Quando Eddard Stark, lorde do castelo de Winterfell, recebe a visita do velho amigo, o rei Robert Baratheon, está longe de adivinhar que a sua vida, e a da sua família, está prestes a entrar numa espiral de tragédia, conspiração e morte. Durante a estadia, o rei convida Eddard a mudar-se para a corte e a assumir a prestigiada posição de Mão do Rei. Este aceita, mas apenas porque desconfia que o anterior detentor desse título foi envenenado pela própria rainha - uma cruel manipuladora do clã Lannister. Assim, perto do rei, Eddard tem esperança de o proteger da rainha. Mas ter os Lannister como inimigos é fatal - a ambição dessa família não tem limites e o rei corre um perigo muito maior do que Eddard temia. Sozinho na corte, Eddard também se apercebe que a sua vida nada vale. E até a sua família, longe no norte, pode estar em perigo.
- Cometi mais erros do que pode imaginar, mas este não foi um deles.
- Ah, mas foi, senhor [...] Quando se joga o jogo dos tronos, ganha-se ou morre. Não existe meio termo.
Não segurei o riso quando soube que, coincidentemente, o Robledo estava lendo o mesmo livro que eu. Foi uma surpresa, mas como somos sempre a favor do conteúdo diferenciado para o blog, fomos em frente com a leitura e aqui estou, mostrando minha opinião sobre a obra. Aficionado pela série de TV homônima e exemplarmente produzida pela HBO, fui conduzido a lê-lo e acabei guardando-o pelo tamanho e complexidade da história para trazer às mãos em um momento mais oportuno e tranquilo, como as férias. Meta feita; meta cumprida.
- Os deuses são misericordiosos - Pycelle inclinou a cabeça. - Visite-me sempre que desejar, Senhor Eddard. Estou aqui para servir.
Sim, pensou Ned quando a porta se fechou, mas a quem?
Parafraseando o SF Reviews, "A guerra dos tronos é a mais importante obra de fantasia desde que Bilbo achou o anel". Apesar do assustador impacto da primeira vista, pelo tamanho e imposição que possui, podemos mergulhar sem medo em páginas de sangue e morte, honra e traição. Nota-se uma frieza feita propositalmente pelo autor, revelando que esta não é mais uma história com um final feliz. E não se engane, não é. George não gosta exatamente dessa ligação, mas "A Guerra dos Tronos" é uma perfeita crítica à sociedade, onde a ambição leva pessoas aos seus limites, desestruturando famílias e isolando os de concepção "desconhecida e estranha".
Tyrion sentiu pena do rapaz. Escolhera uma vida dura... ou talvez fosse mais correto dizer que uma vida dura fora escolhida para ele.
Não só o texto em si tem muitas informações, entretanto o autor usa da arte de acrescentar mil e uma outras nas entrelinhas, criando todo um arco ainda mais rico do que poderia ser só pelo extenso texto. Por mais que muitos fiquem com receio de não gravar tantos nomes e sobrenomes, acredite, isto não é necessário e Martin enfasa-os para não se perder. Assim como as descrições físicas e climáticas da histórias, positivando um enredo indubitavelmente verossímil, imergindo o leitor na realidade deste universo tão próprio e único. Com as constantes mudanças de ponto de vista, de capítulo em capítulo, é como estar lado-a-lado com cada um dos narradores-personagens, em diferentes lugares na fértil imaginação do autor.
- É lento para aprender, Senhor Eddard. Desconfiar de mim foi a coisa mais sensata que fez desde que desceu de seu cavalo.
Infelizmente, quando o leitor começa a se afeiçoar por um personagem, o capítulo em que este é o narrador é interrompido, e um novo momento com o mesmo só acontece páginas e páginas depois. Ocorre que você torce, mas não se envolve tanto assim com qualquer personagem - o que não aconteceu comigo, que já me envolvi com a história muito antes, quando assisti à série. Que isso seja visto como uma grande jogada, pois cria em você essa necessidade de prosseguir com a leitura até a próxima parte do seu personagem com que há um envolvimento em potencial. Não se pode queixar de tédio, as caracterizações gerais não são abusivas, nem mesmo nos momentos menos "explosivos" por assim dizer; até porque cada fim de capítulo é quase sempre surpreendente.
