sábado, 9 de fevereiro de 2013

[Resenha] Rick Riordan - O Filho de Netuno

Nem mesmo Hera poderia me fazer esquecer como é bom ler Rick Riordan. __________________________________________________________________________________________
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O Filho de Netuno
Mais uma vez inicio uma crítica extremamente árdua de ser escrita. Leitores usuais de blogs literários já notaram que para nós, blogueiros, é muito mais difícil criticar uma obra que nos conquistou do que uma que alimentou nosso ódio desde o primeiro capítulo. É o que acontece com “O Filho de Netuno”, o segundo volume da série Os Heróis do Olimpo de Rick Riordan, cedido para resenha por nossa parceira, a Editora Intrínseca. Trata-se de um livro que, como seu precursor, conquista o leitor desde a página número um, trazendo à tona tudo aquilo que nos faz amar a narrativa do autor consagrado e querer desesperadamente sua sequência. Comece a ler e seja escravizado como um homem no quartel-general das Amazonas a terminá-lo. Se não deseja saber spoilers ao ler a sinopse, pule o parágrafo a seguir.
Marte puxou um rolo de pergaminho do cinto. 
- Alguém aí tem uma caneta? 

Os legionários ficaram olhando para ele.
Marte suspirou. 

- Duzentos romanos e ninguém tem uma caneta? Deixem pra lá.
A vida de Percy Jackson nunca foi fácil, principalmente agora que ele está completamente sem memória. Guiado pela loba Lupa a encontrar um refúgio para semideuses como ele, Percy se torna o mais novo membro do Acampamento Júpiter, um lugar que segue os padrões de Roma, onde ursinhos-de-pelúcia são dilacerados para revelar presságios, faunos são mendigos e semideuses veteranos podem ter uma vida tranquila, familiar e longa. Ele sabe que não pertence àquele lugar, mas quando descobre que a Morte foi raptada e que os monstros não podem mais ser mortos e estão se reunindo para atacar o acampamento, o filho de Netuno – Poseidon, que seja – aceita uma jornada rumo ao Alasca, uma terra além do alcance dos deuses e onde a Morte está sequestrada, ao lado de seus novos amigos, Hazel e Frank, que apesar de serem boas pessoas, sabem esconder obscuros segredos.
- Isso é porque guardamos armas no sótão, garoto bobo. Você acha que esta é a primeira vez que monstros atacam nossa família? 
- Armas [...] Certo. Eu nunca usei armas. 

As narinas da avó inflaram. 

- Isso foi sarcasmo [...] ?

- Sim, vó. 

- Ótimo, talvez ainda haja esperança para você.
Uma típica sinopse de livros escritos por Rick Riordan, certo? Depois de vivenciar dez livros do escritor, logo podemos notar pontos clássicos de seu trabalho, nunca ausente em qualquer obra escrita pelo mesmo. Assim, se for ler um livro do “tio Rick”, irá encontrar:

1. Adolescentes/jovens em uma aventura/viagem de muita ação.
2. A aventura/viagem tem como objetivo salvar o mundo, um lugar específico ou um objeto especial.
3. Eles têm um prazo para cumprir esse objetivo, normalmente menos de uma semana e essa data faz parte do calendário greco-romano. Ex.: Solstício de Verão.
4. Humor impecável, inteligente e cativante.

