quinta-feira, 5 de julho de 2012

[Resenha] George R.R. Martin - A Fúria dos Reis

Quando os reis estão em guerra, toda a terra treme!
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                                                                                      Sem spoilers - Resenha do antecessor: A Guerra dos Tronos

Sinopse: Um cometa da cor do sangue e fogo atravessa o céu. E a partir da cidade antiga de Pedra do Dragão às margens proibidas de Winterfell, reina o caos. Seis nações lutam pelo controle de uma terra dividida e pelo Trono de Ferro dos Sete Reinos, preparando-se para o embate através de tumulto, confusão e guerra. É um conto em que irmãos conspiram contra irmãos e os mortos se levantam no meio da noite. Neste lugar uma princesa se disfarça como um garoto órfão, um cavaleiro espiritual prepara um veneno para uma feiticeira traidora, e homens selvagens descem das Montanhas da Lua para devastar o campo de batalha. Com um pano de fundo de incesto, alquimia e assassinato, a vitória pode chegar aos homens e mulheres possuidores do aço mais frio… E corações mais gelados. Quando os reis estão em guerra, toda a terra treme!
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Deixamos "A Guerra dos Tronos" com uma série de cliffhangers tão absurdamente intensos que a vontade é de, ao ler a última palavra, procurar de imediato a continuação da ramificada história dos Sete Reinos. Assim como o primeiro livro, "A Fúria dos Reis" possui inúmeras narrativas de 3ª pessoa sob vários pontos de vistas em uma quantidade maior que em seu antecessor; o que ainda é uma grande interrogação para os leitores. Enquanto globaliza o enredo épico, viajando de capítulo em capítulo pelos mais distantes e diversificados lugares de Westeros, o número de partes atribuídas a este ou aquele personagem são bastante desiguais, logo se nos afeiçoamos a alguns, frustamo-nos ao ver vários trechos se acumularem para chegar àquele que realmente queremos ler.

