terça-feira, 5 de março de 2013

[Resenha] Pittacus Lore - Eu Sou O Número Quatro

"Ready for abduction". __________________________________________________________________________________________
                                                                                                            ("Pronto para abdução.") - Sem spoilers

Eu Sou o Número Quatro
Apesar de ter me tornado um consumidor de livros muitíssimo maior do que eu era, não sou uma pessoa que compra volumes e volumes deliberadamente por qualquer motivo e que não sabe ao menos quando irá lê-los. Não tenho nada contra esse tipo de leitor, só não me encaixo nesse meio e tal afirmação é mais uma explicação do que estou prestes a lhes contar. “Eu Sou O Número Quatro” me chama a atenção desde que assisti ao filme homônimo – já assistiu ou pretende ver? Leia nossa crítica clicando aqui – e que descobri sua proposta ufológica. Nunca li nada do tipo e realmente gostaria de experimentar, por isso na Bienal do Livro do Rio de 2011 adquiri um exemplar e agora, dois anos depois e com o anúncio do quarto volume da série por aqui, resolvi me aventurar sem carteira de habilitação pelas estradas de Paradise, Ohio. Ponham os cintos, por favor.
Até a cicatriz aparecer, eu quase me convencera de que minhas lembranças não eram realidade, de que o que Henri me dissera estava errado. Queria ser uma criança normal levando uma vida normal, mas então eu soube, sem margem pra dúvidas ou discussão, que eu não era.
Um planeta relativamente próximo à Terra chamado Lorien foi atacado pelos mogadorianos, uma raça devastadora que desejava consumir todos os seus recursos como fizera com seu próprio mundo. Na esperança de evitar a extinção da própria espécie, nove lorienos foram enviados à Terra para escapar da destruição que viera de Mogadore. Através de um encantamento, suas vidas foram seladas e eles só poderiam ser mortos na ordem correta de seus números. Sob os cuidados de seus guardiões, cada um seguiu seu próprio caminho, tão longe quanto possível da caçada que os mogadorianos empreenderam para achá-los. Mas o Número Um foi morto na Malásia. O Número Dois foi assassinado na Inglaterra. O Número Três acabou de ser perseguido e capturado no Quênia. E John Smith é o Número Quatro.
"Aquelas coisas que são mais evidentes são as que menos enxergamos." 
Aliens são um assunto um tanto peculiar, permissivo e livre demais para ser abordado, logo há a curiosidade de entender como isso funcionaria em uma narrativa. Embora o enredo seja coeso, a escrita é um tanto superficial em certas partes, principalmente quando nos apresentavam à mitologia proposta. Não parece que houve alguma edição que “encorpasse” o texto ou mesmo o incrementasse aos moldes necessários para evoluir do comum para o profissional; eram momentos e mais momentos de composições demasiadamente simplistas. Por mais que tal estratégia aproxime os leitores mais jovens e alcance um público-alvo maior e mais receptivo, tampouco é motivo para abrir mão de melhorar algo tão essencial quanto à maneira como se conta uma história.
"São os pequenos deslizes que levam aos grandes erros. Você não pode errar."
O ritmo não se perde em momento algum e a empolgação é mantida, o que é louvável com uma trama tão quente e instável em mãos, pois lembrem-se de que estamos tratando de alienígenas, um tema que de tão ilimitado pode ser perigoso nas mãos de um autor inspirado. Pittacus – esse é apenas um pseudônimo para a dupla de autores reais, porém decidi manter o termo para a resenha – consegue arquitetar nuances de ação seguidos que não cansam ou soam pejorativos, graças à organização dos fatos que não estão ali pelo puro acaso cronológico de sua imaginação. As cenas caminham para uma única direção que, mesmo estando determinada, é tão nebulosa e desconhecida que permanecemos tentados a descobrir o que irá acontecer.
Nós realmente acreditamos em algum ponto que poderíamos ganhar?
 A gama bem dividida de personagens é presente desde o começo do livro, mas não há muita oportunidade para desenvolver qualquer um que não seja John, o narrador-personagem que detém o foco do texto. Não chega a ser bom ou ruim, entretanto é interessante não permanecer apenas com os próprios dilemas e creio que tal dinâmica alinhada à teia principal poderia funcionar se houvesse um ênfase maior a eles. John é um bom protagonista e cumpre sua função de ser o herói apaixonado do romance sem ser achacado com uma lista de adjetivos primorosos ou envolto com o papel da perfeição. Ele é até bem normal para ser o centro das atenções de um enredo como esse e foi um dos fatos que mais me empolgaram durante a experiência. Trata-se de algo bem inteligente; não se perder nas próprias complicações habituais dos protagonistas quando há tantas outras coisas a serem aprofundadas e trabalhadas ao longo da prosa. Bernie Kosar, o cachorro de John, arrancou-me vários sorrisos durante a leitura, fora definitivamente o meu personagem predileto. Mesmo que o não aproveitamento total do estilo de escrita torne os vilões levemente caricatos, não é nenhum ponto fraco do carro-chefe d’os Legados de Lorien.
Henry sempre disse: O preço de uma lembrança é a lembrança da dor que ela traz.
As descrições são delimitadas a nos colocarem onde o Número Quatro se encontra e moldadas para não entediarem o leitor. Mesmo que Lore aprofunde cada vez mais sua mitologia, aquela impressão de “isso poderia ser bem melhor escrito” atrapalhou consideravelmente minha visão da obra, pois não a vi tão seriamente como gostaria, pelo menos até o final. Este sim é o estopim da ação, agonia e empolgação, conjecturando-se como o trecho em que me conectei de verdade à proposta; quando a habilidade de escrita percorreu os quatro cantos da eficiência e ofereceram um estilo que desejei ter lido durante todo o livro. Não me entendam errado, não se trata de uma leitura ruim, muitíssimo pelo contrário, é uma história ótima e mal posso aguardar uma brecha na pilha de leitura para ler sua continuação. Apenas sou obrigado a olhar qualquer material de leitura sob um olhar crítico, analítico. Não há como evitar depois de se tornar um blogueiro literário, um fardo que vamos carregar por inúmeros “isso vai ficar ótimo na resenha”.
Eles estão nos caçando, e não vão parar enquanto não tiverem matado todos nós.
Eu Sou O Número Quatro é simplesmente uma excelente obra que poderia ter sido melhor editada para ascender ainda mais no quesito "escrita". Um pouco mais de desenvolvimento dos coadjuvantes e voilá. Para não me atrasar em demasia, planejo ler sua continuação, O Poder dos Seis, ainda este ano e já reparei em comentários mais que positivos acerca do mesmo. Só espero que você não esteja aguardando ser abduzido(a) para ler a história dos nove lorienos e compartilhar sua opinião comigo escrevendo símbolos estranhos em plantações.
“Eu não sou quem você pensa que eu sou”, eu disse.
“Quem é você?”
“Eu sou o Número Quatro.”
Título: Eu Sou O Número Quatro (Os Legados de Lorien #1).
Autora: Pittacus Lore.
Editora: Intrínseca.
Número de Páginas: 352.
Tradução: Débora Isidoro.