Poderia citar muitas outras características de suas obras, porém creio que seja suficiente. A escrita de Rick continua imaculável de tão envolvente. A leitura é prazerosa ao ponto de lermos e não nos darmos conta de quanto lemos. Estamos imersos na realidade proposta e não importa quantas vezes tive que interromper a leitura, mal podia esperar para voltar a ela, mal conseguia pensar em outra coisa. É notável que o autor saiba o que está fazendo, fugindo dos clichês de personagens principais fisicamente louváveis e estereotipados que encontramos nos livros do gênero. Ao final da narrativa, não há como evitar sentir falta de Percy, Hazel e Frank enchendo nossas cabeças com suas palavras e dilemas enfrentados; como segredos, insegurança, sacrifícios, dever, coragem e amizade. Eles rendem reflexões interessantes aos leitores, quando a ficção e a realidade colapsam e se miscigenam.
[...] - E qual é o problema de Dakota?
- Ele está bem. É filho de Baco, o deus do vinho. Tem um problema com bebida.
[...] - Vocês o deixam beber vinho?
- Céus, não! [...] Isso seria um desastre. Ele é viciado em Tang vermelho.
Tão qual em “O Herói Perdido”, o primeiro livro da saga, a múltipla narratividade é eficiente, denotando-se as variadas personalidades sem fugir da proposta geral ou confundir as maneiras de ser de cada um. Rick consegue nos entregar figuras novas e únicas a cada livro, sem errar na mão em qualquer uma delas. A obra é essencialmente similar a seu antecessor, com um protagonista desmemoriado ao lado de personagens inéditos que nos fazem percorrer mais e mais páginas em busca da revelação de seus segredos, uma viagem perigosa que os une e um objetivo que, se não cumprido, terá consequências extremamente negativas. Apesar da fórmula condimentada, o texto flui perfeitamente bem e é tão bom quanto o outro, que na minha opinião é melhor que qualquer livro da série Percy Jackson e os Olimpianos. Agora, “O Filho de Netuno” e seu antecessor estão páreo a páreo. Esse molde de enredo tem um fundamento lógico e que descobrimos ao final da leitura, o que acarretará nas continuações dessa nova saga.
[...] a mente dos mortais podia acreditar em qualquer coisa, exceto na verdade.
Uma das maiores façanhas de Riordan é agregar personalidades hilárias e estranhamente compreensíveis a criaturas mitológicas, animais lendários e deuses temidos. Górgonas podem tentar te matar enquanto oferecem amostras grátis de cachorros-quentes, a deusa do arco-íris pode estar em dúvida sobre adotar o budismo ou o taoismo enquanto produz seus cupcakes sem glúten e a Morte pode sim usar um tablet para verificar se você é ou não um condenado do Mundo Inferior que fugiu da penitência eterna. Essa é minha característica preferida de seus livros que não se perde em exageros e foi apenas um fragmento das façanhas nesse sentido. Há tantos outros coadjuvantes e antagonistas bem construídos que o farão amar/odiar/rir/chorar mais rápido do que uma harpia superinteligente consegue citar a página dezesseis de Dominando a arte da culinária francesa.
Ele tirou um iPad preto do nada. O deus da morte bateu na tela algumas vezes, e tudo que Frank conseguia pensar era: por favor, que não haja um aplicativo para ceifar almas.
Esse humor tão habitual do escritor é ótimo, contudo notei ainda no início que ele tentava demais dominar o leitor, dando amostras de tal comicidade seguidamente. Creio que algumas piadas a menos teria um rendimento positivo maior; talvez seja o único ponto negativo do texto. O ritmo ditado é fiel do começo ao fim, sem se perder em suas próprias armadilhas para capturar o leitor para dentro dos capítulos – esses foram atenuados com números romanos, afirmando o caráter da obra. O design da Intrínseca é incrível a partir do momento que prossegue com a capa original americana – as mais belas, em minha opinião -, com detalhes vívidos e que, antes da metade do livro, já revela um pouco de sua conclusão, mas sem interferir na leitura em si. As páginas são resistentes e a revisão é incólume de quaisquer erros, intensificando a excelência do conto mitológico contemporâneo.
Além disso, ele ficou relutante em compartilhar sua única memória clara: o rosto de Annabeth, o cabelo loiro e os olhos cinzentos, o jeito que ela ria, atirando seus braços ao redor dele, e dando um beijo nele sempre que fazia algo estúpido. [...] Ele temia que se falasse sobre essa memória para alguém, ela evaporaria como um sonho. Ele não podia arriscar.
Poderia, sem hesitar, continuar tecendo elogios ao texto, porém estaria fugindo da proposta que me comprometi em dar. As resenhas - ao menos aqui no LLM - devem aguçar ou não sua vontade de ler a obra em questão, entretanto nunca revelar tudo que ela tem a oferecer. Isso faz parte da magia da leitura da qual não devem abrir mão. “O Filho de Netuno” é o fim da grandiosa preparação que Rick construiu para seus reais objetivos em Os Heróis do Olimpo e com certeza grandes coisas vêm por aí. Basta se apaixonar pelos personagens, torcer pelos romances, sofrer com as desventuras do destino, viajar pela mitologia, rir com os vilões, embarcar na jornada de São Francisco ao Alasca e massacrar piranhas-cupido até que A Marca de Atena, o terceiro volume, seja lançada por aqui. SPQR.
- Você pode me deixar aqui à mercê das górgonas e ir para o oceano. [...] No mar, nenhum monstro vai importuná-lo…
- Ou? [...]
- Ou pode fazer uma boa ação para uma velha senhora [...] e me levar até o acampamento.
[...] - E eu faria isso porque…
- Porque é uma gentileza! [...] E porque, se não fizer, os deuses morrerão, o mundo que conhecemos desaparecerá e todas as pessoas de sua antiga vida serão destruídas.
Título: O Filho de Netuno (Os Heróis do Olimpo #2).
Autora: Rick Riordan.
Editora: Intrínseca.
Número de Páginas: 432.
Tradução: Raquel Zampil.

