terça-feira, 24 de maio de 2011

[Resenha] Ricardo Estevão - Sete Dias no Reino de Etar

Sete dias é o tempo que o garoto Pedro permanece no reino, vivendo inúmeras aventuras. E vale a pena escutar o que ele tem para contar! Afinal, é uma criança falando, e “as crianças são criaturas extremamente inteligentes, dotadas de uma sensibilidade sem igual e iluminadas por uma inocência capaz de descortinar mundos e explicar as mais diversas coisas”. A história fala de esperança, da luta por um mundo melhor e da força do amor. Não por acaso, o messias esperado por todos chama-se Poema, mas vive apenas como um versinho – e as criaturas declamam letras de músicas em seus diálogos. Cada personagem tem seu drama particular, seus segredos e suas paixões.

Sete Dias no Reino de Etar é um bom exemplo de livro que cria uma conexão com o leitor da primeira à última página. Ganhei-o numa promoção do Blogueiro Leitor, e este chegou aqui em perfeito estado vindo diretamente do autor, com direito a dedicatória e marcador. Ricardo Estevão conseguiu reunir todas as lições que temos que aprender em uma vida inteira entre 251 páginas. Talvez esta seja a minha mais complicada resenha, pois não sei se consigo atingir a profundidade no livro na mesma.

Parte das criaturas possuía asas enormes e olhos de água; outro grupo tinha o corpo coberto de pêlos, orelhas bem pontudas, uma cauda comprida e caninos muito grandes, como se fossem... lobos. Mas as duas espécias apresentavam uma aparência agradável, simpática, humana.

Pedro é um garoto aparentemente com câncer, que viveu boa parte de sua vida entre as paredes de um hospital, com sua família angustiada pela promessa de sua recuperação. Então num surto de esperança, seu pai Fernando resolveu realizar o desejo do filho, de ir atrás de um “homem” que apareceu em seu sonho, e assim os dois fogem do hospital e zarpam no avião do pai. No caminho, o avião sofre um acidente, e o pai de Pedro manda-o pular e assim o faz, salvando-se da queda. Assim, Pedro chega à Etar, um reino distante, porém não tão longe assim. 

- A vida é feita de escolhas, mestre. Todo querer é justo e legítimo, desde que não causa dor...

Ricardo expressou sua obra de duas maneiras: contando uma história com início, meio e fim como qualquer outra, e fazendo o leitor lidar com os dramas e romances de cada personagem único de Etar. Com aquele ar épico, você embarca neste reino com pássaros falantes com nomes ligados a sua personalidade como “Admiro”, “Promessa”, “Poema” e “Abrigo”, mas o que sente é diferente. O grande vilão do livro é o Semeador, um anjo de asas verdes e puídas que se deixou abalar pela “monstruosa sombra do ciúme”, resolvendo abater todas as criaturas e recriar Etar ao seu gosto. 

Mas se o amor seria para mim um vento soprando na direção contrária, por que me permitiam sonhar tanto tempo com uma calmaria hipotética, ilusória?

A leitura é muito prazerosa, você não a sente passar. O mais curioso é o sentimento de estar lendo uma fábula, dessas de florestas e animais falantes com seus probleminhas pequenos que tem uma moral no final. Mas Estevão atribuiu a sua obra lições preciosas, e foi uma dificuldade tremenda selecionar quotes bacanas para estarem nesta resenha, pois são muitas, muitas, muitas mesmo. 

- Você um dia foi criança?
- Claro! Eu e... meu irmão Afago fomos crianças... Brincávamos muito, correndo em volta da figueira de cristal de... nosso castelo. Nadávamos no Lago do Aviso...
- Sente saudade daquele tempo?
- Saudade é tudo o que sou.

O enredo do livro resume-se aos habitantes de Etar aguardando o Príncipe Iluminado, profetizado o salvador de Etar e suas criaturas, que derrotaria o Semeador e sua tiraria sobre o reino. Por todo livro há citações de músicas e livros, que se encaixam perfeitamente no diálogo dos personagens, e no final do livro há uma espécie de sumário com o nome das músicas ou poemas e seus cantores ou poetas, é bem legal isso. A obra divide-se pelo tempo em que Pedro ficou em Etar, os benditos sete dias, e cada dia (Segunda-feira, Terça-feira, ...) possui vários capítulos em si, além da divisão de três partes, que te situam mais na história. O livro também possui prefácio, primeiro epílogo e segundo epílogo – UFA.

A capa é deslumbrante, um ponto e tanto para Editora Novo Século, há partes com diferentes texturas e tudo mais. A diagramação veio perfeita, sem erros de português ou concordância, sem manchas ou qualquer defeito. A fonte utilizada no texto e seu tamanho ajudam também a ler mais rápido, o que nos dá uma perspectiva melhor do tempo que o protagonista passou no reino. 