A noite é escura e cheia de terrores.
Apesar da excelência da saga de Martin ao redor do mundo, a capa brasileira impecavelmente trabalhada pelo francês Marc Simonetti se destaca como uma das mais profundas da série, resumindo bem o novo foco do enredo, onde uma pequena ação de um "pequeno" personagem pode alterar todo o rumo da história. Pela extensão das páginas, levá-lo para ler em vários lugares danifica-o mais rápido, já que livros grossos são propícios a deteriorar em um tempo mais curto que os comuns. Os mapas do mundo fictício seguem auxiliando toda a experiência, tal qual o apêndice de Casas nobres e afins ao final da obra e a capitulação simples atenuando a relevância maior do texto sobre a ornamentação.
- Não, chega de campos de batalha para mim, muito obrigado. Sento-me melhor numa cadeira do que num cavalo, e gosto mais de segurar uma taça de vinho do que um machado de batalha [...] os tambores me dão dor de cabeça, a luz do sol brilhando na minha armadura me cozinha como se fosse um ganso no dia da colheita, e esses magníficos corcéis cagam por todo lado. Não que esteja me queixando. Comparando a hospitalidade de que desfrutei [...], tambores, cocô de cavalo e picadas de moscas são as minhas coisas favoritas.
As expectativas após os fins que concluíram o livro anterior eram grandes e logo ao começo somos desapontados pela diminuição notável do ritmo viciante do final de AGDT. O autor aprofunda a mitologia do mundo que criou sem dosá-la o suficiente, deixando tudo muito carregado para o início, pouco para o meio e a cota restante ao final. Isso um pouco retrai o leitor que aterriza do voo de uma obra à sua continuação ávido por resoluções - voltamos à situação dos capítulos que terminam na auge e só se prosseguem quase cem páginas depois -, porém que perde parte do interesse logo na introdução. Eu mesmo, tanto por isso quanto pelo falta de tempo, abandonei a leitura no começo do ano e retornei à ela somente agora no meio de Junho, e sem arrependimentos.
- [...] Numa sala estão sentados três grandes homens, um rei, um sacerdote um homem rico com o seu ouro. Entre eles está um mercenário, um homem pequeno, de nascimento comum e sem grande inteligência. Cada um dos grandes pede a ele para matar os outros dois. "Faça isso", diz o rei, "pois eu sou seu governante por direito". "Faça isso", diz o sacerdote, "pois estou ordenando em nome dos deuses". "Faça isso", diz o rico, "e todo este ouro será seu". Agora, diga-me: Quem sobrevive e quem morre?
A fatal característica da escrita de George são seus personagens. Como um texto medieval-épico que se preze deve ter uma incomensurável gama deles, o autor não poupa nomes e títulos aos seus, e apesar do susto inicial de como conseguiu a façanha de apresentar tantas figuras - não esquecendo nenhuma, que fique claro! - e trabalhá-los tão bem, sem deixar pontas soltas ou impedir o leitor de ter uma clara imagem de cada um, de suas intenções, feições e até a própria história é impressionante. Somos levados à todas as sensações ao passar das folhas, por vezes reunindo todas em um único capítulo. Exímia conexão de trama, de pessoas aos locais de desenvolvimento e estes às descrições não tão extensas, oscilando da necessária admiração à dispensável estagnação. Não são muitos os livros que, como esse, leva-nos a admirar a técnica-literária crua como é.
A Muralha estendia-se para leste e para oeste, até tão longe quanto o olhar alcançava; tão imensa, que reduzia à insignificância as fortalezas de madeira e torres de pedra do castelo. Era o fim do mundo.
E nós vamos para além dela.
Evitar os spoilers - o que encurta e torna a análise um tanto quanto a torna frívola - inclui até mesmo nomes de personagens, pois o escritor não tem abstém de matar nenhum favorito; pelo contrário, goza em nos manter enclausurados no jogo de "Quem será a próxima vítima?". Portanto não citarei nomes dos que mantiveram suas cabeças no lugar do primeiro para o segundo volume, não privarei tal apreensão dos que estão por lê-lo. Essa atmosfera, bastante evidente no final do primeiro livro, se reforça por todo este e é pela tensão no ar e nervos à flor-da-pele que AFDR ganha o seu público. Não saber quem será a próxima cabeça empalhada na ponta de uma lança é tão viciante que o medo faz com que avancemos sem olhar para trás. Mesmo com os empecilhos estruturais, a obra mantém o ledor por um caminho tortuoso impossível de desviar.
- As masmorras não tem janelas. Lá embaixo uma hora é muito igual a outra, e para mim todas as horas são meia noite [...]
Sou claramente incluído na ordem dos fãs que só leram os livros devido à série de TV "Game of Thrones", da HBO. Tendo cada temporada baseada em um volume da saga de Martin - exceto a terceira e a quarta, que serão as divisões do "A Tormenta de Espadas" -, pude acompanhar os episódios da segunda temporada enquanto lia o enredo original. Com muitas mudanças que pouco condiziam com o que foi escrito, os episódios se sucederam sem muitas abordagens dos novos personagens, o que é extremamente melhor desenvolvido no livro. É essencial ler a obra original em algum momento, ter algo em que se basear é surpreendente e aguça o senso crítico, além do deleite de assistir o que foi lido na TV, sobrevindo diante dos seus olhos e não só em sua imaginação.
- Os verdadeiros cavaleiros protegem os fracos [...]
- Os verdadeiros cavaleiros não são mais reais do que os deuses. Se não pode se proteger por conta própria, morra e saia do caminho daqueles que podem. É o aço afiado e os braços fortes que governam este mundo, e nunca acredita em outra coisa.
"A Fúria dos Reis" torna-se uma continuação indispensável, que acrescenta e vicia tudo aquilo já conhecido de forma desvantajosa. Um nivelamento maior no número de capítulos para cada um dos personagens renderia aproveitamento melhor da história, sem falar na significante massa de fãs - fãs de verdade! - a mais que a obra iria conquistar totalmente e não só 80%, como em meu caso. A leitura foi extasiante e é esse êxtase que desejo. Ainda que a rotina permaneça corrida, que venha "A Tormenta da Espadas" e suas 1000 páginas, que seja minha próxima leitura. Simplesmente precisa ser. É ler para compreender.

