segunda-feira, 11 de julho de 2011

[Resenha] Ben Sherwood - Morte e Vida de Charlie St. Cloud

Prólogo, linha um: eu acredito em milagres.

Charlie St. Cloud é um morador de Marblehead, uma calma vila de pescadores na Nova Inglaterra. Sendo funcionário do cemitério Waterside, é sua função garantir que todas as lápides estejam bem-cuidadas, que os arbustos rebeldes não impeçam os rituais funerários e que todas as cerimônias silenciosamente melancólicas possam ocorrer sem problemas. Contudo, é nesse mesmo cemitério que está enterrado Sam - o irmão mais novo de Charlie -, que perdeu a vida em um acidente de carro há mais de dez anos. Tendo milagrosamente sobrevivido a esse mesmo acidente, Charlie foi agraciado com um dom de intensa peculiaridade: ele recebeu a capacidade de ver o espírito de seu irmão, e até mesmo de interagir com ele.

Assim, todos os dias, ao cair do crepúsculo, Charlie se encontra com o espírito de Sam em uma área secreta do cemitério, onde os dois jogam baseball e se divertem como se Sam ainda estivesse vivo. Atenção a um detalhe: eles sempre se encontram nessa área secreta do cemitério; Charlie tem fé na ideia de que jogar com seu irmão diariamente é a chama que mantém seu dom vivo, e por essa razão ele abdicou de todas as suas noites "normais" em prol de um pacto feito entre os dois irmãos na noite do acidente. Charlie St. Cloud trocou uma vida de agitações e oportunidades pela serenidade imutável do cemitério, firmando sua decisão com uma promessa feita pouco tempo antes da morte do irmão:
- Prometa que você não vai me abandonar - disse Sam, estendendo a mão para pegar a do irmão.
- Prometo.
- Jura?
- Juro.
- Jura por Deus?
- Sim - disse Charlie. - Agora prometa que você também não vai me abandonar.
- Nunca - disse Sam. Seus olhos estavam bem abertos e lúcidos. Seu rosto estava tranquilo. Eles nunca pareceram tão serenos antes.

É claro que toda essa rotina, estabelecida com tanta firmeza e segurança pelos dos irmãos, haveria de ser quebrada. E como? Exatamente: através da introdução da presença de uma garota. Tess Carroll é uma navegante impetuosa, que tem seu sonho de dar a volta ao mundo em seu barco interrompido por uma forte tempestade - o que serve como ignição para uma sucessão de eventos um pouco enigmática, responsável por carregar Tess para a vida de Charlie. E, como diz a própria sinopse dá obra, isso os leva a uma corrida contra o tempo e a uma escolha entre a vida e a morte, entre o passado e o futuro, entre apegar-se ou deixar o passado para trás.

Ben Sherwood, autor.
A impressão que Charlie St Cloud (aqui me referindo ao livro, não ao personagem) me passou, enquanto obra literária, foi a de uma história extremamente rápida. Ao final da trama eu tinha a sensação de ter chegado ao encerramento de um conto, não de um romance. Isso aconteceu porque todo o desenrolar do enredo foi bastante leve; embora eu fosse gostar de tê-lo feito, em nenhuma cena eu me descobri sem ar, soluçando, ou sorrindo involuntariamente. Infelizmente, as palavras de Sherwood não me emocionaram. Não me foi dada a chance de me apegar ao caso dos irmãos St. Cloud.

Eu acredito que o sucesso de um livro esteja vinculado, principalmente, a dois aspectos fundamentais: 1) à existência de uma boa trama, de uma premissa que seja capaz de cativar o leitor; 2) à realização de um desenvolvimento envolvente, que aprisione o público na obra e não o deixe sair lá de dentro tão facilmente. Ora, Sherwood foi capaz de selecionar uma temática excelente - isso é inegável. O dilema entre cumprir para sempre uma promessa fraternal ou viver uma paixão intensa; entre se manter fiel às sombras do passado ou escapar das garras deste; entre cultivar um dom singular ou se desvincular de uma vez por todas do mundo dos mortos... Tudo isso é interessantíssimo. Quando eu li a sinopse de Morte e Vida de Charlie St. Cloud, esperava encontrar capítulos e mais capítulos sobre todos esses dilemas, sobre a angústia de tomar uma decisão de tamanha magnitude. É com tristeza que reconheço que não encontrei esses capítulos. Há sim o dilema, mas a abordagem feita me soou bastante superficial.
- Você seria capaz de abandonar Sam?
A pergunta de Tess ficou no ar, iluminada pelo brilho da lareira. Talvez eles estivessem simplesmente negando os fatos, ou talvez encantandos um com o outro, mas eles haviam abandonado o assunto sombrio do naufrágio e conhavam em voz alta sobre como seria a vida juntos.
- Você seria capaz de abandonar o cemitério? - perguntou Tess. Seu rosto estava enterrado no pescoço de Charlie - Quero dizer... você viria comigo em uma viagem ao redor do mundo?

