sexta-feira, 16 de setembro de 2011

[Resenha] Michael Grant - Gone: o mundo termina aqui

Gone é o tipo de livro que cativa você simplesmente pela sinopse. Afinal de contas, é realmente bastante atraente a proposta de conhecer um mundo onde todas as pessoas com mais de 15 anos desaparecem repentinamente, e onde os sobreviventes precisam viver em um lugar isolado por uma espécie de barreira esférica - a construção soa quase como a edificação de uma realidade paralela, da qual ninguém sai e na qual ninguém entra. A maioria dos blogueiros deu nota máxima a esse livro; eu, entretanto, gostaria de realçar alguns pontos que me obrigam a fazer um julgamento um pouco menos positivo. Vale lembrar que Gone é o primeiro livro de uma série publicada no Brasil pela Galera Record. A continuação, Fome, tem previsão de lançamento para outubro desse ano.

Os quatro cidadãos da capa representam os mocinhos da história: Edilio, Astrid, Sam e Quinn. A missão deles é, simultaneamente, descobrir o que levou esse acontecimento quimérico a ocorrer e evitar a proliferação do pânico, principalmente no que tange às crianças mais novas. Bastante racional, até aí. Só que, no meio da coisa, eis que surge um grupo solene de valentões que acabaram de adentrar a adolescência, e que se apresentam com um discurso de paz, organização e companheirismo. Caine, Diana e Drake, além de outras figuras com nomes bem fáceis, constituem o grupo de valentões da Academia Coates - uma escola criada especialmente para crianças com as quais é difícil lidar. Ah, importante detalhe: quase todo esse pessoal tem superpoderes. Caine possui fascinantes habilidades telecinéticas; Sam é capaz de lançar raios de luz branco-esverdeados de suas mãos, quando está com raiva; Diana pode ler o nível de força de alguém com um simples toque de mão; e por aí a coisa continua.
Uma onda de desconforto percorreu a multidão. Caine leu-a instantaneamente.
- Espero que você e o capitão Orc se juntem a mim e a todo mundo que queira senta-se e falar sobre os planos para o futuro. Porque nós temos um plano para o futuro. - Ele enfatizou a última frase com um movimento de corte, como se estivesse decepando o passado.
- Quero minha mãe - gritou, de repente, um menininho.
Todas as vozes ficaram em silêncio. O menino havia dito o que todos sentiam.
Tanto quanto Maze Runner ou outras obras que trabalham distopias ou realidades distorcidas, Gone é recheado de sub-histórias que ajudam a construir a face brutal do LGAR (que é o nome atribuído a toda a extensão da esfera sem adultos). Explicitar cada uma delas aqui levaria muito tempo. O que é necessário saber é que, em pouco tempo, a partir da noção de que todos desaparecem quando completam quinze anos e do fato de que faltam aproximadamente 300 horas para o desaparecimento de Sam e Caine (cada capítulo começa com uma espécie de contagem regressiva, muito bem elaborada), os vilões da história passam a assumir um caráter megalomaníaco e absurdamente sádico. A dominação lhes é necessária. E, por mais que o ser humano possa ter uma tendência a ser incuravelmente doentio, acredito que em alguns momentos o autor se esqueceu de que estamos falando de crianças de onze ou doze anos, e não de psicopatas de quase quarenta.

Assim, Gone tem o seu quê de inverossimilhança, além de deixar a desejar em alguns outros aspectos. Sintetizando a minha crítica: embora não seja essa a realidade, a impressão que tive é que Michael Grant estava escrevendo seu primeiro romance, dando os primeiros passos na direção da elaboração literária. O resultado disso é um livro de quinhentas páginas, mas com pouquíssimas descrições, uma infinidade de diálogos e pouco aprofundamento em questões que renderiam um amadurecimento incrível à obra - a relação entre Sam e Quinn, por exemplo, é uma espécie de amizade que treme com a chegada do LGAR. Quinn não tem plena convicção do grupo que deseja seguir, e eu acredito que a exploração adequada dessa questão garantiria à obra uma profundidade que lhe seria extremamente profícua.
- Não tem nenhum adulto, uma parede enorme apareceu do nada, e de repente, meu melhor amigo é o garoto maravilha - disse Quinn. - Eu pensava... tipo, certo: pelo menos, independentemente de qualquer coisa, ainda tenho meu brou, ainda tenho meu melhor amigo.
- Ainda sou seu amigo, Quinn - disse Sam.
Quinn suspirou.
- É. Bem, não é exatamente a mesma coisa, é?
A partir do momento em que você se acostuma com o estilo de Michael Grant, entretanto, a história assume uma aura bastante cativante. Por mais que o número de páginas assuste, a leitura é rápida e envolvente, principalmente quando a contagem regressiva vai chegando ao seu final - momento no qual o livro assume um tom de guerra, e onde os laços de amizade se tornam mais evidentes. Como Gone é a primeira publicação de uma série, o que já era de se esperar acontece: nem todos os mistérios são solucionados já nesse livro, e várias pontas soltas são deixadas assim. O final não é exatamente do tipo que convence o leitor a querer desesperadamente ler a continuação, Fome, mas a construção geral da história dificilmente gerará em alguém o desejo de esquecer esse livro para sempre.