4 comentários:

  1. Ooooi! ok. eu me vi na sua descrição de leitores que compram livros sem fazer ideia de quanto os lerão, oiaeuaoeiuaeoiu. Isso é triste, mas, depois que aproveitei e fui feliz na promoção de Stephen King, prometi que só comprarei livros na Bienal! (Isso tem um mês! Estou no lucro!)
    Então, a resenha... Nossa, eu quero ler Eu sou o Número Quatro, mas aquele medo de "gastar o tempo" lendo algo que nãOa ia gostar viva tomando conta de mim, saber que você gostou já anima, você sabe, confio no seu gosto =).

    Chato que a escrita não seja tão boa assim, mas acredito que disso eu iria gostar, exatamente por trazer essa proximidade. Ainda mais se é na primeira pessoa o livro, acho que ia ficar estranho se houve explicações demais... A não ser que ele fale com o leitor, sei lá, rs.
    Enfim, ainda não sei quando lerei, sinceramente, já tenho o segundo também, comprando na Bienal de 2012, mas a vontade apareceu, de verdade, haha... E se tudo der certo -ou errado, dependendo do ponto de vista- vou ter um pouco mais de liberdade pra ler qualquer coisa, hahahahaa..

    Beijos, Nanda

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  2. HAHA, I'm not judging xD E que promo foi essa do Stephen King que não fiquem sabendo? Devo ler "Christine" daqui a uns dois livros e estou bem ansioso, mas você comprou o quê? Acho que você irá gostar bastantão de "Eu Sou O Número Quatro", principalmente dos elementos de ensino médio e acho que vai achar o romance deles bem - como você diria, rs - "fofinho". E agora que comecei a ler a série e a resenha te empolgou, precisa manter a tradição de me passar na leitura. Grande beijo!

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  3. Oi Caíque!
    Vi o filme, gostei e fiquei com mais vontade ainda de ler o livro.
    Você que foi esperto de comprar logo o seu exemplar, mas ter que ler todos os da série sendo que ela já está chegando no quarto volume fica difícil. rsrs
    Gostei da resenha. A história é muito boa e não vejo a hora de comprar o meu (tomara que isso aconteça logo, porque a cada livro lançado dessa série bate um desânimo de começar... rsrs)

    Beijos,
    Gabi Lima
    http://livrofilmeecia.blogspot.com.br

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  4. Oi Caíque, voltei. Fiquei tão tocada com sua resposta ao meu comentário, e cá estou eu, registrando o site no meu ip pra ter a desculpa de voltar mais vezes... rs

    Esse livro eu lí na mesma época q o filme saiu... e, desculpe, mas eu não gostei. Ele é um dos poucos livros que fogem à minha regra geral de "todo livro é melhor q o filme/série". Não achei a escrita coesa, faltou algo, como se faltasse farinha no bolo, sabe. Não consegui ser convencida com a mitologia da serie, não consegui nem dar atenção direito para os outros personagens. Vamos resumir assim: não odiei o livro, mas ele é um daqueles que eu não vou ter a vontade de reler (nem que seja uma partezinha). Não estou nem ansiosa pela continuação (serão quantos, afinal?)...


    Mas vamos combinar, o plot, a idéia original era ótima!!! Será que a continuação vai ser melhor? Hum, que droga, agora eu fiquei curiosa... lá vou eu ler algo... e se for decepcionante desse mesmo jeito... afe. A culpa é sua, viu. rsss

    Grande abraço!

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