Assim, eu chego ao final de Morte e Vida de Charlie St. Cloud com algumas conclusões: quanto à temática, não há reclamações. Também me deixa bastante satisfeito o fato de que, em um cenário literário cada vez mais marcado pela repetição das mesmas histórias relacionadas a seres sobrenaturais, baseadas na fórmula garota ingênua + garoto misterioso da escola, que na verdade é um lobisomem/vampiro/anjo, a Novo Conceito se proponha a publicar uma história assim, sobre temas palpáveis, tais como a tomada de decisões e a força do laço entre irmãos. O livro só peca no quesito profundidade, mas, depois de chamar alguns romances de superficiais, eu começo a ponderar que talvez não seja tão fácil assim conciliar uma trama fantástica e uma abordagem esplêndida. Quem sabe?

Título: Morte e Vida de Charlie St. Cloud
Autor: Ben Sherwood.
Editora: Novo Conceito.
Número de páginas: 296.
Avaliação: 3 de 5.

11 comentários:

  1. Eu acredito, talvez esteja errado, que essa não-profundidade da história seja o que prende o leitor. O tema proposto pelo autor é interessante e inovador, mas acho que demasiadamente tratado, poderia cansar quem lê...
    Ótima resenha, Robledo!

    Um abraço.
    Jonathan Henrique

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  2. Oi Robledo!

    Adorei a sua resenha! Não tive muita vontade de ler "Charlie St. Cloud" por causa da temática e por causa da história que sempre me pareceu tão simples e rasa. Bem, talvez mereça uma chance.

    - Matheus, Bobagens e Livros

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  3. Oi Robledo!
    Eu ainda não li esse livro e nem vi o filme, apesar de ter muita curiosidade. Eu pensava que esse livro me lembraria bastante a escrita do Nicholas Sparks, mas pelo visto é bem diferente.
    Adorei a resenha.
    Beijos!

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  4. Oi, Rob!
    Que bom que a resenha saiu, nem preciso dizer que ficou ótima.
    A verdade é que li esse livro há tanto tempo que não lembro bem dessa leveza dele que o desagradou. Só recordo de ter sido uma boa história. Gostei do filme também, embora Zac seja muito novo para o papel.
    "Seu rosto estava enterrado no pescoço de Charlie" Oh! Na capa do filme estão assim! :O
    =**
    Tah

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  5. Gostei muito da resenha, Robledo ^^

    Tenho um desejo enorme de ler este livro e apenas me deixou um pouco triste a questão do debate sobre questões mais profundas.

    Mas tenho certeza de que vou gostar da história ♥ Li o primeiro capítulo e fiquei encantada o//

    Beijo, amigo!

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  6. Nossa, eu poderia JURAR que esse livro é do Nicholas Sparks!!!!!! Enfiiiim, ja nao estava muito afim de lê-lo.. agora que você falou que ele nao te emocionou muito, então..! Rs..

    ps: as suas resenhas, também, só melhoram!!

    Beijão!
    http://felizvrosparasempre.blogspot.com

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  7. Oiiii ^^ Ok, está certo, eu realmente nunca lerei esse livro, HUAHAUH. Eu não tinha vontade já e agora perdi mais ainda :( rs
    Adoro resenhas que confirmam minhas suspeitas x)

    Beijo, nanda
    www.julguepelacapa.blogspot.com

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  8. É a primeira vez que leio algo sobre esse livro. Essa capa sempre me confunde, fico pensando que é algum livro do Nicholas Sparks. Sinceramente, não achava que era esse tipo de história. Nunca imaginaria que o Charlie St. Cloud trabalhasse num cemitério... (lógico, nunca tinha ouvido nada sobre a história).

    Mas enfim, parece ser um livro interessante, mas não é o tipo de livro que eu compraria em algum momento.

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  9. Robledo,
    Estava sentindo falta das suas resenhas!
    Confesso que apenas aguardava sua opinão a respeito desse livro, que nada realmente me causa. Acho a temática interessante, bonita, complicada... Mas creio que, acima de tudo, ele valeria muito mais a pena se fosse aprofundado, se exaltasse essa ligação espiritual entre os irmãos, o juramento e os sentimentos amistosos de Charlie que, como você mesmo diz, não são assim tão comentados.

    Beijos,
    Ana - Na Parede do Quarto

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  10. Nossa, AMÉM! Achei alguém que também não gostou do livro! hahahahaha. Quando eu acabei de ler e fui ler algumas resenhas vi um monte de gente dizendo que amou e etc. E eu fiquei meio pirada, pensando assim: "COMO? o_o Gostar como?" Sério, foi uma decepção e tanto.. o livro é vago DEMAIS. Tinha tudo pra ser um livro tocante mas o autor não desenvolve a ideia. Você falou muito bem na sua resenha, concordo e assino em baixo. hehe =)
    E esses dias fui ver o filme, pra ver se um milagre realmente aconteceria e ele fosse melhor que o livro. Ih, que nada. Tão ruim quanto u_u Assista se puder também, por mais que eu não recomende, e me fale o que achou! :D

    Beijão!
    Amanda
    Lendo&Comentando

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  11. Bem eu tenho o livro e agora - assim que eu puder ler - vou vê com outro olhos. É a primeira resenha que estou comentando aqui e me chamou a atenção como você descreve o livro e sinceramente adorei.

    Vamos ver como me sairei ao ler o livro.

    Beijos!

    =D

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