A leitura flui sem obstáculos, o autor (foto abaixo) escreve brilhantemente, como se tudo ali escrito estivesse destinado a estar ali escrito. O livro é pouco menor que o meu palmo, logo é fácil de carregar para qualquer lugar, principalmente em mochilas e bolsas sem causar nenhum dano ao mesmo, há praticidade em lê-lo. O que acho que daria um realce mais no livro seria uma ilustração no começo de cada capítulo no mesmo estilo da capa, como um resumo do que iria acontecer, e um mapa de Etar no começo do livro seria perfeito, a quantidade de lugares e referências pode deixar alguns leitores um pouco perdidos em alguma parte da leitura. Mas isso tudo poderia ser resolvido numa edição futura, que eu adoraria comprar.

Entretanto, não aguarde um conto infantil, não, não. Há partes realmente assustadoras, principalmente as demonstrações da crueldade do Semeador, onde é bem detalhadamente descritas decapitações e chacinas, fora os capangas do tirano que se mostram bem canibais com as criaturas de Etar. O humor é sereno, como tudo no livro, mas é tudo tão real que quando acabei de ler e saí de casa, é como se pudesse encontrar os personagens na próxima esquina. 
A obra é um ensinamento infinito, uma grande metáfora da vida que deve ser lida com o coração. É uma mensagem de esperança, beleza e paz, que devemos entender com calma e aos poucos, conforme a narrativa suave e envolvente vai se apegando a nós, como um ímã que acha seu metal.

A grande façanha é que cada personagem nos ensina muitas coisas, a lidar com as situações da vida de uma maneira simples e que você nem vai sentir de tão maravilhado com o enredo. Não há muita ação, mas o sentimento de aventura e terror está do começo ao fim, com pausas para os dilemas dos personagens, que dão graça ao livro com seus problemas insolúveis e suas soluções pouco descritíveis.

Sinto se não alcancei a expectativa para esta resenha, pois realmente é um livro onde poucas palavras conseguem descrevê-lo, você tem que lê-lo e senti-lo. É o primeiro livro que eu resenho aqui no blog que ganhará nota máxima, e isso já é uma grande coisa para se apostar. Etar é tão longe e perto que há momentos que está do outro lado do mundo e no segundo seguinte, está dentro de você, esse reino fantasioso e mágico, onde “o bem é bem mais poderoso” deixa para mim um fio tênue de esperança e outro muito bem trabalho, fibra por fibra, com lições que levarei para vida inteira.

Título: Sete Dias no Reino de Etar
Autor: Ricardo Estevão
Editora: Novo Século (Selo “Novos Talentos da Literatura Brasileira”
Número de Páginas: 251
Avaliação: 5 de 5

Viver é administrar ausências.

8 comentários:

  1. Me interessei. Gosto de livros com linguagem poética. Assim que eu puder o vou adquirir. Já adicionei à minha lista de leitura ^_^
    Parabéns pela resenha, você conseguiu me transmitir seus sentimentos ao lê-lo pode ficar tranquila você me mostrou a profundidade da obra sim.
    kisses ^_^

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  2. Nossa, o livro parece ser bem interessanote! Gosto desse tipo de leitura, que você lê e consegue sentir o que o autor quis passar! Parabéns, ótima resenha!
    Letícia
    Naparededoquarto.blogspot.com

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  3. Parece ser bem legal *-* Mas fico meio com pé atrás porque acabei de ler um livro que fala de um mundo diferente e me decepcionei demais >< Acho que traumatizei, aouiehaoeihaoei. Talvez, se eu superar esse trauma que foi Oldar eu consiga pegar Sete dias no Etar pra ler :P Amei sua resenha!!!

    Beijos, nanda.
    www.julguepelacapa.blogspot.com

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  4. Caramba que história interessante, agora estou aqui roendo as unhas de curiosidade pra saber se o garoto morre ou não no final, pq eu fujo de finais tristes. Mas gostei da história sim e, concordo com a beleza da capa. A resenha ficou profunda, mas para compreende-la melhor só lendo o livro msm.

    Parabéns!

    Beijos
    BabihGois
    http://babihgois.blogspot.com

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  5. Que capa é essa, wtf! *------*
    adorei a resenha, não conhecia o autor.
    Blog sobre livros salva minha vida hehehe
    abraço!

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  6. Nossa, a capa é realmente linda. *OOO*
    Com essa resenha, você me deixou super interessado no livro. É bom saber que o livro tem suas partes mais do que assustadoras. Aliás, não se preocupe, deu para perceber a profundidade do livro. Já está adicionado na minha lista de leitura. <3

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  7. Eu nunca tinha ouvido falar desse livro e desse autor, e olha que conheço vários livros que são lançados pelo selo Novos Talentos da Literatura Brasileira.

    Fiquei feliz em ler essa resenha tão positiva, e ainda conhecr mais um trabalho aparentemente maravilhoso de um autor nacional.

    E pela temática dramática e emocionante, tenho certeza que vou me sensibilizar muito ao ler esse livro.

    A capa é muito bonita também!!!

    Parabéns pela resenha!

    Beijinhos

    Ler e Almeiar

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  8. Ler esse livro, veio como impulso após ler sua resenha, e você tinha razão em cada colocação,curte muito e fiquei encantada , já na expectativa de ler o segundo.
    É entusiasmador, ver NOVO TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA, surgirem e conquistarem seu espaço e blogs como esse apoiando e levantando essa bandeira a favor de uma literatura nacional com qualidade,parabéns a ambos,blog e autor.

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