Ned olhou sem expressão, calado, à espera. Ao longo dos anos, descobrira que o silêncio por vezes recompensava mais que as perguntas.
A ação dos personagens é justificada por seu passado, e todos possuem algum, assim como na vida real, onde o que passamos se torna o que somos. Desvendar o drama, o desconsolo por trás de falas confusas na primeira vista é um deleite para formar o quebra-cabeça dos tronos. George aproveita para, aos poucos, contar o passado também de onde estamos, em momentos oportunos e sem atolar ninguém em pareceres desnecessários. A realidade empregada às páginas traz sinceridade, fazendo o leitor interagir mais com personagens que não parecem viver em um platonismo inerte.
- [...] Aquilo que amamos nos destrói sempre, rapaz. Lembre-se disso. [...]
Se é que existe; a fronteira entre protagonistas e antagonistas é muito mais corrompível, onde alguém que até o leitor confia vira inimigo de estado posto em exílio ao virar de uma lauda. Essa imprevisibilidade é um dos fatores que mais intriga e seduz os fãs, e já como disse ao Robledo em uma conversa, Martin não tem nenhum amor eterno e incondicional pelos seus personagens, todos são tão mortais quanto eu e você, e basta um passo em falso e não estará mais entre os vivos. A tradução pelo Jorge Candeias está exemplar, não poderia ter aplicado melhores termos para tantos sobrenomes, alcunhas e topônimos, simplesmente uma tarefa que deve ter dado muita dor-de-cabeça, mas que valeu a pena cada segundo desprendido para fazê-lo.
- [...] Isto é a guerra, é assim que ela é, é este o preço pelo Trono de Ferro.
A diagramação, que como mencionei, assusta de primeira vista, conclui por se revelar acurada; com sua postura "pesada", complexa e arrebatadora. Por se tratar de um livro extenso, sua vida útil não é muito grande, com o tempo de uso as pontas das capa e contra-capa vão soltando nas bordas e o "miolo" do livro vai se desprendendo do interior, o que não interfere na leitura e muito menos na beleza da edição. A mitologia das estações do ano - que no enredo pode durar anos, décadas - é a base de tudo, e é reforçado especialmente para que o leitor assimile isso, criando toda uma expectativa e um receio do temível tempo que se aproxima. Depois de um verão de dez anos - o maior de todos -, um mais extenso inverno está chegando. A partir dos títulos em alto relevo, os mapas, o apêndice com os personagens e suas Casas, tudo contribui para "A Guerra dos Tronos" não ser apenas uma leitura, e sim uma desconforme e imperdível experiência.
- Nunca acredite em nada do que ouvir junto à mama de uma mulher. Há coisas a aprender mesmo com os mortos.Ao mesmo tempo que soa como um espaçado banho de sangue, contrapõe-se pelo amor, presente nas relações de todos os personagens, desde os mais detestáveis aos que queremos que vivam até o fim. O amor, de alguma maneira, é o motivador de mortes e guerras, assim como a resposta para o findar dos mesmos; o amor por alguém que não deveria amar e ama, o amor por alguém que foi assassinado e o que fará para vingá-lo, o amor a si próprio quando ninguém se permitiu amá-lo. Há vários plots sim, entretanto, como tudo parece acontecer ao redor dos Stark, vejo que há neles a maior perda, a perda de sua família. Pois é essa a história para mim, a desarticulação de uma família e a consequência disso em seus componentes, tornando multíplice as lições e muito mais profundas.
- [...] Quando os mortos andam à caça na noite, julga que importa quem se senta no Trono de Ferro?Martin inseriu em um livro muito além do que não coube nesta resenha; creio que um ótimo iniciar no meu ano literário - e do LLM também. Incomoda de uma maneira, aquela maneira que faz terminar a leitura e continuar refletindo a história, permanecer mergulhado nos problemas de Westeros e de seus filhos, afinal, "a busca pelo poder é um tema universal" e cheio de possibilidades. Se chata, muito medieval ou complicada lhe parece, esqueça e leia de uma vez. Otimismo há nas consequências quando analisamos algo antes de agir, mas perdemos tanta coisa quando pensamos demais. Havendo a chance de lê-lo, comece antes que o inverno chegue. Acredite, ele está vindo.
