domingo, 30 de outubro de 2011

[Resenha] Sidney Sheldon - O outro lado de mim

A blogosfera odeia (auto)biografias. Nós mesmos, aqui do Livros, letras e metas, geralmente deixamos claro aos nossos parceiros que não aceitamos livros que simplesmente descrevam a vida de alguém conhecido pela comunidade internacional. Entretanto, eu sou um ferrenho adepto da teoria de que toda e qualquer fonte de conhecimento é válida, e prefiro só formar uma opinião concreta sobre um assunto depois de longos momentos de pesquisa ou de prolongados contatos com o meu objeto de estudos. Assim, quando me deparei com O outro lado de mim na Bienal, percorreu-me a mente uma ideia lacônica, mas bastante importante: "Ora, por que não?". Sempre fui um declarado fã da obra do Sidney Sheldon, e também sempre nutri a vontade de conhecer os detalhes da trajetória artística do autor. Não havia motivos para que eu não lesse a biografia do famosíssimo mestre do suspense. Assim, lá fui eu à leitura da primeira biografia que folheei na vida.

O que acontece é que esse é um gênero literário com características muitíssimo particulares. É como se, em vez de focar no lado emotivo, você direcionasse seus holofotes ao referencial: lê-se biografias com o objetivo de se aproximar mais e mais da história de vida de determinada personalidade, e não de conhecer seus mais profundos sentimentos. O autor de um livro desses tem uma tarefa árdua: resumir toda uma vida em uma quantidade mínima de páginas, sem que episódios importantes sejam esquecidos e sem que o leitor perca o fio da meada. Alguém que faz sua autobiografia tem, talvez, um pouco mais de liberdade (pode incluir, por exemplo, trechos de cartas e diários que revelem algumas de suas emoções); o gênero, contudo, sempre oferecerá barreiras e limitações.
No campus, observando os grupos de estudantes entrando e saindo das salas de aula, pensei: "São todos anônimos. Quando morrerem, ninguém jamais saberá que chegaram a viver nesta terra. "Fui tomado por uma onda de depressão. "Quero que as pessoas saibam que estive por aqui", pensei. "Quero fazer a diferença."
Essa é a única justificativa, na minha opinião, para a frieza que permeia cada página das memórias de Sheldon. Reitero que essa foi a primeira biografia que folheei na vida - como não possuo parâmetros para comparações, resta-me apenas a exposição do que este livro causou em mim. E por mais que me doa criticar o autor que me apresentou ao oásis da leitura, a análise imparcial é necessária: O outro lado de mim não emociona porque tem informação demais. Praticamente todos os capítulos são delineados por menções a uma grande variedade de importantes figuras do cinema e da televisão da época do autor. Por mais que sejam todos seres reais, é virtualmente impossível guardar todos aqueles nomes em sua cabeça. Produtores, roteiristas, diretores, empresários, agentes... Não duvido que cada um deles tenha sido importantíssimo na vida de Sheldon, mas não se pode pedir que o leitor preserve, com facilidade, as características de todos eles.
Eu estava no set de "Jovem, rica e bonita" no primeiro dia de filmagem. Tinha escrito o roteiro com Dorothy Cooper, uma roteirista maravilhosa. Era o primeiro filmes de Vic Damone, e ele, compreensivelmente, estava nervoso. O diretor era Norman Taurog, um profissional durão das antigas.
Verdadeiramente, é como se esse excesso de informação eclipsasse o mais inegável potencial da história: inspirar. Sheldon nos guia da amargura da pobreza ao auge de uma carreira bem-sucedida em um vasto leque de áreas. O seu sucesso não vem do dia para a noite: o autor nos descreve sua vida como uma rodovia apinhada de buracos, que deve ser atravessada na mais densa penumbra. Qualquer aspirante a escritor (ou profissional do cinema) veria, na história real de Sidney Sheldon, uma prova cabal de que é possível vencer mesmo no mais disputado cenário profissional. Essa mensagem, todavia, é quase esquecida enquanto o leitor tenta se acostumar com a profusão de nomes, locais e ocupações que precisa decorar. É mais ou menos assim: Louis B. Mayer - Arthur Freed - Freed Brisson - Elsa Maxwell - você consegue, aspirante! - Helen Hayes - Charles MacArthur - Dorothy Fields - Frank Loesser - Elia Kazan.
Virei-me para olhar para ele.
- O que tem em mente?
- Por que não põe meu nome como produtor? - disse ele.
Para mim, não fazia diferença. Balancei a cabeça.
- Tudo bem.
Foi uma decisão que quase destruiu a minha carreira.
Embora tenha sido uma forma de descobrir um pouco mais sobre as veredas percorridas pelo autor, eu sinceramente não recomendo a leitura desta biografia. É lógico que eu posso estar completamente equivocado desde o começo: alguns provavelmente dirão que é leviano ir atrás de memórias como fonte de entretenimento, quando o objetivo delas é puramente informativo. Mas, por favor, concordem comigo: é difícil não criar expectativas em relação a uma leitura. Qualquer leitura. De uma forma ou de outra, carrego comigo a sensação de dever cumprido: adquiri uma opinião sobre biografias baseada em experiências e contatos, e não apenas em preconceitos. E é sempre melhor assim.

