Músicas citadas em livros: como você as trata?

Não sei se vocês concordam comigo, mas eu acho interessantíssimo quando os livros citam artistas ou músicas em determinadas partes de suas tramas. Além de, é claro, expandir os horizontes musicais de quem está lendo, essas referências são responsáveis por mostrar ao leitor toda a atmosfera da cena.

O chato é que nem sempre temos o hábito de tomar notas dessas alusões musicais. Na maioria das vezes, continuamos a ler como se nenhuma sugestão tivesse sido dada, e podemos acabar por perder um conteúdo de primeira linha. Uma música pode funcionar como pano de fundo, abraçando uma parte da história escrita e intensificando-a de forma indescritível.

Atualmente, estou lendo O Pacto, do escritor Joe Hill. Esse livro foi publicado pela Sextante e, daqui a poucos dias, vocês encontrarão uma resenha do mesmo aqui no blog. Mas, enquanto não finalizo a leitura, gostaria de compartilhar com vocês algumas citações musicais que o autor faz. Vamos ao primeiro trecho?

Se agora Ig sentia ódio de Merrin, era só porque tinha descoberto que ela é uma pessoa real, com falhas, necessidades e um desejo de viver no mundo e não no sonhos dele. Ela o amava o bastante para deixá-lo ir e ele deveria estar disposto a fazer o mesmo, pois, se você ama uma pessoa, tem que deixá-la livre e... porra, isso é a letra de "If You Love Someone, Set Them Free", do Sting.

Vocês percebem como a simples referência ao título da  música expressa perfeitamente a situação descrita na cena? É ainda mais inteligente por parte do autor recorrer a um artista famoso, como o Sting, consagrado na banda The Police. Sendo Sting uma personalidade musical tão conhecida, é provável que muitos leitores desse livro tenham se identificado mais ainda com esse trecho ao ver a referência musical.

Clique aqui para ouvir "If you love someone, set them free".

Vamos ao segundo trecho:

- Gostei do AC/DC - disse Lee. - Se fosse atirar em alguém, sem dúvida ia querer estar ouvindo aquela música.

- E o que achou dos Beatles? Ficou com vontade de atirar em alguém enquanto ouvia?

Lee pensou seriamente por um momento e depois disse:

- Em mim mesmo.

E aconteceu de novo! Joe Hill mais uma vez recorreu a dois artistas famosíssimos - AC/DC e Beatles - para reforçar as intenções e as ideologias de seus personagens. É muito parecido com o que acontece quando um autor compara um pôr-do-sol a uma pintura de um famoso pintor, por exemplo. A intertextualidade é um dos mais interessantes recursos da nossa Língua, e é importante que tenhamos em mente que uma menção nunca é feita por acaso.

Não sou do tipo que escuta AC/DC e Beatles frequentemente, mas há alguns clássicos que desde sempre habitam as nossas mentes. TNT, da primeira banda, por exemplo, tem um clima explosivo e agitado, e poderia perfeitamente ser a trilha sonora de uma cena de perseguição policial ou de tiroteio - quem sabe até de um assassinato, como diz Lee no trecho que destacamos. For no one, dos Beatles, por outro lado, é uma canção com uma letra melancólica, ideal para um clima nublado. A menção feita por Lee não foi por acaso. Veja abaixo um trecho traduzido de For no one:

Você a quer, você precisa dela,

No entanto você já não acredita nela

Quando ela diz que seu amor já morreu,

Você pensa que ela precisa de você

E nos olhos dela você não vê nada,

Nenhum sinal de amor atrás das lágrimas choradas por ninguém,

Um amor que devia ter durado anos.

Clique aqui para ouvir "TNT"

Clique aqui para ouvir "For no one"

Em resumo, a intenção desse post é dizer a vocês que as músicas mencionadas pelos autores em suas obras são sim de fundamental importância! Se você não estiver com tempo para pesquisar sobre um artista mencionado na hora, faça uma nota rápida e dê uma olhada mais tarde! Isso, além de te aproximar mais ainda do livro, fará com que você conheça novas bandas e canções, aumentando o seu leque de apreciação musical.

E se você tem alguma referência musical feita em livros a nos contar, por favor o faça nos comentários!