). Estou super ansiosa para ler Os diários do semideus, parece ser ainda melhor que Os arquivos do semideus.
    MilkMilks
    DM
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br
    http://hangoverat16.blogspot.com.br

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