Título: A Fúria dos Reis.
Autoras: George R.R. Martin.
Editora: Leya.
Número de Páginas: 656.

11 comentários:

  1. Adorei a resenha. Parabéns!!!
    Tenho muita vontade de ler esse livro, porém, falta-me coragem. (muuuuita folha e, eu tenho outras prioridades)

    Beijo,
    www.estanteseletiva.com

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  2. Eu sou suspeita pra dizer. Eu adorei o segundo tanto quanto o primeiro. Quero ler os 5 primeiros para fazer as resenhas em sequencia. Eu não senti essa queda de velocidade na narração, embora tenha emendado as leituras. Eu achei que seguiu o ritmo oscilante.

    E com certeza, algo que faz a gente se corroer é ter que esperar várias páginas pra chegar no próximo capítulo do personagem. As vezes demoram tanto que a gente até já tá interessado em outro acontecimento.

    A única coisa que me atrapalhava é ler as partes que era do Sir Davos. Eu sempre esquecia quem ele era, e depois da segunda página que eu me recordava. Ele aparecia pouco e me dava uma agonia não saber quem era aquele.

    liliescreve.blogspot.com

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    1. Um método muito peculiar esse o seu, Lili, ler todos em sequência requer tempo e dedicação, mas creio que isso só valorizará a qualidade das respectivas resenhas. Chega a ser agoniante esperar por capítulos dos nossos personagens favoritos, ou para saber exatamente o que aconteceu quando um acaba, isso é um dos pontos negativos que mais marcaram pra mim, infelizmente :(
      Obrigado pelo comentário, beijão!

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  3. Parabéns pela resenha!
    Primeira vez que venho aqui em seu blog e gostei bastante !

    Comecei com um blog literário também! Depois dá uma passadinha lá se quiser conferir!
    http://beyondofbooks.blogspot.com.br/

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  4. Vivo pegando este livro na biblioteca, mas acabo trocando por outro.
    Bjs, Rose.

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  5. Perfeita resenha, amigo. Como sempre ^^
    Infelizmente, tive um pequeno contratempo na compra do meu A Fúria dos Reis, e acabei deixando para o futuro. Quero muito ler, mas não será nem tão cedo (e olha que queria devorar A Tormenta de Espadas antes de começar a próxima temporada). Tudo a seu tempo...

    Beijos =*

    This

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    1. Obrigado This, você sempre é um amor e sabe como aumentar esse meu ego de blogueiro, o que não é muito recomendável, rsrs.
      Torço para que consiga AFDR logo, também tenho essa vontade louca de ler "A Tormenta de Espadas" antes da próxima temporada, mas são tantos livros, tantos lançamentos, tanto vestibular que tô ficando doido! Tentarei começar a ler agora nas férias, mas vai saber no que isso vai dar...
      Beijão!

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  6. Adorei a resenha Caique. Ja faz tempo que estou morrendo de vontade de ler esta série mas estou com uma lista enorme de livros na frente. Ao ler as resenhas dos dois primeiros livros da série fiquei mais ansiosa ainda, assim que terminar o que estou lendo atualmente vou começa-los imediatamente. Adoro seu blog, simplesmente virou uma página que tenho que abrir sempre que entro no computador. Até breve. Beijos da Dani :)

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  7. Oi Caíque!

    Todo mundo fala super bem dessa série. Eu não gosto muito desse universo medieval meio Senhor dos Anéis e o tamanho dos livros também é meio desanimador para mim. Tendo em conta que se decepcionar com um livro pequeno é bem melhor que se decepcionar com um livro enoooorme. Adorei sua resenha.

    Até mais! *Hugs*

    Se puder, acessa lá:

    — Blog Bobagens & Livros

    Vou adorar a sua visita! *_*

    — Matheus Goulart

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  8. não li a resenha pois ainda pretendo continuar a série e embora os preços dos livros sejam meio salgados, eu simplesmente achei a história magnifica! =]

    --
    hangover at 16

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    1. Mas você poderia ter livro, Caue, é SEM SPOILER! Está escrito abaixo do título. Mesmo assim, obrigado por comentar!

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