Eu não li Harry Potter, mas muitos amigos me disseram que A Pedra Filosofal é o pior dos livros da série. Assim, à semelhança da admirável J. K. Rowling, resta a mim a tarefa de esperar que Michael Grant aprimore suas técnicas de escrita nos próximos livros, investindo mais nos momentos de eletrizante agilidade e, ao mesmo tempo, fazendo uma abordagem mais profunda dos sentimentos de cada um dos seus personagens. Ainda há muita coisa a ser explorada e desvendada em Gone; torçamos para que o autor saiba fazê-lo.
- Bom, agora isso acabou - disse Sam, com gentileza. - Tudo recomeça. Aqui. Agora. Agora somos irmãos. Não importa se não sabemos uns nomes uns dos outros, somos irmãos e vamos sobreviver, e vamos vencer, e vamos encontrar de novo o caminho para algum tipo de felicidade.
Houve um silêncio longo e profundo.
- Bom - disse Sam. - Meu nome é Sam. Estou nisso com vocês. Até o fim.

Título: Gone: o mundo termina aqui.
Autor: Michael Grant.
Editora: Galera Record.
Número de páginas: 518.
Avaliação: 4 de 5.

16 comentários:

  1. Até que enfim voltei aqui \o/

    Caramba, se esses rapazes disseram que A Pedra Filosofal é o "pior" dos livros da série Harry Potter, Robledo... há uma grande chance de eles nem serem seus amigos, viu? XD
    Nenhum livro da série é pior que o posterior. Mas cada livro seguinte foi acrescentando algo aos demais, definitivamente ^^
    JK não é apenas uma "estrela" do cenário literário: ela é a melhor naquilo que faz. Os livros só comprovam isto. É uma série fantástica, memorável, os primeiros livros que meus filhos vão ler, sem dúvida - começando por A Pedra Filosofal o/

    Enfim, adorei a ideia de "Gone", embora não tenha ouvido falar dele antes, e tenho notado uma certa tendência a realidades alternativas, distópicas - vou dizer assim - e gosto disso. Aprecio o que sai do lugar comum e traz novas propostas. É sempre bom imaginar que nem tudo são vampiros doces kkkkkk

    Beijo amigo!

    This Gomez
    Steampink
    Canto e Conto

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  2. Oi Robledo :) simplesmente amei sua resenha! é a primeira vez que leio uma resenha de Gone onde o livro não é simplesmente "perfeito" e isso me agrada tanto! odeio quando um livro se torna queridinho dos leitores e os blogueiros só clamam o quanto a leitura foi maravilhosa e não dizem exatamente o que tem de interessante no livro... ou, como no caso, o que não o convenceu =) enfim, a minha vontade de ler Gone diminuiu um pouco, principalmente depois de saber que há adolescentes beirando a psicopatia na estória... acho que isso pode até convencer, mas apenas se muitíssimo bem construído o que acredito não ser o caso. o fato de os adolescentes desenvolverem super-poderes também não me agrada muito... somando tudo isso a minhas gigantesca lista de livros a serem lidos, Gone vai ter que esperar MUITO até ter uma chance comigo xD

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  3. Ótimo Blog, ótimos posts! *-*
    Parabéns adoramos aqui!

    Siga-nos!
    http://allstargt.blogspot.com

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  4. Tem meio ano, mais ou menos, essa série toda estava, por um mês inteiro, gratuita para leitura online no site do autor. Eu comecei a ler e não consegui continuar, o livro simplesmente não me prendeu. ;(

    E, OMG, CORRE pra ler Harry Potter (e o piorzinho da série, na minha opinião, é o quinto, em que Harry está em crise adolescente. Dos primeiros, o mais fraquinho é o segundo, mas é bom, só fraco). ;)

    Beijocas
    Guta
    Murphy's Library

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  5. Aqui estou eu de novo! Excelente a resenha, como já era de se esperar.
    Sobre 'A vida na porta da geladeira' a editora é Martins Fontes e está a venda no submarino.
    Obrigada pelas dicas lá no blog, vou tentar ao máximo segui-las.
    Beijos
    desiretoread.blogspot.com

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  6. A capa de Gone é simplesmente muito atraente e o marcador também ^^
    "em alguns momentos o autor se esqueceu de que estamos falando de crianças de onze ou doze anos, e não de psicopatas de quase quarenta." Sei não hein, hoje em dia tem de tudo.
    "que A Pedra Filosofal é o pior dos livros da série." Não, não é! Eu não tenho reclamação contra nenhum, mas se fosse pra escolher o "menos bom" seria HP e a Câmara Secreta".
    Adorei a resenha, e gostaria muito de ler Gone, quando surgir a oportunidade ^^

    Beijinhus
    Babih Hilla
    http://revolucionandogeral.blogspot.com

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  7. Esse livro se tornou um dos meus favoritos!
    É uma história forte e aguardo ansiosa pelo segundo volume!