8 comentários:

  1. Caíque, é notável em cada resenha o quanto você aprecia a obra de Rick Riordan. Não é à toa, também, já que tive a oportunidade de ler a série "Percy Jackson e os Olimpianos" em apenas uma semana e pude confirmar o que tanto falam bem a respeito do autor. Não que eu seja uma fã devota, até porque não é o meu gênero literário predileto, mas reconheço sua habilidade e, após a incrível resenha com a qual você nos presenteia nesta postagem, a minha vontade de ler "Os Heróis do Olimpo" só aumentou. Gostei de cada ponto evidenciado. Só esse humor forçado que pode sair dos trilhos às vezes, mas nada demais, como foi falado. Adorei esse trecho do Percy sobre Annabeth. Ternurinha! hahaha
    Beijo!

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  2. Acho que ser imparcial não seria o meu forte então, já que não consigo parar de admirar a escrita de Rick. É impressionante como ele consegue renovar essa vontade de ler suas obras a cada nova empreitada. Espero mesmo que leia em algum momento 'Os Heróis do Olimpo' para debatermos ainda mais sobre esse assunto tão gostoso que á a mitologia grega contemporânea aos olhos do autor. "Percabeth" é um romance com pequenos clichês e muita torcida, gosto deles de graça! Um beijão, bom recesso de Carnaval e obrigado por sempre comentar (:

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  3. Não li a resenha com medo de pegar algum spoiler mas comecei a ler O herói perdido ontem e já estou adorando.

    Soube que esta série é ainda melhor PJ então estou com altas expectativas. Espero que seja realmente boa.

    Beijinhos,

    Thais Priscilla

    http://thaypriscilla.blogspot.com.br

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  4. Mas a única coisa que possui spoilers é o parágrafo da sinopse, como afirmei no começo da resenha, Thais :\

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  5. Oi Caíque!
    Estou ficando desesperada! Você e a Nanda estão lendo os livros do tio Rick e eu ainda nem comecei. Preciso mesmo correr atrás do prejuízo. rsrs
    Adorei a resenha. Você só me deixou com mais vontade ainda de conferir as histórias criadas pelo Rick.

    Beijos,
    Gabi Lima
    http://livrofilmeecia.blogspot.com.br

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  6. Cara, isso é verdade xD Mas não fazemos isso por pressão e sim porque você merece ler algo tão divertido como Rick Riordan \o\ Se quiser, empresto o meu "Ladrão de Raios"! Beijão e obrigado pelo comentário [=

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  7. Oi Caíque!
    A resenha está ótima. Me fez pensar o porquê de ainda não ter pego esse livro pra ler, tipo: já! Eu parei no Herói Perdido e, apesar de ter adorado, confesso que, no meu caso, prefiro a série anterior - ao menos até agora. Não que essa seja inferior, talvez apenas sinto um carinho melhor por ter sido por ela que comecei a ler Riordan haha
    Mas quem sabe eu adore ainda mais O Filho de Netuno, afinal, Percy está de volta e ele sempre foi o meu personagem preferido.


    Concordo completamente com todas as características que você destacou a respeito da narrativa do Riordan. A gente se perde na leitura, viaja completamente e não quer mais parar de ler. Também acho incrível a capacidade que ele tem de mesclar as personalidades mitológicas com aspectos do mundo atual. Não importa o personagem narrador, o enredo traz sempre uma voz extremamente cômica, leve e irônica e, ainda assim, distintas. Cada um tem a sua personalidade bem definida, mas o bom humor e a capacidade de rir e fazer graça da situação estão sempre presentes.


    Enfim, acho que falei demais haha Pretendo prosseguir com a série assim que possível!


    Beijos!

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  8. Obrigado pelo elogio, Eduarda! Amo seus comentários, eles podem ser grandes o quanto quiserem ;D Entendo a sua preferência por PJ, mas não hesitei a afirmar meu favoritismo por "O Herói Perdido" assim que o terminei e lembro que no evento do livro aqui no Rio, uma das apresentadoras disse ter a mesma impressão. Percebi que possuía essas características em mãos no meio da leitura e assim fica fácil delimitar os caminhos que o autor pode seguir por suas obras e sem estragar a leitura em si. O humor dele é muito peculiar do próprio, você lê e já reconhece que foi escrito por ele xD Espero que possa lê-lo o quanto antes pela ótima experiência que é! Grande beijo (=

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