quarta-feira, 28 de setembro de 2011

[Resenha] Lauren Oliver - Delirium

Em um futuro não muito distante, o amor foi catalogado universalmente como uma doença altamente perigosa, capaz de levar suas vítimas à mais dolorosa das mortes. Visando a desarraigar todos os efeitos negativos do amor deliria nervosa (o nome científico da pandemia), os cientistas desenvolveram um método cirúrgico de grande precisão, que deve ser aplicado em todos os cidadãos que atingirem a idade de 18 anos. Depois do procedimento médico, espera-se que o indivíduo nunca mais tenha chances de ser contaminado pelo veneno do Cupido, sendo portanto incapaz de sofrer dos males que causaram a morte de Julieta e outras heroínas românticas. Nossa protagonista, Lena Halloway, está a três meses do seu procedimento, ansiosa por se ver livre das ameaças do amor. É aí que ela se apaixona perdidamente, afetada pelo tipo de paixão que priva o ser do conforto do chão e do teto. Quer sinopse mais interessante do que essa?

Delirium ainda não foi publicado no Brasil - a expectativa é que a Editora Intrínseca o publique no ano de 2012. Enquanto isso, alguns blogueiros tiveram acesso ao livro em inglês por intermédio de um book tour realizado pelo Murphy's Library. Agradecemos às garotas pela chance de conhecer a realidade distópica criada por Oliver, antes de mais nada.
Geralmente, os avaliadores geram uma lista de quatro ou cinco pares aprovados, e você tem a chance de escolher entre eles. Dessa forma, todos ficam felizes. Em todos os anos em que o procedimento tem sido administrado e os casamentos, arrumados, houve menos do que uma dúzia de divórcios no Maine, e menos de mil em todo o país - e, em quase todos os casos, o marido ou a esposa era suspeito de ser um simpatizante, e o divórcio era necessário e aprovado pelo Estado.
 Todas as quotes dessa resenha são de tradução livre.

Delirium é um livro indiscutivelmente intenso. Por mais que provavelmente se destine a um público mais juvenil, a autora não abriu mão do mergulho nos sentimentos de Lena. Sendo nossa narradora, a garota nos conduz por todos os seus transtornos de consciência, e em pouco tempo estamos bastante familiarizados com sua história de vida, com a forma como sua mãe se matou depois de passar por três procedimentos, com sua relação com sua melhor amiga e com a sua forma de ver o mundo. Lena, como todos os cidadãos americanos da sociedade criada, cresceu acostumada à ideia de que o amor é um veneno lento e lancinante. Estudou e aprendeu que a importância de Romeu e Julieta, a atemporal obra shakespeareana, está justamente no fato de que a tragédia alerta para todos os perigos do delírio, para as consequências reservadas àqueles que se renderem aos encantos amorosos.

Até que Lena se apaixona. Dezenas de poetas já o perceberam: o amor é uma entidade caprichosa, que surge quando bem entende e vai embora quando menos se espera. No mundo distópico de Delirium, experimentar algumas gotas do elixir do amor significa colocar em xeque todas as lições ouvidas, todas as palestras assistidas, todas as citações que relacionavam a paixão e seus derivados aos mais grotescos sentimentos. Lena Halloway, que sempre jogou de acordo com as regras, vislumbra um universo que todas aquelas paredes estão tentando destruir: um universo de beleza inefável, de prazer inesgotável. A questão é: como manter a pulsação desse universo, se daqui a noventa dias a nossa protagonista vai enfrentar uma cirurgia que a privará de todas as formas de amor?
"Você tem certeza de que ser como todos os outros a fará feliz?" O mínimo sussurro; a sua respiração no meu ouvido e no meu pescoço, a sua boca degustando a minha pele. E eu penso, então, que eu posso ter realmente morrido. Talvez o cachorro tenha me mordido e eu tenha recebido o golpe de uma maça na cabeça, e tudo isso não passe de um sonho - o resto do mundo se dissolveu. Apenas ele. Apenas eu. Apenas nós.
É difícil não se comover com a história de amor entre Lena e Alex, sinceramente. Por mais que isso ocupe uma parte enorme do livro, Lauren Oliver conseguiu fazer um desenvolvimento que não soa repetitivo ou prolixo, mas que parece uma pintura pontilhista: a cada página, um novo pontinho é feito no nosso quadro, e pouco a pouco testemunhamos o surgimento da completude de um romance pleno, inconsequente e ameaçado. Ainda que isso soe piegas, a verdade é que você inevitavelmente torce para que toda a sociedade desmorone, para que as pessoas abram seus olhos e percebam que os casos de decepção não são justificativa para a extinção de todo um caleidoscópio de felicidade e regozijo. É isso: Delirium te causa raiva. Se você já se apaixonou na vida (e eu espero que sim), essa ira só se intensifica.