    Bjs

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  8. pensei em ler, mas a minha lista está cheiia. Parece ser bemmmm ficção mesmoooo,.
    segue?
    www.allysonebooks.blogspot.com

    bjjs*-*

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  9. Oi Robledo,

    Concordo que esse livro é daqueles que chamam a atenção desde a sinopse, faz um tempo que ouvi falar dele pela primeira vez pois tenho uma prima pequena que estava lendo, e achei a história bem interessante!

    Apesar dos pontos negativos ressaltados - e realmente, imagino que delinear a personalidade de crianças de até 15 anos como se fossem adultos é algo um tanto quanto inverosímel - tenho vontade de conhecer essa obra do Michael Grant!

    Espero que esses pequenos defeitos no primeiro livro sejam melhor consertados na sequência.
    Apesar de você ter ouvido falar que o primeiro HP é o pior da série, eu vejo mais como uma introdução de tudo que ainda estava por vir, o acho fantástico e excelente tanto quanto os outros, o problema (ou não) é que ele não se aprofunda tanto na história e nas questões tão importantes que ainda seriam desenvolvidas nos próximos livros!

    Beijos!

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  10. Olá, Robledo!
    Adorei a sua resenha!
    Como se trata provavelmente do primeiro livro do autor pode ser que nos demais o estilo de escrita amadureça e não acho isso ruim, de forma alguma! Entretanto, a história em si nunca despertou a minha atenção e também não vi muitos comentários positivos a respeito pela blogosfera.
    É chato quando o desfecho deixa muitas pontas soltas para serem resolvidas na sequência, mas apreciei muito a sua sinceridade no ponto de vista.
    Abraços.

    Mariana Ribeiro
    Confissões Literárias.

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  11. Caro Robledo,
    As sociedades distópicas vêm com tudo e parece que estão cativando de uma forma bem mais positiva que os sobrenaturais, por exemplo.
    Tenho que concordar com você e outros comentaristas que tudo no livro é atraente, desde a ideia proporcionada até a sinopse. Acho que especialmente aos jovens, um mundo que devemos governar sem o auxílio de responsáveis é um tanto assustador e gera, querendo ou não, todo um confronto em volta.
    Pelas quotes, pela sua nota e os vários comentários positivos, tenho motivos suficientes para crer que a obra realmente mereça uma certa atenção.
    Livros de estreia têm esse costume de acabarem por não corresponder a todas as expectativas, mas a tendência é que melhorem, se desde o início já houver aquele brilho típico.

    Beijoos,
    Ana - Na Parede do Quarto

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  12. Ultimamente, venho vendo uma enxurrada de livros com sociedades distopicas. É, de fato, inovador e interessante, mas não sou muito interessada nelas. Esse livro não me chamou muito atenção, achei a estória meio aleatória demais. E também concordo com o lance de inverossimilhança, tem um monte de autores que colocam personagens e ações absurdas como se não ligasse para isso. Tipo, é um livro de ficção mesmo e foda-se. Não é assim que funciiona, o autor tem que ser autocritico n[e. Curti sua resenha, você destacou pontos super importantes. :)

    Beijos
    Mulher gosta de falar

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  13. Olá!!!!

    Não li esse livro, mas ouvi falar mtas coisas boas e, claro, está na minha infiita lista de livros que quero ler!!!
    É a primeira vez que leio uma resenha tão aprofundada assim, e como nao li, nao tenho muito o que comentar.
    Só 2 coisinhas: existem sim crianças psicopatas, apesar de a ciência não diagnosticá-las propriamente como psicopatas até certa idade, mas o comportamento e traços de personalidade nao deixam duvidas. Entao, nao acho que ele tenha viajado nesse ponto.
    E eu sou uma fã de Harry Potter que não acha que a Pedra Filosofal seja o pior!!! rsrsrsrs

    Beijos, Karina!!!
    Walking in Bookland

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  14. Olá Robledo! Bom, uma das coisas que mais prezo em uma resenha, é a sinceridade. Sem sinceridade não há resenha. E eu gostei muito da sua resenha por isso: foi sincera e objetiva. Não basta dizermos o quanto o livro é bom. Devemos apontar os pontos negativos também!
    Confesso que já não tinha muita vontade de ler este livro... E agora essa vontade só diminuiu.
    Se você for ler o próximo livro da série, boa sorte, pois reza a lenda que "o segundo livro de uma série, só piora" (exceto, Harry Potter. Ah, e leia Harry Potter!), rsrsrs.
    Enfim, ótima resenha!
    Abraço!
    Lucas,
    http://livrosfilmeseconversafiada.blogspot.com

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  15. Poxa, cada vez que leio as resenhas deste blog mais da vontade de ler.

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