quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

[Controle Remoto #10] Histórias Cruzadas

I ain't never had no white person in my house before.
Desde muito cedo, deparamo-nos com o estudo do tráfico negreiro, a escravidão no Brasil, o Apartheid na África do Sul, a luta pelos direitos iguais com Martin Luther King, contudo alguém parou para ouvir àquelas que escutaram tudo isso em silêncio? Sim, as empregadas negras que trabalhavam para os brancos, criando seus filhos numa espécie de "evolução" da sujeição? Não mereciam elas serem ouvidas sobre como se sentiam em toda essa situação? Pois é isso que "The Help" se orgulha em fazer; dar voz àquelas que nunca puderam dizer em voz alta o que passavam. 
Courage sometimes skips a generation. Thank you for bringing it back to our family.
Baseado em um dos livros mais bem sucedidos em vendas de todos os tempos do New York Times, retrata Viola Davis como Aibileen e Octavia Spencer como Minny, revelando duas das três diferentes e incríveis mulheres do Mississipi durante a década de 60 que constroem uma impossível amizade graças a um secreto projeto literário que abala as regras da sociedade, o que as coloca em perigo. Disso tudo surge uma irmandade improvável, florescendo sua coragem para ultrapassar os limites que as definem e a conscientização de que às vezes, estes só existem para serem transcendidos. Mesmo que isso signifique fazer com que todas as pessoas da cidade encarem os novos tempos. 
Fried chicken just tend to make you feel better about life.
O filme possui uma bagagem realística muito forte, relatando com uma fidelidade peculiar todas as situações em que as domésticas eram colocadas. Aibileen (Viola Davis) é a protagonista, e demonstra em suas ações pouco emotivas todo o rancor e mágoa que guarda da vida, onde nenhuma consequência será um ponto final suficiente. Este é o lado dramático e psicologicamente conturbado da história. Já com Minny (Octavia Spencer), há a parte cômica, onde seus trejeitos, ações e sua personalidade única conferem muitos momentos de riso para o espectador, apesar de ela própria ter vários problemas piores que os de Aibileen. Esse contrabalanceamento de fatos, que não só pesa ou para o drama ou para a comédia oferece um tom de gênero como algo entre ambos; um grande dramalhão comediado.
Love and hate are two horns on the same goat, Eugenia. And you need a goat. 
A mentalidade das donas-de-casa da época sempre me parecia muito estereotipada, mas eis que então surge alguém para mudar isso: Jessica Chastain. Ela conseguiu interpretar brilhantemente a indesejada Celia Foote, onde todo o tratamento ríspido e a exclusão que lhe conferiram se deu por um boato mentiroso. A personagem também é tão única e de um tom suave tão especial que você realmente se envolve, sente pena e torce por ela, coisa que não faria se tratando dessa imagem de socialite. Esse trio é digno de todos os honráveis prêmios em que disputa "The Help": Viola, Octavia e Jessica fizeram o longa brilhar.
- I've never met a woman that says exactly what she's thinking.- Well, I got plenty to say.
O que é raro não acontecer nos dias de hoje, a obra é baseada no best-seller "A Resposta" de Kathryn Stockett (lançado recentemente pela Bertrand Brasil), logo a responsabilidade de se criar algo valoroso é ainda maior. A carga emocional é tranquilamente trabalhada, sem preencher o espectador de informações ou de tédio, já que os conflitos deixam todos ocupados todo o tempo. Podemos compreender que os negros não sofriam somente nas ruas quando lutavam pelos seus direitos ou eram gratuitamente hostilizados, porém também no cerne de sua vida profissional, tratados como uma raça completamente diferente e irregular, que necessitava de um banheiro separado do usado pelos brancos (não pelos seus patrões, pelos brancos), pois possuíam doenças diferentes e facilmente transmissíveis. A estapafúrdia é aceitada por elas de mal grado, mas quando é que uma mudança acontece de verdade quando todos só cruzam os braços?
All you do is scare and lie to try and get what you want.
É preciso alguém para mudar, para almejar avançar sobre as discriminações e virar a moeda, e esse alguém é Skeeter (Emma Stone), que também sofre com o preconceito de não ser tão feminina quanto se espera, objetivando a carreira e seus próprios projetos, inclusive esse, que relataria as experiências vividas pelas empregadas domésticas da região. Mas o que garante que falar é seguro? Que a polícia não pode prender seus filhos e atirar em você na frente deles? Acaba por ser cabível e entendido todo o receio de se publicar um livro assim, afinal, tudo estaria por um fio e as coisas nunca foram um mar de rosas. Entretanto, é assim, uma pessoa contagia outras com seu espírito de mudança e logo o que era uma ideia se torna um entusiasmado movimento secreto. E com esse absangente contexto, "Histórias Cruzadas" torna-se um filme intenso e pungente, inspirador do começo ao fim.
- They carry different diseases than we do. That's why I've drafted the Home Health Sanitation Initiative.
- The what?
- A disease-preventative bill that requires every white home to have a separate bathroom for the colored help. It's been endorsed by the White Citizen's Council.
- Maybe we should just build you a bathroom outside, Hilly. 
A densidade dos problemas, a comédia cotidiana, os dilemas interpessoais e principalmente a pouco divulgada condição dos negros dentro da realidade dos brancos bordam as margens de uma obra que merece palmas de pé. Contêm erros sim, mas o enredo é tão, tão bom que eclipsa qualquer possibilidade de se incomodar com eles. Assista, chore e assista novamente. Depois leia, e chore mais uma vez. Mas enfim, perceba: o tempo de mudar chegou e ele conta com você para ascender.
If you can love your enemy, you already have victory.