Existe algo, entretanto, que me diz que a autora ainda não nos mostrou todo o seu potencial. Talvez por ser apenas o primeiro livro de uma série, o fato é que Delirium ainda não explorou todas as brechas e temáticas infinitesimais às quais a sinopse dá abertura. De forma alguma, entretanto, trata-se de um livro desmotivante. De fato, o final é construído com toda a técnica para que você fique desesperadamente em busca da continuação, Pandemonium. Há muito a acontecer na vida de Lena Halloway, ainda, e também não é nem um pouco fácil se desapegar do estilo passional de Lauren Oliver, que de alguma forma elevou as turbulências naturais da adolescência a uma potência gigantesca. A autora gerou identificação na distopia. Quão bom é preciso ser para se fazer isso?
Somos nós contra eles, três contra inúmeros milhares. Mas, por algum motivo, e por mais que isso soe absurdo, naquele momento eu me sinto extremamente bem em relação às nossas chances.
Por fim: já ouviram falar naquela máxima de que só passamos a valorizar alguma coisa quando a perdemos? Pois bem, Delirium é sobre isso. Sobre sentir a felicidade proibida, ter de beijar com olhos vigilantes e jamais andar de mãos dadas publicamente. É um romance, sobretudo, sobre a importância do amor - pois, como disse uma vez uma certa poeta, há uma primavera em cada vida / é preciso cantá-la assim florida / pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

Título: Delirium.
Autora: Lauren Oliver.
Editora: Harper.
Número de páginas: 440.
Avaliação: 4 de 5.

10 comentários:

  1. AMEI essa resenha, extremamente bem escrita e argumentada.
    Quero muito ler Delirium, o único livro de Lauren Oliver que li foi antes que eu vá, e gostei muito.
    Adoro distopia =)

    Beijos
    Livros e blablablá

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Adorei a resenha como sempre!
    Desde o momento em que li a sinopse acima já imaginei na hora que era um livro que iria sentir raiva, na verdade MUITA raiva rsrs
    Adoro romances e detesto quando os personagens são impedidos de ficar juntos, ainda mais por um motivo (idiota) desses! Enfim, achei o livro super interessante mas te confesso que não tenho nervos para aguentar uma história dessas, pois acabo me envolvendo demais com os personagens principais e vou acabar criando um ódio de todo mundo hehehe! Mas quem sabe a curiosidade não vença ao final, pois adoro literatura distópica e um dos livros que mais gostei, o 1984, gerou uma boa dose de raiva em mim!

    Beijos!

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  4. Robledo, suas resenhas são sempre incríveis!
    Sou doida para ler esse livro, principalmente pela temática. Como posso não me interessar por um livro que trata da importância do amor?
    Entretanto, tenho receio dos sentimentos que serão despertados pela leitura, tenho certeza que a visão inicial do amor como algo maléfico me deixará indignada!
    Adorei o que você falou sobre a obra parecer uma pintura pontilhista!
    Beijos!

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  5. Oi Robledo!

    Faz tempo que quero ler esse livro. Estou esperando sobrar um $$ pra poder comprar. Sua resenha está ótima!

    Beijos!

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  6. Olá, Robledo!
    Eu li Antes que eu vá da autora e fiquei bem satisfeita com a temática distópica abordada na história que espero haja livros assim cada vez mais! Enfim, não li ainda este livro em inglês, eu prefiro esperar que a Intrínseca publique aqui no ano que vem para tirar minhas próprias conclusões.
    Tomara que eu aprecie a leitura tanto quanto você!
    Adorei a sua resenha!
    Bjos.

    Mariana Ribeiro
    Confissões Literárias.

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  7. Oiii Robledo!
    Incrível a resenha *-* desde quando vi o selinho da booktour aqui no blog de vocs eu estou esperando a resenha dele! Parece ser fantástico, muito melhor que Destino! rs. (Acho que Caíque me bateria se visse a comparação G.G) Enfim.. Espero muito que o livro seja logo lançado aqui no Brasil, já que eu não tenho essa habilidade de ler em inglês, rs.
    Parece ser uma história tensa mesmo, essa coisa de amor proibido, quando bem escrita sai fantástica! ^^

    Beeeijos, nanda
    www.julguepelacapa.blogspot.com

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  8. Robledo!!!
    Que resenha maravilhosa! O livro parece ser realmente bom. A história parece ser fantástica e de certa forma inovadora.
    Espero que lance logo no Brasil e que não seja uma série muito grande, pois acaba desanimando.

    Bjs
    Gabi Lima
    http://livrofilmeecia.blogspot.com

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  9. Oi Robledo!!!!

    AMEI a resenha... As resenhas do blog, de uma maneira geral, são ótimas... Parabéns!
    Mas falando sobre o livro... Eu adorei!! Já achava a capa linda, lendo a sinopse e a sua resenha, já me apaixonei e quero muuuuuito ler!!!
    Vou ver onde eu consigo encontrar por aki, ou esperar sair em portugues, afinal 2012 jah esta ai!!!

    Beijos, Karina!
    Walking in Bookland

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  10. Adorei a resenha. Quero muito ler o livro.
    Mas vou esperar chegar aqui no Brasil. E' bom que assim me controlo nas compras. rs.

    bjs.

    http://booksandmuchmore.blogspot.com

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