sábado, 4 de maio de 2013

[Resenha] Lissa Price - Starters

Não há escolhas esperançosas quando seu corpo é alugado para matar.
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Não há dúvidas: mantive sim um certo preconceito com "Starters". Primeiramente pela capa, achava-a exagerada demais, talvez ressaltando a suposta qualidade ruim do enredo. Tampouco a quote de marketing na capa - que não está na original -, incitando os fãs de Jogos Vorazes a lerem o mesmo despertou algo para que eu viesse a experimentar a escrita de Lissa Price. E essa procrastinação indevida só foi eficaz para provar o quanto estava errado. É uma obra prima pela qual me afeiçoei tanto quanto o primeiro livro da trilogia de Suzanne Collins - irônico, não? - e isso deve significar alguma coisa. E nada irá obstruir esse buraco de arrependimento de não tê-lo vivenciado antes, apenas mais uma grande estupidez literária de minha parte. Espero que não cometam o mesmo erro após ler esta resenha, caros amigos.
Minha inquilina estava em algum ponto do prédio. Estava sentada em uma cadeira como a minha. Em pouco tempo, ela estaria controlando meu corpo como se fosse eu.
Callie perdeu os pais quando a Guerra dos Esporos varreu todas as pessoas entre 20 e 60 anos. Ela e seu irmão mais novo, Tyler, estão se virando, vivendo como desabrigados com seu amigo Michael e lutando contra rebeldes que os matariam por uma bolacha. A única esperança de Callie é a Prime Destinations, um lugar perturbado em Beverly Hills que abriga uma misteriosa figura conhecida como Velho. Ele contrata adolescentes para alugar seus corpos aos Enders - idosos que desejam ser jovens novamente. Callie, desesperada pelo dinheiro que os ajudará a sobreviver, concorda em ser uma doadora. Mas o que parecia ser a solução é apenas o começo de grandes descobertas... E Callie terá que lutar para tentar sobreviver.
Minhas chances de fugir eram tão pequenas que provavelmente não existia uma fração que pudesse descrevê-las.
Lissa Price
A escrita de Lissa é deliciosa. Ao lado de Callie, vivenciamos suas reclusões, seus vãos emocionais e principalmente os desejos sinceros de uma jovem em sua situação. É uma narração que transmite uma realidade precisa, não como uma história há muito ocorrida ou mesmo um material textual de alguma utopia futurística - bom, talvez um pouco. Tratamos de um enredo presente, que não abandona o leitor e se perde em si mesmo, através do desenrolar capcioso das tramas, da resolução sem demora dos segredos e principalmente da tensão a todo momento, levando-nos a exigir mais e mais da história. A ambientação bem formada em torno do clima em que tudo se passa constrói a sublimidade da obra, assim como a independência do leitor de cobrar além do escrito, até sugarmos o último relance do entretenimento nato que preenche "Starters" à cada página.