Título: Histórias Cruzadas (The Help). 
Diretor:
 Tate Taylor.
Gênero: Drama.
Duração: 2h e 26min.
Aproveitamento: Assista e aproveite bastante.

7 comentários:

  1. Esse filme tem uma história muito interessante, comentei de maneira breve no meu blog e me chamou muito a atenção. Certamente vou assistí-lo quando for ao cinema.
    Muito bom o post, Caíque.
    http://assistacomigo.wordpress.com

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  2. Oi, Caíque!

    Nossa, que filme grande! o_o Conhecia a história por alto... Não sabia ao certo o que era abordado e fiquei interessada! Como sempre, prefiro ler o livro antes, tomara que eu consiga fazer isso. Mas, caso não dê vou assistir ao filme sim, porque depois da sua crítica não tem como não ficar curiosa!

    Beijos,
    Amanda || Lendo&Comentando

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  3. muito lgl a resenha! e parece que a viola davis vai fazer a Amma no filme de Dezesseis Luas, espero que se for ela mesmo, o personagem fique tão bom quanto Aibileen!^^

    --
    hangover at 16

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  4. oiii *-*
    Cara, eu to meio sumida dos comentários daqui, né? :O Rs. Me perco, sorry ): rs
    Enfim, eu tinha ouvido falar muiiiito por alto desse filme e não me interessei muito g_g rs. Mesmocom sua otima critica sobra a historia/adaptação, eu realmente noa fiquei muito interessada :/

    Beijos, nanda
    www.julguepelacapa.blogspot.com

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  5. P.S.: Retiro tudo.
    Acabei de ver o trailer e quero muito ver!
    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

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  6. Nossa, nunca vi uma resenha de filme tão completa, parabéns. Eu quero muito assistir ao filme, mas pretendo antes ler o livro pra não perder o interesse depois. Não que a história possa ser ruim, mas qd vejo o filme sempre enrolo pra depois ler o livro rs

    Bjs,
    Kel
    www.itcultura.com

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  7. Tantos livros pra ler e filmes pra assistir. Não tô dando conta mesmo!

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