Título: O outro lado de mim.
Autor: Sidney Sheldon.
Editora: Record.
Número de Páginas: 380.
Avaliação: 2,5 de 5.

14 comentários:

  1. Nossa só 2,5 de 5,0 O.o

    Quase todo tipo de leitura e conhecimento é sempre bem-vindo.

    Eu li esse livro tem um certo tempinho
    "Sempre fui um declarado fã da obra do Sidney Sheldon" Me too, o primeiro livro que li dele foi
    "O Céu está caindo" depois desse não parei mais até ler todos.

    "Quando morrerem, ninguém jamais saberá que chegaram a viver nesta terra. "Fui tomado por uma onda de depressão" Uma verdade nua e crua...

    Concordo plenamente que a presente obra não emociona, ás vezes torna-se até exastiva a leitura.
    Talvez uma (auto)biografia que você iria gostar é a do Augusto Cury, eu pelo menos adorei.

    Adorei a sua resenha, bem sincera aliás, eu antes de ler o mesmo, tinha grandes expectativas, mas depois... também não recomendo muito a leitura da obra.

    Obs: São 380 páginasss.

    Beijinhus
    Babih Hilla
    http://revolucionandogeral.blogspot.com

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  2. Oiii!
    Eu nãotenho vontade de ler biografias exatamente por pensar que seria como você falou, sem sentimentos, simplesmente informação sobre a vida de um autor! Acho que nem da J.K.Rowling eu leria... Sei lá, o que me interessa quando a um autor, talvez, seja só a inspiração dele para o mundo em que eles me colocam, mas não a vida deles... Sou grata pelos livros maravilhosos que fazem maaaas... rs.
    Então, me sinto mais tranquila quanto a naõ estar perdendo muita coisa em questão de biografia x) Acho que um dia lerei algo do Sidney porque minha mãe era uma GRANDE fã dele e confiava mt no gosto dela aheoiaheoiaheoihae :P Tem muitos livros dele na minha casa g_g só falta o tempo pra ler, kkk :P

    Beijos, Nanda
    www.julguepelacapa.blogspot.com

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  3. Oi Robledo!
    Como você, sou a favor de apenas darmos uma opinião após ter tido um contato real com o tema em questão!
    Nunca li uma auto-biografia, mas já li uma biografia, a de Marilyn Monroe.
    Acho que toda e qualquer biografia seja interessante para se conhecer mais detalhes da vida da pessoa que admiramos ou que temos um mínimo de curiosidade.
    Mas, como você ressaltou, são fatos demais resumidos em poucas páginas (considerando-se que uma vida inteira é condensada), o que pode tornar a leitura cansativa e impossível de se lembrar de todos os detalhes.
    De qualquer forma, acredito que os gostos variem e as biografias agradarão a quem gostar desse tipo de leitura!
    Beijos!

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  4. Oi, Robledo.

    Fiquei feliz por sua visita em meu blog. Eu também não tenho costume de ler biografias ou auto-biografias, eu pense que esse tipo de literatura é um pouco fria e carente de emoção. O autor simplesmente relata os fatos, não há criatividade, nem imaginação. Mas, as vezes tenho curiosidade de ler alguma obra assim, apenas para ter certeza do que penso, rs.

    Enfim, gostei muito de sua resenha.

    Beijos!

    Caah Oliveira

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  5. Olá Robledo...
    Nunca li uma biografia ou uma auto-biografia, e concordo que devemos tentar, e não apenas julgar. Particulamente não gosto de livros com excesso de formações, pois confude acabeça do leitor ou até (pra mim) deixa ser uma leitura cansativa.

    Portando, futuramente lerei alguma biografia ou até mesmo uma auto-biografia e tirar minha conclusão sobre o mesmo.