Ele começou a gritar enquanto amarraram uma correia ao redor de seus pulsos e do peito, implorando-lhes que o deixassem ir embora. Os inspetores ignoraram os apelos do garoto, inclinando-o para a frente e segurando a correia sobre os ombros para arrastá-lo enquanto se afastavam do lugar. Os calcanhares do garoto arranhavam o chão, e cada irregularidade no pavimento era pontuada por um grito.
Era como se houvessem capturado um animal.
A protagonista de Callie Woodland - ou Winterhill, se você já leu o livro - não remete a defeitos, pela naturalidade com que lida com os problemas que surgem à medida que sua vida deteriorada é tragada pelos objetivos moralmente discutíveis que a cercam. Ela teme pela própria vida como qualquer um temeria em seu lugar e não se arrisca apenas a fim de servir como a boa heroína do texto. Acompanhamos uma Callie que expande sua mente ao decorrer da jornada, não subjulgando a inteligência do ledor com atos pouco críveis ou dramas românticos por demais idealizados. Ela, entretanto, não se deixa intimidar pelos desafios e surpreende pela sua força e determinação quando o assunto lhe diz respeito e desperta os mais variados sentimentos nos que leem seus relatos. Não consegui não apreciar uma personagem tão bem equilibrada entre a ficcionalidade necessária de um livro como tal e a autenticidade de não cair em insipidez.
Quando saí do prédio, o ar fresco do outono atingiu meu rosto. Inspirei aquele ar conforme andava por entre a multidão de Enders que enchia a calçada. Acho que fui a única pessoa que recusou a oferta [...], a única que não caiu naquela conversa de vendedor. Mas eu sabia que não devia confiar nos Enders.
A outra variedade de personagens não deixa a desejar e não há desperdício em meio ao que está acontecendo, porém é evidente que não há espaço para que se crie algo além do foco em que foram criados, pois esse é o show de Callie, no final das contaas. Vemos que há todo um cuidado para formar as respectivas personalidades pensando em como elas a afetariam; como Tyler com seu jeito frágil e acriançado que sucinta em si a vontade de protegê-lo e salvá-lo e Blake, o possível amor que surge  em meio ao complicado turbilhão de mudanças em sua - talvez não tão sua - vida, fazendo-a descobrir mais de si mesma, mesmo quando não se permitia perder o alvo. São ótimas descrições, um estilo conciso que não decai de ritmo e faz a leitura passar mais depressa do que gostaríamos.
Ele se afastou com um sorriso infantil no rosto, como uma criança de 5 anos em um parque de diversões que acabou de ganhar um peixe-robô dourado.
A diagramação da Novo Conceito, nossa parceira que cedeu um exemplar, é um tanto quanto curiosa e a capa choca pelo seu padrão sem igual, com alto-relevo nas reentranças dos chips e oo brilho prateado que não esmorece. O já familiar excelente trabalho de tipografia da editora, com duplo espaçamento e letras fortes é simples e satisfaz. Mesmo sem contar o valor conteudista, é um lindo volume para se ter na estante. Mas não se esqueça de lê-lo, é claro.
Será que Cinderela chegara a cogitar a possibilidade de confessar a verdade para o príncipe na noite em que se divertira com o belo vestido no baile? Será que chegara a pensar em dizer que, ah, por falar nisso, Príncipe, a carruagem não é minha, sou apenas uma criada suja e descalça e essa aparência não vai durar muito tempo? Não. Ela tinha aproveitado cada momento. E fora embora discretamente depois da meia-noite.
"Enders", a continuação
de "Starters"


Espero que não leve muito tempo para podermos conferir sua continuação, "Enders", porque falamos de um enredo rápido e simultaneamente coeso, que não retrocede e guarda surpresas, o que é muito importante notar quando todas as cartas do enredo parecer terem sido colocadas sobre a mesa. Há um claro sentimento distópico por trás do poder que Price possui ao levar a narrativa à conclusão, envolvendo o leitor como escritores de grandes best-sellers atuais são notórios por fazer.  Logo, "Starters" é um livro para multidões e para aqueles que ainda não se apaixonaram pelo modo de escrever de Price, mesmo sem ter conhecimento disso, mal podem esperar para ter essa queridinha em seu hall da fama literário. No meu ela já está, não há dúvidas.
- Temos muito trabalho a fazer. - Doris colocou a mão em minhas costas, guiando-me em direção a uma porta dupla. - Você não vai nem conseguir se reconhecer quando terminarmos.
- É disso que eu tenho medo.
Título: Starters.
Autores: Lissa Price.
Editora: Novo Conceito (cortesia).
Número de Páginas: 368.
Tradução: Ivar Panazzolo Júnior.

6 comentários:

  1. Ganhei o livro, mas ainda não li, agora quero ler logo RSRSRS

    Bjs

    http://eternamente-princesa.blogspot.com.br/

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  2. Me interessei. Vou procurar o livro, pq gostei demais do seu resumo! Brigadão, Caique!

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  3. Esse livro é muuito bom *----*

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  4. Na verdade, não foi um resumo, Fernanda. Foi uma resenha, uma crítica literária, mas obrigado por passar por aqui (:

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