- [...] Parece que havia só dois... duas dessas criaturas, fossem elas o que fossem, não os chamarei de homens. E devemos dar graças aos deuses. Mais e... bom, não vale a pena pensar nisso. Mas vai haver mais. Posso senti-lo nestes meus velhos ossos, e Meistre Aemon concorda. Os ventos frios estão se erguendo. O verão está no fim, e está para chegar um inverno como o mundo nunca viu.
Título: As Crônicas de Gelo e Fogo #1: A Guerra dos Tronos.
Autor: George R. R. Martin.
Editora: Leya.
Tradução: Jorge Candeias.
Tradução: Jorge Candeias.
Número de páginas: 567 + apêndice com personagens e suas Casas.
Avaliação: 5 de 5.
Oi! =)
ResponderExcluirEsse livro parece ser realmente muito bom, já vi várias resenhas dele, e todas me deixam curiosa. Pra você ter uma noção, ontem eu sai e vi um homem lendo esse livro numa calçada! Fiquei com tanta vontade de perguntar algo pra ele, mais acabei nem falando nada! Quero muito lê-lo!
Adorei a resenha, está ótima e bem complexa! Aproveitando esse post.. Gostaria de ser parceiro lá do blog? Dá uma passada lá e mande a resposta por comentário ou pelo e-mail, na página contato. Obrigada desde já, ficarei esperando a resposta!
Beijos, Renata =)
http://diariodeuma-leitora.blogspot.com/
Para o livro receber a nota máxima deve ser realmente bom.
ResponderExcluirEu gosto desse gênero de livro principalmente depois da Depressão pós romances
http://aleitoracassia.blogspot.com/
Oi, Caíque.
ResponderExcluirEu adquiri esse livro tem pouco tempo, ainda não tive a oportunidade de lê-lo, mas já vi um episódio da série e gostei bastante, e depois de ler a sua resenha pensei até em colocá-lo na frente dos outros livros que eu ia ler antes dele.
Mas enfim, estou começando um blog sobre filmes e caso você queira visitá-lo, gostaria muito, e talvez você perceba que eu vou o dono daquele antigo blog 4 Your Fun.
Abraço. Vitor.
http://assistacomigo.wordpress.com
Muito legal este blog, super cheio de personalidade e bem diferente da maioria dos blogs literários que vemos por aí, é claro que eu não poeria deixar de seguir e deixar aqui a minha opinião. Adorei mesmo!
ResponderExcluirObrigada pela visita e comentário lá no Balaio.
Vanessa Meiser
tô louquinha para ler esse livro! ia começar a assistir a série quando o desastre doa lei SOPA aconteceu :(((
ResponderExcluirJá faz um bom tempo que estou morrendo de vontade de ler esse livro. E, felizmente, tive a sorte de ganhá-lo em um sorteio... Quando ele chegar, tratarei de arrumar um espaço bem próximo para ele na minha fila de leitura.
ResponderExcluirMas, enfim, sua resenha me deixou mais ansiosa para essa leitura ainda. Essa história parece ser completamente fascinante e emocionante, independente de seu tamanho assustador.
Vontade de conhecer esse mundo não falta! *-*
Beeeijos
Marina Oliveira
http://distribuindosonhos.blogspot.com
Aii, já nem queria ler o livro! Agora me deu uma curiosidade muito grande, eu preciso ler, vai ser o próximo livro que irei comprar.
ResponderExcluirMas sua resenha, não tenho palavras, muito boa mesmo, Parabéns!!
Beijãoo!!
Oiii *-* Sabe, vocês aqui sempre me deixam com essa vontade de fazer essas loucuras e ler esses livro gigantescos D: HASIUDHIAUHSE' Eu já tava meio afim, agora realmente to com vontade >< rs. Mas sei que nem tão cedo vou fazê-lo ;x
ResponderExcluirEnfim, o livro parece incrível mesmo *-* Parabéns pela resenha incrível :D
Beijo, Nanda
Julgue pela Capa
Esse sim deve ser um bom livro, estou ansioso pra começar logo a ler ele, mas a fila está enorme, sua resenha me convenceu muito!!!
ResponderExcluirLi e estou desesperada para ler o livro 2. Só que tenho uns 4 livros pra ler antes, e estou me segurando pra não comprá-lo, por enquanto.
ResponderExcluirParabéns pelo blog! Procurei por um que não tivesse apenas resenhas de livros contemporâneos, adolescentes e estrangeiros. E encontrei este.