    Beijos

    Lendo de Tudo

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  6. Ficou ótima a resenha. Não li nada sobre Sydney Sheldon e mesmo sendo uma autobiografia parece ser bem interessante. Eu não tenho nada contra o gênero. Até considero uns livros biográficos e autobiográficos muito bons. Principalmente os (não autorizados uasuhasuaus gosto de uma polêmica).
    Bom gostei muito daqui. Sua resenha me foi muito clara. =)
    beijo
    bom domingo.

    http://thislovebug.net/macchiato

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  7. também não sou do tipo que vai atrás de biografias, só comecei a ler uma e estou lendo algo que é parecido com isso.
    de qualquer forma, o ponto de vista de alguém que não costuma ler é tão importante quanto o de alguém que costuma. ainda mais que você explica por que não te agradou
    eu adoro Sidney Sheldon, mas não tenho a menor vontade de ler sobre a vida dele ;x

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  8. @danamartins Eu me sinto um pouco reticente quanto a essa história de dizer o que não me agradou, sabe? Por exemplo, eu não posso dizer que um livro infantil me decepcionou por sua falta de maturidade, porque há certa superficialidade intrínseca ao gênero. Será que realmente me encontro no direito de criticar a falta de emoções na biografia do Sheldon, ou será que o próprio rótulo "biografia" me proíbe disso?

    Obrigado pelo comentário! Volte sempre!

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  9. Robledo,

    Eu também não sou muito fã de biografias, mas confesso que uma das únicas na vida que tive vontade de ler foi justamente essa do Sidney Sheldon! Sempre o achei um autor magnífico, e foi com ele que percorri meus primeiros passos rumo a uma literaturam ais adulta, pois li grande parte do acervo dos seus livros quando tinha 12 anos.
    Ainda me lembro, acordando cedinho, quando era 6º série, para ler Se Houver o Amanhã, livro que me recordo com carinho e admiração até hoje!

    Concordo com você a respeito da experiência para posteriormente poder dizer com total conhecimento de causa, que realmente não gostou de algo. Acho que é impossível não criar expectativa em cima de uma leitura e infelizmente já havia até criado em cima dessa. Sua resenha me deixou com um pé atras, porém pretendo ler esse livro um dia! Provavelmente nem tão cedo, ainda mais depois de saber que o autor percorre todos esses detalhes facilmente esquecidos pelos leitores, e só posso dizer que acho lamentável o fato de uma vida e relato - até porque foi escrito pelo próprio autor - com potencial tão grande, perder-se em meio a nomes esquecíveis e descrições descartáveis!

    Gostei da sinceridade, e obrigada pelo toque!

    Beijos!

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  10. Robledo,

    Já é bem sabido que o desgosto em relação às biografias é quase que unânime. Confesso apreciar menos ainda a ideia da autobiografia, pois a considero como uma valorização um tanto quanto exagerada do próprio ego que talvez ofusque o brilho do texto.
    Mas, vejamos, tenho a concepção do gênero em minha cabeça como algo que deve ser agradável para um fã da pessoa em questão. Como se ele parasse numa looonga conversa para contar a história de sua vida de maneira fluida e não cansativa.
    Compreendo que histórias como a de Sidney Sheldon devem ser realmente instigantes, todavia aprecio ainda mais autores como Machado de Assis e Raul Pompéia, por exemplo, em embutirem suas histórias de maneira velada a livros que poderiam ser apenas mais romances famosos... Nada como usar da própria arte para falar deliberadamente sobre si mesmo e, ainda assim, conquistar o prestígio do leitor. É algo a se pensar...

    Beijos,
    Ana - Na Parede do Quarto

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  11. E, puxa vida, antes que eu me esqueça! heiueheiuh Adorei o primeiro trecho, sobre querer ser lembrado. Quase copiei no Facebook...

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  12. Oi Robledo!
    Primeiro queria agradecer o seu comentário no meu blog e dizer que fiquei muito feliz com ele, sério.

    Sobre o livro, admito que tenho alguns livros do Sidney Sheldon aqui mas nunca os li *shameonme* hehe
    E sim, nós odiamos (auto)biografias *corre* haha
    só as leio se eu quiser saber muito sobre aquela pessoa, o que n acontece muito.
    O que eu senti na sua resenha é que tem muita "encheção de linguiça" errei? xD
    abraço,
    tudo por um livro.

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  13. Sou fã do Sheldon e tenho muita vontade de ler "O Outro Lado de Mim", mas sua resenha me desanimou um pouco.

    Ainda assim, espero ler no futuro.

    beijos!!

    Carissa Vieira
    www.artearoundtheworld.blogspot.com

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  14. Eu li e achei que vale muito a pena, principalmente pra é fã do autor.
    Super indico.

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